sábado, 29 de junho de 2013

O bombardeio manipulativo da grande mídia elitista

Bombas semióticas explodem na mídia


Paralela à escalada de manifestações no País, nesse momento em cada redação de um veículo de comunicação e em cada cobertura jornalística nas ruas está sendo travada uma verdadeira guerrilha semiótica: um enorme aparato de recursos bélicos retóricos, linguísticos e semiológicos está sendo mobilizado para saturar fotografias e vídeos com significações que apontam para uma estratégia discursiva bem evidente: a imagens devem ser testemunhas da instabilidade, caos e baderna que dominaria a Nação. Encontramos duas “bombas semióticas” (uma no Portal Terra e outra na autodenominada “edição histórica” da revista Veja) e tentamos desmontá-las em um exercício de engenharia reversa. Bombas camufladas em informação, mas que explodem para criar ondas de choque de um tipo de propaganda baseada no esvaziamento de dois símbolos: a da “bandeira nacional” e o do “manifestante”.
Junto com as manifestações nas ruas de várias cidades no País, está ocorrendo uma guerrilha de um tipo muita especial: uma guerrilha semiótica nas mídias. Depois da primeira semana em que se viram perplexos diante das manifestações que saíram do script do jogo político-institucional e reponderam de uma forma reflexa (taxando os manifestantes de “criminosos” e “politicamente burros”) os meios de comunicação monopolistas encontraram uma narrativa em que podiam ser encaixados os acontecimentos: o roteiro da escalada da instabilidade, descontrole e baderna que estaria minando o governo federal.
Para tanto, nesse momento está sendo mobilizando um impressionante aparato retórico, linguístico e semiótico em fotografias e vídeos. Uma mobilização talvez somente comparável às estratégias discursivas de períodos de guerra como a propaganda política norte-americana e nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Revista "Veja", edição 2327.
Capas de revistas semanais, portais de internet e imagens de TV transbordam de efeitos retóricos e linguísticos, tornando as imagens carregadas e propagandísticas de uma forma tão explícita que é incrível que leitores, telespectadores e internautas não se insurjam contra um produto que diz informar quando, na verdade, é propaganda travestida de notícia.
Para fins didáticos, vamos tentar desmontar duas “bombas semióticas” que se destacaram na blitzkrieg midiática dos últimas dias: primeiro a capa da “edição histórica” (como se autodenominou a revista Veja n° 2327) com o título “Os sete dias que mudaram o Brasil” e o printscreen de um flagrante do portal Terra acessado em 27/06 onde vemos uma chamada com o título “BH se despede de teste com morte, terror nas ruas e sopro de futebol” – veja as imagens ao lado e abaixo.


Portal Terra acessado em 27/06
Dessimbolização
Os primeiros elementos que chamam a atenção nas duas fotos são a bandeira nacional e as figuras solitária de manifestantes.  Esses dois elementos são tradicionalmente dominantes no fotojornalismo centrado em passeatas e manifestações: são sempre destacados como símbolos. Todo símbolo evoca uma força de reconciliação, prenuncia a reunificação de “restos” espalhados pelo mundo. A bandeira nacional é a Nação, a unificação das diferenças étnicas, de classe e geográficas através da força de um pacto. E os manifestantes tradicionalmente são mostrados em conjunto como nas fotos clássicas das manifestações de Maio de 1968 na França, a caminhada dos 100 mil no Brasil contra a ditadura militar etc. Grandes multidões de manifestantes, em movimento ou portando cartazes e faixas, são a materialização de símbolos ideológicos e políticos.
Mas nessas “bombas linguísticas” temos uma espécie de regressão semiótica do símbolo para o índice. A bandeira que vemos nas fotos não é mais um símbolo de unificação, mas um índice de abandono e esgarçamento. Na foto da Veja ela remete ainda a uma regressão intermediária – de símbolo a ícone como “manto” sobre o corpo do manifestante – mas as franjas nas bordas sugerem retoricamente uma bandeira com tecido esgarçado ou rasgado. Ou seja, índices de descontrole e instabilidade, a bandeira vítima da violência e caos.
Na foto do portal Terra a bandeira está jogada, parece cobrir alguma coisa ou está estendida, com o lema “ordem e progresso” invertido. Novamente índices de abandono e enfraquecimento de um outrora símbolo de unificação.
Os manifestantes estão solitários e impotentes: na capa da Veja uma jovem caminha para frente, mas olha para o lado. Sabemos que em jornalismo noticiar que milhares morreram ou ficaram feridos pouco sensibiliza os receptores. Porém se for destacado um caso individual, o impacto será muitas vezes maior. Mas nessas fotos temos algo diferente: o manifestante solitário transmite, novamente, índices do descontrole e instabilidade. No portal Terra, o manifestante está curvado diante da destruição e chamas.
Esse mecanismo de regressão do símbolo para o índice (dessimbolização) tem na atualidade uma força muito grande, principalmente pela sintaxe metonímica do discurso publicitário no qual os jovens estão bem inseridos como consumidores. Se no símbolo temos a ideia que remete a outra coisa por meio da analogia, metáfora ou alegoria, na metonímia temos uma contiguidade (aproximação) entre o índice e a representação de um objeto mais geral já presente na mente do intérprete. Se o texto ou as chamadas falam em “terror nas ruas” e “morte”, a apresentação de antigos elementos simbólicos como a bandeira e o manifestante serão esvaziados de seu simbolismo (Nação e União, respectivamente) para serem apresentados como evidências ou sintomas de um clima mais geral de desordem e caos: em ambas as fotos a bandeira colocada em uma zona de penumbra (futuro tenebroso?), cobrindo algo, jogada ou esfarrapada; e o manifestante solitário, impotente e não mais mostrado em grupo demonstrando força e convicção.
Não é por acaso que, de repente, slogans usados pelos jovens manifestantes são referências a slogans publicitários como “O Gigante Acordou” (da campanha do Johnny Walker): em um ambiente semiótico tão dessimbolizado, a aproximação metonímica com os “símbolos” publicitários torna-se automática.
O Amarelo

O amarelo: na psicologia das cores, é a cor
mais contraditória


Outra coisa que chama a atenção é o domínio da cor amarela, seja na matiz da fotografia como nas chamas que eclodem da destruição que domina a composição fotográfica.
Segundo a psicóloga alemã Eva Heller no seu livro Psicologia das Cores – sentimentos, impressões e simbologia, o amarelo é a cor com um imaginário mais contraditório: otimismo e ao mesmo tempo ciúme. É a cor da diversão e entendimento, mas por outro lado é também da traição. Vai do amarelo ouro ao amarelo enxofre, do nobre ao mal cheiroso e demoníaco. Em combinação com o preto como no caso da foto do portal Terra inspiraria sentimentos negativos como traição e mentira.
 
É a cor da ameaça (por exemplo, “a ameaça amarela”, para designar a China ou como o “povo amarelo” era encarado nos EUA, como estrangeiros dissimulados e traiçoeiros). O amarelo ouro da bandeira é neutralizado na penumbra para dominar a composição o amarelo enxofre para dar uma atmosfera infernal, reforçando o efeito retórico geral de descontrole, instabilidade e caos.

Composição


Os elementos principais das fotos (manifestante e bandeira) estão em contra luz, reforçando ainda mais o processo de dessimbolização descrito acima, onde bandeira e manifestante são colocados solitários para criar o índice do abandono e impotência.

Os enquadramentos estão inclinados para a esquerda (no caso da Veja, uma inclinação mais leve), em um clássico recurso da linguagem visual dos filmes policiais ou thrillers para reforçar uma situação de risco, desequilíbrio e ameaça latente.

Por isso, a composição é tão saturada que já deixou de ser fotojornalismo ou mesmo “foto-choque” da antiga “imprensa marrom”: são explicitamente posadas em uma decupagem cênica onde os elementos parecem com uma posição marcada como em um palco de teatro. Explícitamente perderam a natureza espontânea de flagrante para se constituírem em fotos posadas e meticulosamente compostas a partir de clichês da galeria de imagens seja da cabeça do fotógrafo ou de editores.

Duplo vínculo na comunicação visual


Um cenário pós-apocalipse divide tranquilamente o
espaço com a normalidade rotineira dos anúncios
O antropólogo e psiquiatra inglês Gregory Bateson costumava definir o problema do esquizofrênico como uma questão de comunicação: ele não conseguia entender certas ciladas lógicas que a nossa linguagem cria que ele chamou de “duplo vínculo”: se uma mãe nervosa ralha com a criança que não para de falar na refeição dizendo “fecha a boca e come”, a criança poderá não compreender as dupla mensagem contraditória (como posso fechar a boca e comer ao mesmo tempo?), entrando num estado de paralisia sem entender a conotação da frase.

Pois igualmente essas fotografias estão imersas em uma dupla mensagem contraditória entre textos e a retórica/disposição semiótica das fotografias, resultando numa interpretação esquizo por parte do receptor.

A capa da Veja fala em fala em “sete dias que mudaram o Brasil”, mas na composição e retórica fotográfica passa a ideia geral de medo, insegurança e impotência. Bem diverso do tom heroico e “histórico” que o texto comunica. Enquanto isso no Portal Terra a fotografia alarmista e aterrorizante compartilha o espaço confortavelmente com anúncios de TV por assinatura, tênis e aparelhos de TV. Se na fotografia temos um cenário de um típico filme “pós-apocalipse” hollywoodiano, no entorno do espaço gráfico há uma normalidade cotidiana contraditória.

Se para Bateson, o duplo vínculo produz uma situação onde o esquizofrênico não consegue compreender simbolismos, metáforas ou conotações e reduz-se à literalidade da linguagem (comer de boca fechada é impossível), da mesma forma os intérpretes dessas fotos tendencialmente vão dessimbolizá-las, reduzindo-as à literalidade do que veem: índices, pistas, evidências do caos e da baderna que tomou conta do País. Sabemos que a repercussão política desse diagnóstico chapado de uma conjuntura pode resultar em apoio das massas a medidas bem drásticas e nefastas.

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Mesmo após desarmarmos essas duas bombas semióticas, não podemos garantir que não explodirão: elas já foram detonadas e continuam explodindo no campo da opinião pública! O que nos leva a duas hipóteses:

(a) apesar do aspecto retoricamente carregado, não espontâneo e posado dessas fotos, elas têm força graças ao senso comum que possuímos em relação às fotografias, tidas como decalques da realidade, e não um exercício arbitrário de intencionalidade do fotógrafo.

(b) a força dessas bombas semióticas é também um sintoma do monopólio midiático: esta retórica e composição visual é tão comum e clichê em qualquer mídia que se tornou naturalizado e autoevidente.

Entrevista com Daniel Guimarães, do Movimento Passe Livre, MPL

"MPL se coloca dentro do campo da esquerda no processo político", diz Daneil Guimarães, do MPL



ESCRITO POR GABRIEL BRITO E PAULO SILVA JUNIOR, DA REDAÇÃO   
SEXTA, 28 DE JUNHO DE 2013


Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8551:mpl-se-coloca-dentro-do-campo-da-esquerda-no-processo-politico&catid=72:imagens-rolantes

Indiscutível impulsionador da explosão de protestos pelo país, o Movimento Passe Livre (MPL) agora se depara com uma exposição inédita, chegando até ao próprio gabinete da presidência da República. Com a chuva de pautas que se somaram às reivindicações em torno do transporte coletivo, o próximo momento aparenta ser de reflexão e reorganização das lutas que eclodiram em meio a Copa das Confederações da FIFA.

Diante disso, o Correio da Cidadania, em parceria com a webrádio Central 3, entrevistou Daniel Guimarães, integrante do movimento, com vistas também a debater um posicionamento político mais profundo, uma vez que diversas questões sociais, finalmente, dominaram a ordem do dia. Na sequência, virão entrevistas com ativistas de outros movimentos sociais de viés progressista.

Para Daniel, “o que acontece é reflexo do processo conduzido pelo governo federal e a FIFA, à revelia dos interesses populares, atacando interesses da população, retirando o direito de livre manifestação das pessoas, chegando até a remoções forçadas de pessoas de suas moradias, e colocando dinheiro público pra financiar um evento privado. Agora, a conta começa a chegar”.

Com um novo tempo de lutas no horizonte, ele frisa que “o MPL se reivindica na tradição de lutas de esquerda, de lutas pelos interesses da população, daqueles ‘de baixo’, contra a ofensiva do capitalismo, do Estado e da violência”. Sobre os transportes, após a primeira vitória com a revogação do aumento da tarifa, avisa que o movimento seguirá pautando o tema, inclusive com um projeto de lei de iniciativa popular em nome da tarifa zero.

A entrevista completa com Daniel Guimarães pode ser lida a seguir.
Correio da Cidadania: Como o movimento recebeu a vitória da redução da tarifa de ônibus, metrô e trens em São Paulo? Como está enxergando o momento e digerindo toda essa exposição?

Daniel Guimarães: Na verdade, não foi a primeira vez que conquistamos a revogação de aumento, já houve outras revogações pelo Brasil, em momentos anteriores. Mas em São Paulo foi a primeira vez, o que tem um impacto muito importante por ser a maior cidade do Brasil. Um passo muito importante, não só pro MPL, mas para toda a esquerda, que não necessariamente está acostumada a vencer o enfrentamento por melhores condições de vida e avanços em suas pautas. Não é todo dia que acontece e acho que tem um fator pedagógico muito importante nisso.

Correio da Cidadania: O que vocês estão achando do momento político, após essas semanas de manifestações massivas? Houve um arrefecimento?

Daniel Guimarães: Penso que essas manifestações foram realmente muito inesperadas. Inclusive, saíram do campo da esquerda, chegando um certo momento em que houve receio de que grupos de direita pudessem se beneficiar das manifestações de massa. Mas podemos observar que, onde houve vitória, foi vitória de esquerda, no caso, as revogações dos aumentos das tarifas de transporte – em mais de 50 cidades do Brasil, entre elas 11 capitais.

E quando os grupos de esquerda se retiraram da luta, pra poderem refletir e darem continuidade às suas pautas, as manifestações de massa que a grande imprensa foi chamando, e tentando enquadrar na sua própria agenda, contra o governo do PT, foram minguando. Parece ser o que acontece em São Paulo e começa a ocorrer no Brasil.

Correio da Cidadania: Como vocês têm visto os massivos protestos nas cidades que sediaram a Copa das Confederações? Como você acha que os acontecimentos vão se desenvolver após o fim deste evento teste para a Copa de 2014?

Daniel Guimarães: Primeiramente, o que acontece agora é reflexo do processo conduzido pelo governo federal e a FIFA, à revelia dos interesses populares, atacando interesses da população, retirando o direito de livre manifestação das pessoas, chegando até a remoções forçadas de pessoas de suas moradias, e colocando dinheiro público pra financiar um evento privado.

Agora, a conta começa a chegar. Acredito que, ao fim da competição, provavelmente os grupos dedicados a tais questões vão avaliar suas participações, intensificar seus debates e fazer a disputa de ideias dentro da sociedade.

Ano que vem tem a Copa do Mundo e eu não consigo imaginar que, durante sua realização, haverá silêncio. A tendência é que esses processos de luta se intensifiquem, durante o grande momento que representa a Copa do Mundo.

Correio da Cidadania: Como o MPL está se preparando para continuar a luta pela tarifa zero?

Daniel Guimarães: Já temos, há algum tempo, um projeto de lei de iniciativa popular que precisa de 430 mil assinaturas pra ser protocolado na Câmara dos Vereadores. Já tínhamos iniciado a campanha de coleta de assinaturas. Agora, depois desse processo, que impulsionou tanto o nome do MPL como o debate da tarifa zero, iremos retomar a questão.

Vamos nos organizar no próximo mês pra definir como será a nova jornada de mobilização, mas a ideia agora é fazer o projeto acontecer, tramitar na Câmara e “esperar” o tempo que for necessário para conquistar a tarifa zero na cidade de São Paulo.

Correio da Cidadania: Além da tarifa zero, que outras bandeiras devem entrar na agenda do movimento? A pauta da estatização do transporte público não se coloca como necessária, mediante posturas como a de governantes que declararam precisar cortar investimentos pra baixar as tarifas?

Daniel Guimarães: Temos essa discussão (da estatização) também. Existem vários nomes e denominações para aquilo que defendemos. Isto é, a gestão do sistema de transporte coletivo público tem de ser uma responsabilidade do poder público, não de empresas privadas. E com participação popular direta e deliberativa, definindo como seria o sistema: onde vai ter ônibus, por que terá ônibus em tal lugar, a quantidade de veículos... Essas coisas não podem ficar nas mãos de empresa privada.

O Haddad cancelou a licitação que previa entrada de novas empresas na gestão do transporte coletivo, mas, além de todas as mobilizações que forçaram o prefeito a tomar essa decisão, os próprios empresários estavam pressionando-o, por considerarem que o modelo apresentado pela prefeitura reduziria o lucro deles em 10%. E eles estavam dispostos a entregarem envelopes em branco na licitação, como forma de protesto e boicote, ameaçando retirar alguma quantidade de ônibus das ruas. Isso é um exemplo claro de por que não se pode ter empresas privadas determinando o funcionamento do sistema de transporte na cidade.

Se o nome disso é municipalização ou estatização, trata-se de uma discussão que fica em segundo plano, no momento em que vamos nos aprofundar num modelo específico possível e adequado para o movimento e os demais grupos que quiserem nos apoiar nisso. O importante é que seja voltado ao interesse público, e não privado.

Correio da Cidadania: Que avaliação você faz dos últimos encontros com o executivo, de todas as esferas - primeiro, encontro com a Dilma em Brasília; depois, decisão do Alckmin após encontro com o MTST?

Daniel Guimarães: Antes de tudo, eles tiveram de ceder esses espaços. Eles não procuraram os movimentos, no primeiro momento, para uma conversa. Pelo contrário, afastaram-se de tais questões, diziam com todas as letras que eram pautas impossíveis, desqualificavam os movimentos, chamando-nos de baderneiros, vândalos, tentando nos criminalizar.

Por conta da pressão popular, maciça, tiveram de dar passos para trás, dentro daquela famosa idéia de que, na hora do aperto, eles entregam os anéis para não perderem os dedos. Passou muito por aí a questão, tanto na prefeitura como no governo estadual.

Na esfera federal, creio que houve outro componente. O governo federal se viu na obrigação de responder com uma “agenda positiva”. O MPL sequer estava nas ruas se manifestando quando a presidente convidou o movimento para ouvir as nossas propostas. Algumas, ela nem entendeu, o que foi engraçado. A presidente não se preparou para discutir tarifa zero e transporte público.

Mas não pensamos que o movimento foi chamado só porque tem boas ideias ou se organiza em torno disso há muito tempo. Foi, sim, porque conseguiu, ao lado de várias outras organizações, construir uma pressão popular, e só ela é capaz de fazer um cenário político aparentemente estabilizado sofrer uma reviravolta.

Correio da Cidadania: O MPL pretende declarar publicamente uma posição política mais clara, diante da variedade de pautas colocadas pela mídia corporativa e em função de ofensivas da direita?

Daniel Guimarães: Por enquanto, não há uma discussão a respeito disso. O movimento se reúne constantemente, mas estamos no turbilhão de oferecer respostas à questão do transporte. Porém, algo que é bom deixar claro é que o MPL se coloca dentro do campo da esquerda no processo político. O MPL se reivindica na tradição de lutas de esquerda, de lutas pelos interesses da população, daqueles “de baixo”, contra a ofensiva do capitalismo, do Estado e da violência.

Ainda que estejamos focados em nossa pauta, a questão do transporte, e não tenhamos levantado certas bandeiras em conjunto, levamos em nossa carta à Dilma uma série de reivindicações de outros movimentos, inclusive exigindo o fim da violência do Estado contra populações indígenas e as lutas dos trabalhadores.

Correio da Cidadania: Quanto aos presos políticos, o MPL está buscando alguma forma de solução e negociação conjunta de sua condição?

Daniel Guimarães: Sim, o movimento presta apoio aos detidos. Não existe nenhum preso agora, estão todos soltos, mas alguns podem vir a ser processados por formação de quadrilha. Estamos lutando, coletivamente, claro, e dando suporte para que o judiciário sequer leve em conta tais acusações, antes que se tornem um processo criminal. E pode ser, sim, que a gente consiga isso.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Leonardo Boff e o recado das manifestações



Estive fora do pais, na Europa, a trabalho e constatei o grande interesse que todas  as midias daqui conferem às manifestações no Brasil. Há bons especialistas na Alemanha e França que emitem juízos pertinentes. Todos concordam nisso, no caráter social das manifestações, longe dos interesses da política convencional. É o triunfo dos novos meios e congregação que são as midias sociais.

 O grupo da libertação e a Igreja da libertação sempre mantiveram viva a memória antiga do ideal da democracia, presente nas primeiras comunidades cristãs até o século segundo pelo menos. Repetia-se o refrão clássico:”o que interessa a todos, deve poder ser discutido e decidido por todos”. E isso funcionava até para a eleição dos bispos e do Papa. Depois se perdeu esse ideal nas nunca foi totalmente esquecido: o ideal democrático de ir além da democracia delegatícia ou representativa e chegar à democracia participativa, de baixo para cima, envolvendo o maior número possível de pessoas, sempre esteve presente no ideário dos movimentos sociais, das comunidades de base, dos Sem Terra e de outros.
  Mas nos faltavam os instrumentos para implementar efetivamente essa democracia universal, popular e participativa. Eis que esse instrumento nos foi dado pelas redes das várias mídias sociais. Elas são sociais, abertas a todos. Todos agora tem um meio de manifestar sua opinião, agregar pessoas que assumem a mesma causa e promover o poder das ruas e das praças.
  O sistema dominante ocupou todos os espaços. Só ficaram as ruas e as praças que por sua natureza são de todos e do povo. Agora surgiram a rua e a praça virtuais, criadas pelas mídias sociais. O velho sonho democrático segundo o qual o que interessa a todos, todos tem direito de opinar e contribuir para alcançar um objetivo comum, pode em fim ganhar forma.

 Tais redes socias podem desbancar ditaduras como no Norte da Africa, enfrentar regimes repressivos como na Turquia e agora mostram no Brasil que são os veículos adequados de revindicações sociais,sempre feitas e quase sempre postergadas ou negadas:  transporte de qualidade (os vagões daCentral do Brasil tem quarenta anos), saúde, educação, segurança, saneamento básico. São causas que tem a ver com a vida comezinha, cotidiana e comum à maoria dos motais. Portando, coisas da Política em maiúsculo.

 Nutro a convicção de que a partir de agora se poderá refundar o Brasil a partir de onde sempre deveria ter começado, a partir do povo mesmo que já encostou nos limites do Brasil feito para as elites. Estas costumavam fazer políticas pobres para os pobres e ricas para os ricos. Essa lógica deve mudar daqui para frente.

 Ai dos políticos que não mantiverem uma relação orgânica com o povo. Estes merecem ser varridos da praça e das ruas.

Escreveu-me um amigo que elaborou uma das interpretações do Brasil mais originais e consistentes, o Brasil como grande feitoria e empresa do Capital Mundial,Luiz Gonzaga de Souza Lima.  Seu livro se intituia: “A refundação do Brasil: rumo à sociedade biocentrada” ( RiMa, S.Bernardo-SP, 2011). Permito-me citá-lo: ”Acho que o povo esbarrou nos limites da formação social empresarial, nos limites da organização social para os negócios. Esbarrou nos limites da Empresa Brasil. E os ultrapassou. Quer ser sociedade, quer outras prioridades sociais, quer outra forma de ser Brasil, quer uma sociedade de humanos, coisa diversa da sociedade dos negócios. É a Refundação em movimento”.

 Creio que este autor captou o sentido profundo e para muitos ainda escondido das atuais manifestações multitudinárias que estão ocrrendo no Brasil. Anuncia-se um parto novo. Devemos fazer tudo para que não seja abortado por  aqueles daqui e de lá de fora que querem recolonizar o Brasil e condená-lo a ser apenas um fornecedor de commodities para os países centrais que alimentam ainda uma visão colonial do mundo, cegos para os processos que nos conduzirão fatalmente à uma nova consciência planetária e a exigência de uma governança global.

 Problemas globais exigem soluções globais. Soluções globais pressupõem estruturas globais de implementação e orientação. O Brasil pode ser um dos primeiros nos quais esse inédito viável pode começar a sua marcha de realização. Dai ser importante não permitirmos que o movimento seja desvurtuado. Música nova exige um ouvido novo.

 Todos são convocados a pensar este novo, dar-lhe sustentabilidade e faze-lo frutificar num Brasil mais integrado, mais saudável, mais educado e melhor servido em suas necessidades básicas.


Leonardo Boff desde Munique/Paris 24/06/2013

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Marilena Chaui: "As manifestações de junho de 2013 em São Paulo



As manifestações de junho de 2013 na cidade de São Paulo



por Marilena Chaui, na revista Teoria e Debate

Observações preliminares

O que segue não são reflexões sobre todas as manifestações ocorridas no país, mas focalizam principalmente as ocorridas na cidade de São Paulo, embora algumas palavras de ordem e algumas atitudes tenham sido comuns às manifestações de outras cidades (a forma da convocação, a questão da tarifa do transporte coletivo como ponto de partida, a desconfiança com relação à institucionalidade política como ponto de chegada) bem como o tratamento dado a elas pelos meios de comunicação (condenação inicial e celebração final, com criminalização dos “vândalos”) permitam algumas considerações mais gerais a título de conclusão.

O estopim das manifestações paulistanas foi o aumento da tarifa do transporte público e a ação contestatória da esquerda com o Movimento Passe Livre (MPL), cuja existência data de 2005 e é composto por militantes de partidos de esquerda. Em sua reivindicação especifica, o movimento foi vitorioso sob dois aspectos: 1. conseguiu a redução da tarifa; 2. definiu a questão do transporte público no plano dos direitos dos cidadãos e, portanto, afirmou o núcleo da prática democrática, qual seja, a criação e defesa de direitos por intermédio da explicitação (e não do ocultamento) dos conflitos sociais e políticos.

O inferno urbano

Não foram poucos os que, pelos meios de comunicação, exprimiram sua perplexidade diante das manifestações de junho de 2013: de onde vieram e por que vieram se os grandes problemas que sempre atormentaram o país (desemprego, inflação, violência urbana e no campo) estão com soluções bem encaminhadas e reina a estabilidade política? As perguntas são justas, mas a perplexidade, não, desde que  voltemos nosso olhar para um ponto que foi sempre o foco dos movimentos populares: a situação da vida urbana nas grandes metrópoles brasileiras.

Quais os traços mais marcantes da cidade de São Paulo nos últimos anos e que, sob certos aspectos, podem ser generalizados para as demais? Resumidamente, podemos dizer que são os seguintes:
– explosão do uso do automóvel individual: a mobilidade urbana se tornou quase impossível, ao mesmo tempo em que a cidade se estrutura com um sistema viário destinado aos carros individuais em detrimento do transporte coletivo, mas nem mesmo esse sistema é capaz de resolver o problema;

– explosão imobiliária com os grandes condomínios (verticais e horizontais) e shopping centers, que produzem uma densidade demográfica praticamente incontrolável além de não contar com uma redes de água, eletricidade e esgoto, os problemas sendo evidentes, por exemplo, na ocasião de chuvas;

– aumento da exclusão social e da desigualdade com a expulsão dos moradores das regiões favorecidas pelas grandes especulações imobiliárias e o conseqüente aumento das periferias carentes e de sua crescente distância com relação aos locais de trabalho, educação e serviços de saúde. (No caso de São Paulo, como aponta Hermínia Maricatto, deu-se a ocupação das regiões de mananciais, pondo em risco a saúde de toda a população); em resumo: degradação da vida cotidiana das camadas mais pobres da cidade;

– o transporte coletivo indecente, indigno e mortífero.  No caso de São Paulo, sabe-se que o programa do metrô previa a entrega de 450 k de vias até 1990; de fato, até 2013, o governo estadual apresenta 90 k.

 Além disso, a frota de trens metroviários não foi ampliada, está envelhecida e mal conservada; além da insuficiência quantitativa para atender a demanda, há atrasos constantes por quebra de trens e dos instrumentos de controle das operações. O mesmo pode ser dito dos trens da CPTU, que também são de responsabilidade do governo estadual.

No caso do transporte por ônibus, sob responsabilidade municipal, um cartel domina completamente o setor sem prestar contas a ninguém: os ônibus são feitos com carrocerias destinadas a caminhões, portanto, feitos para transportar coisas e não pessoas; as frotas estão envelhecidas e quantitativamente defasadas com relação às necessidades da população, sobretudo as das periferias da cidade; as linhas são extremamente longas porque isso as torna mais lucrativas, de maneira que os passageiros são obrigados a trajetos absurdos, gastando horas para ir ao trabalho, às escolas, aos serviços de saúde e voltar para casa; não há linhas conectando pontos do centro da cidade nem linhas inter-bairros, de maneira que o uso do automóvel individual se torna quase inevitável para trajetos menores.

Em resumo: definidas e orientadas pelos imperativos dos interesses privados, as montadoras de veículos, empreiteiras da construção civil e empresas de transporte coletivo dominam a cidade sem assumir qualquer responsabilidade pública, impondo o que chamo de inferno urbano.

2. As manifestações paulistanas
A tradição de lutas

Recordando: A cidade de São Paulo (como várias das grandes cidades brasileiras) tem uma tradição histórica de revoltas populares contra as péssimas condições do transporte coletivo, isto é, a tradição do quebra-quebra quando, desesperados e enfurecidos, os cidadãos quebram e incendeiam ônibus e trens (à maneira do que faziam os operários no início da Segunda Revolução Industrial, quando usavam os tamancos de madeira – em francês, os sabots – para quebrar as máquinas – donde a palavra francesa sabotage, sabotagem). Entretanto, não foi este o caminho tomado pelas manifestações atuais e valeria a pena indagar por que. Talvez porque, vindo da esquerda, o MPL politiza explicitamente a contestação, em vez de politiza-la simbolicamente, como faz o quebra-quebra.

Recordando: Nas décadas de 1970 a 1990, as organizações de classe (sindicatos, associações, entidades) e os movimentos sociais e populares tiveram um papel político decisivo na implantação da democracia no Brasil pelos seguintes motivos:

1. introdução da idéia de direitos sociais, econômicos e culturais para além dos direitos civis liberais;
2. afirmação da capacidade auto-organizativa da sociedade;

3. introdução da prática da democracia participativa como condição da democracia representativa a ser efetivada pelos partidos políticos. Numa palavra: sindicatos, associações, entidades, movimentos sociais e movimentos populares eram políticos, valorizavam a política, propunham mudanças políticas e rumaram para a criação de partidos políticos como mediadores institucionais de suas demandas.

Isso quase desapareceu da cena histórica como efeito do neoliberalismo, que produziu:

1. fragmentação, terceirização e precarização do trabalho (tanto industrial como de serviços) dispersando a classe trabalhadora, que se vê diante do risco da perda de seus referenciais de identidade e de luta;

2. refluxo dos movimentos sociais e populares e sua substituição pelas ONGs, cuja lógica é distinta daquela que rege os movimentos sociais;

3. surgimento de uma nova classe trabalhadora heterogênea, fragmentada, ainda desorganizada e que por isso ainda não tem suas próprias formas de luta e não se apresenta no espaço público e que por isso mesmo é atraída e devorada por ideologias individualistas como a “teologia da prosperidade” (do pentecostalismo) e a ideologia do “empreendedorismo” (da classe média), que estimulam a competição, o isolamento e o conflito inter-pessoal, quebrando formas anteriores de sociabilidade solidária e de luta coletiva.
Erguendo-se contra os efeitos do inferno urbano, as manifestações guardaram da tradição dos movimentos sociais e populares a organização horizontal, sem distinção hierárquica entre dirigentes e dirigidos. Mas, diversamente dos movimentos sociais e populares,  tiveram uma forma de convocação que as transformou num movimento de massa, com milhares de manifestantes nas ruas.

O pensamento mágico

A convocação foi feita por meio das redes sociais. Apesar da celebração  desse tipo de convocação, que derruba o monopólio dos meios de comunicação de massa, entretanto é preciso mencionar alguns problemas postos pelo uso dessas redes, que possui algumas características que o aproximam dos procedimentos da midia:

a. é indiferenciada: poderia ser para um show da Madonna, para uma maratona esportiva, etc. e calhou ser por causa da tarifa do transporte público;

b. tem a forma de um evento, ou seja, é pontual, sem passado, sem futuro e sem saldo organizativo porque, embora tenha partido de um movimento social (o MPL), à medida que cresceu passou á recusa gradativa da estrutura de um movimento social para se tornar um espetáculo de massa. (Dois exemplos confirmam isso: a ocupação de Wall Street pelos jovens de Nova York e que, antes de se dissolver, se tornou um ponto de atração turística para os que visitavam a cidade; e o caso do Egito, mais triste, pois com o fato das manifestações permanecerem como eventos e não se tornarem uma forma de auto-organização política da sociedade, deram ocasião para que os poderes existentes passassem de uma ditadura para outra);

c. assume gradativamente uma dimensão mágica, cuja origem se encontra na natureza do próprio instrumento tecnológico empregado, pois este opera magicamente, uma vez que os usuários são, exatamente, usuários e, portanto, não possuem o controle técnico e econômico do instrumento que usam – ou seja, deste ponto de vista, encontram-se na mesma situação que os receptores dos meios de comunicação de massa.

A dimensão é mágica porque, assim como basta apertar um botão para tudo aparecer, assim também se acredita que basta querer para fazer acontecer. Ora, além da ausência de controle real sobre o instrumento, a magia repõe um dos recursos mais profundos da sociedade de consumo difundida pelos meios de comunicação, qual seja, a idéia de satisfação imediata do desejo, sem qualquer mediação;

d. a recusa das mediações institucionais indica que estamos diante de uma ação própria da sociedade de massa, portanto,  indiferente à determinação de classe social; ou seja, no caso presente, ao se apresentar como uma ação da juventude, o movimento  assume a aparência de que o  universo dos manifestantes é homogêneo ou de massa, ainda que, efetivamente, seja heterogêneo do ponto de vista econômico, social e político, bastando lembrar que as manifestações das periferias não foram apenas de “juventude” nem de classe média, mas de jovens, adultos, crianças e idosos da classe trabalhadora.

No ponto de chegada, as manifestações introduziram o tema da corrupção política e a recusa dos partidos políticos. Sabemos que o MPL é  constituído por militantes de vários partidos de esquerda e, para assegurar a unidade do movimento, evitou a referência aos partidos de origem.

Por isso foi às ruas sem definir-se como expressão de partidos políticos e, em São Paulo, quando, na comemoração da vitória, os militantes partidários compareceram às ruas foram execrados, espancados, e expulsos como oportunistas – sofreram repressão violenta por parte da massa. Ou seja, alguns manifestantes praticaram sobre outros a violência que condenaram na polícia.

A crítica às instituições políticas não é infundada, mas possui base concreta:

a. no plano conjuntural: o inferno urbano é, efetivamente, responsabilidade dos partidos políticos governantes;

b. no plano estrutural: no Brasil, sociedade autoritária e excludente, os partidos políticos tendem a ser clubes privados de oligarquias locais, que usam o público para seus interesses privados; a qualidade dos legislativos nos três níveis é a mais baixa possível e a corrupção é estrutural; como consequência,  a relação de representação não se concretiza porque vigoram relações de favor, clientela, tutela e cooptação;

c. a crítica ao PT:  de ter abandonado a relação com aquilo que determinou seu nascimento e crescimento, isto é, o campo das lutas sociais auto-organizadas e ter-se transformado numa máquina burocrática e eleitoral (como têm dito e escrito muitos militantes ao longo dos últimos 20 anos).

Isso, porém, embora explique a recusa, não significa que esta tenha sido motivada pela clara compreensão do problema por parte dos manifestantes. De fato, a maioria deles não exprime em suas falas uma análise das causas desse modo de funcionamento dos partidos políticos, qual seja, a estrutura autoritária da sociedade brasileira, de um lado, e, de outro, o sistema político-partidário montado pelos casuímos da ditadura. Em lugar de lutar por uma reforma política, boa parte dos manifestantes recusa a legitimidade do partido político como instituição republicana e democrática.

Assim, sob este aspecto, apesar do uso das redes sociais e da crítica aos meios de comunicação, a maioria dos manifestantes aderiu à mensagem ideológica difundida anos a fio pelos meios de comunicação de que os partidos são corruptos por essência.

Como se sabe, essa posição dos meios de comunicação tem a finalidade de lhes conferir o monopólio das funções do espaço público, como se não fossem empresas  capitalistas movidas por interesses privados.
Dessa maneira, a recusa dos meios de comunicação e as críticas a eles endereçadas pelos manifestantes não impediram que grande parte deles aderisse à perspectiva da classe média conservadora difundida pela mídia a respeito da ética.

De fato, a maioria dos manifestantes, reproduzindo a linguagem midiática, falou de ética na política (ou seja, a transposição dos valores do espaço privado para o espaço público), quando, na verdade, se trataria de afirmar a ética da política (isto é, valores propriamente públicos), ética que não depende das virtudes morais das pessoas privadas dos políticos e sim da qualidade das instituições públicas enquanto instituições republicanas.

A ética da política, no nosso caso, depende de uma profunda reforma política que crie instituições democráticas republicanas e destrua de uma vez por todas a estrutura deixada pela ditadura, que força os partidos políticos a coalizões absurdas se quiserem governar, coalizões que comprometem o sentido e a finalidade de seus programas e abrem as comportas para a corrupção.

Em lugar da ideologia conservadora e midiática de que, por definição e por essência, a política é corrupta, trata-se de promover uma prática inovadora capaz de criar instituições públicas que impeçam a corrupção, garantam a participação, a representação e o controle dos interesses públicos e dos direitos pelos cidadãos. Numa palavra, uma invenção democrática.

Ora, ao entrar em cena o pensamento mágico, os manifestantes deixam de lado que, até que uma nova forma da política seja criada num futuro distante quando, talvez, a política se realizará sem partidos, por enquanto, numa república democrática (ao contrário de uma ditadura) ninguém governa sem um partido, pois é este que cria e prepara quadros para as funções governamentais para concretização dos objetivos e das metas dos governantes eleitos.

Bastaria que os manifestantes se informassem sobre o governo Collor para entender isso: Collor partiu das mesmas afirmações feitas por uma parte dos manifestantes (partido político é coisa de “marajá” e é corrupto) e se apresentou como um homem sem partido. Resultado: a) não teve quadros para montar o governo, nem diretrizes e metas coerentes e b) deu feição autocrática ao governo, isto é, “o governo sou eu”. Deu no que deu.

Além disso, parte dos manifestantes está adotando a posição ideológica típica da classe média, que aspira por governos sem mediações institucionais e, portanto, ditatoriais. Eis porque surge a afirmação de muitos manifestantes, enrolados na bandeira nacional, de que “meu partido é meu país”, ignorando, talvez, que essa foi uma das afirmações fundamentais do nazismo contra os partidos políticos.

Assim, em lugar de inventar uma nova política, de ir rumo a uma invenção democrática, o pensamento mágico de grande parte dos manifestantes se ergueu contra a política, reduzida à figura da corrupção. Historicamente, sabemos onde isso foi dar.

E por isso não nos devem surpreender, ainda que devam nos alarmar, as imagens de jovens militantes de partidos e movimentos sociais de esquerda espancados e ensangüentados durante a manifestação de comemoração da vitória do MPL.

Já vimos essas imagens na Itália dos anos 1920, na Alemanha dos anos 1930 e no Brasil dos anos 1960-1970.

Conclusão provisória

Do ponto de vista simbólico, as manifestações possuem um sentido importante que contrabalança os problemas aqui mencionados.

Não se trata, como se ouviu dizer nos meios de comunicação, que finalmente os jovens abandonaram a “bolha” do condomínio e do shopping center e decidiram ocupar as ruas (já podemos prever o número de novelas e mini-séries que usarão essa idéia para incrementar o programa High School Brasil, da Rede Globo).

Simbolicamente, malgrado eles próprios e malgrado suas afirmações explícitas contra a política, os manifestantes realizaram um evento político: disseram não ao que aí está, contestando as ações dos poderes executivos municipais, estaduais e federal, assim como as do poder legislativo nos três níveis.
Praticando a tradição do humor corrosivo que percorre as ruas, modificaram o sentido corriqueiro das palavras e do discurso conservador por meio da inversão das significações e da irreverência, indicaram uma nova possibilidade de práxis política, uma brecha para repensar o poder, como escreveu um filósofo político sobre os acontecimentos de maio de 1968 na Europa.

Justamente porque uma nova possibilidade política está aberta, algumas observações merecem ser feitas para que fiquemos alertas aos riscos de apropriação e destruição dessa possibilidade pela direita conservadora e reacionária.

Comecemos por uma obviedade: como as manifestações são de massa (de juventude, como propala a mídia) e não aparecem em sua determinação de classe social, que, entretanto, é clara na composição social das manifestações das periferias paulistanas, é preciso lembrar que uma parte dos manifestantes não vive nas periferias das cidades, não experimenta a violência do cotidiano experimentada pela outra parte dos manifestantes.

Com isso, podemos fazer algumas indagações.

Por exemplo: os jovens manifestantes de classe média que vivem nos condomínios têm idéia de que suas famílias também são responsáveis pelo inferno urbano (o aumento da densidade demográfica dos bairros e a expulsão dos moradores populares para as periferias distantes e carentes)? Os jovens manifestantes de classe média que, no dia em que fizeram 18 anos, ganharam de presente um automóvel (ou estão na expectativa do presente quando completarem essa idade), têm idéia de que também são responsáveis pelo inferno urbano? Não é paradoxal, então, que se ponham a lutar contra aquilo que é resultado de sua própria ação (isto é, de suas famílias), mas atribuindo tudo isso à política corrupta, como é típico da classe média?
Essas indagações não são gratuitas nem expressão de má-vontade a respeito das manifestações de 2013. Elas têm um motivo político e um lastro histórico.

Motivo político: assinalamos anteriormente o risco de apropriação das manifestações rumo ao conservadorismo e ao autoritarismo. Só será possível evitar esse risco se os jovens manifestantes levarem em conta algumas perguntas:

1. estão dispostos a lutar contra as ações que causam o inferno urbano e, portanto, enfrentar pra valer o poder do capital de montadoras, empreiteiras e cartéis de transporte que, como todo sabem não se relacionam  pacificamente (para dizer o mínimo) com demandas sociais?

2. estão dispostos a abandonar a suposição de que a política se faz magicamente sem mediações institucionais?

3. estão dispostos a se engajar na luta pela reforma política, a fim de inventar uma nova política, libertária, democrática, republicana, participativa?

4. estão dispostos a não reduzir sua participação a um evento pontual e efêm
Zero e a não se deixar seduzir pela imagem que deles querem produzir os meios de comunicação?

Lastro histórico: quando Luiza Erundina, partindo das demandas dos movimentos populares e dos compromissos com a justiça social, propôs a Tarifa Zero para o transporte público de São Paulo, ela explicou à sociedade que a tarifa precisava ser subsidiada pela Prefeitura e que ela não faria o subsídio implicar em cortes nos orçamentos de educação, saúde, moradia e assistência social, isto é, dos programas sociais prioritários de seu governo.

Antes de propor a Tarifa Zero, ela aumentou em 500% a frota da CMTC (explicação para os jovens: CMTC era a antiga empresa municipal de transporte) e forçou os empresários privados a renovar sua frota.
Depois disso, em inúmeras audiências públicas, ela apresentou todos os dados e planilhas da CMTC e obrigou os empresários das companhias privadas de transporte coletivo a fazer o mesmo, de maneira que a sociedade ficou plenamente informada quanto aos recursos que seriam necessários para o subsídio.

Ela propôs, então, que o subsídio viesse de uma mudança tributária: o IPTU progressivo, isto é, o imposto predial seria aumentado para os imóveis dos mais ricos, que contribuiriam para o subsídio juntamente com outros recursos da Prefeitura.

Na medida que os mais ricos, como pessoas privadas, têm serviçais domésticos que usam o transporte público, e, como empresários, têm funcionários usuários desse mesmo transporte, uma forma de realizar a transferência de renda, que é base da justiça social, seria exatamente fazer com que uma parte do subsídio viesse do novo IPTU.

Os jovens manifestantes de hoje desconhecem o que se passou: comerciantes fecharam ruas inteiras, empresários ameaçaram lockout das empresas, nos “bairros nobres” foram feitas  manifestações contra o “totalitarismo comunista” da prefeita e os poderosos da cidade “negociaram” com os vereadores a não aprovação do projeto de lei.

A Tarifa Zero não foi implantada. Discutida na forma de democracia participativa, apresentada com lisura e ética política, sem qualquer mancha possível de corrupção, a proposta foi rejeitada.

Esse lastro histórico mostra o limite do pensamento mágico, pois não basta ausência de corrupção, como imaginam os manifestantes, para que tudo aconteça imediatamente da melhor maneira e como se deseja.
Cabe uma última observação: se não levarem em consideração a divisão social das classes, isto é, os conflitos de interesses e de poderes econômico-sociais na sociedade, os manifestantes não compreenderão o campo econômico-político no qual estão se movendo quando imaginam estar agindo fora da política e contra ela.

Entre os vários riscos dessa imaginação, convém lembrar aos manifestantes que se situam à esquerda que, se não tiverem autonomia política e se não a defenderem com muita garra, poderão, no Brasil, colocar água no moinho dos mesmos poderes econômicos e políticos que organizaram grandes manifestações de direita na Venezuela, na Bolívia, no Chile, no Peru, no Uruguai e na Argentina. E a mídia, penhorada, agradecerá pelos altos índices de audiência.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Reinaldo Azevedo, a expressão maior do fascismo direitista da Revista Veja




 A ânsia direitista e golpista da infelizmente famosa Revista Veja é conhecida. Contudo, poucas vezes foi tão claramente explicitada quanto nos diversos comentários de seus articulistas, de antes (como Diogo Maynard) e de agora, com Reinaldo Azevedo. Na verdade, este é tão escancaradamente elitista, reacionário e golpista que o filósofo e teólogo Leonardo Boff chegou a compará-lo ao besouro "Rola-Bosta" (veja em http://oespiritualismoocidental.blogspot.com.br/2012/12/leonardo-boff-oscar-niemeyer-veja.html).  Nas palavras de Leonardo Boff:

A figura que me ocorre deste articulista e da revista semanal, em versão online, é a do escaravelho, popularmente chamado de rola-bosta. O escaravelho é um besouro que vive dos excrementos de animais herbívoros, fazendo rolinhos deles com os quais, em sua toca, se alimenta. Pois algo semelhante fez o blog de Azevedo na VEJA online: foi buscar excrementos de 60 e 70 anos atrás, deslocou-os de seu contexto (ela é hábil neste método) e lançou-os contra Oscar Niemeyer. Ela o faz com naturalidade e prazer, pois, é o meio no qual vive e se realimenta continuamente. Nada de surpreendente, portanto.

Os dizeres e desdizeres dos "articulistas" de Veja, com a bênção do finado Robert "Murdoch" Civita, expressam muito bem a visão de Brasil e de povo das organizações do grupo Abril, que em nada difere do império dos Marinho em suas Organizações Globo  Mas melhor passarmos à palavra às próprias palavras escritas de Reinaldo Azevedo, como nesta passagem de seu "artigo" "É Lula de novo pela culpa do povo" (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/lula-novo-com-culpa-povo/):
Eu não tenho o menor interesse na opinião do povo. Quase sempre ele está errado. Aliás, a opinião de muito pouca gente me interessa. A democracia sempre foi salva pelas elites e posta em risco justamente pelo “povo”, essa entidade. Vai acontecer de novo. Lula, reeleito, tende a levar o país para o buraco. E uma elite política terá de ser convocada para impedir o desastre. O “povo”, nos assuntos realmente importantes, não apita nada. É uma sorte! Aqui e no mundo inteiro. Não apitou quando se fez o Plano Real. Ou nas privatizações. Teria votado contra a venda da Telebrás ou da Embraer. Junto com Lula. Estaríamos sem telefones e sem produzir aviões. Os petralhas sabem: fico aqui queimando as pestanas, tentando achar um jeito de eliminar o povo da democracia. Ainda não consegui. Quando encontrar, darei sumiço no dito-cujo em silêncio. Ninguém nem vai perceber… Povo pra quê?</blockquote>

O #ChangeBrazil foi montado e financiado por americanófilos e empresários

Postado em: 25 jun 2013 às 19:58
Marina Terra

#Changebrazil: “O que eu fiz foi uma tentativa de sujar o governo brasileiro no mundo”. Onda da desinformação se alastra velozmente na Web, aproveitando marcas de protesto em outras partes do mundo

“O que eu fiz foi uma tentativa de sujar o governo brasileiro no mundo, exatamente como o vídeo diz.” Assim definiu Thismr Maia, pseudônimo de Silvio Roberto Maia Junior, porta-voz do movimento Change Brazil, o objetivo dos vídeos que postou na Web, segundo o site Direto da Aldeia. Nascido em 14 de junho, no momento em que uma onda de manifestações eclodiu no país, o movimento vocalizou por meio de vídeos de Maia pedindo – em inglês – um pedido de “ajuda” internacional.
No vídeo, que já tem mais de um milhão de acessos no YouTube, Maia fala da repressão sofrida por manifestantes em 13 de junho. Nesse dia, a polícia militar, controlada pelo governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), reprimiu com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha o protesto, ferindo também jornalistas. Boa parte da mídia, que anteriormente havia criminalizado os protestos – especialmente por meio de editoriais raivosos pedindo a “retomada da Paulista” –, mudou completamente o tom e passou a defender o movimento Passe Livre.

Ali, naquele momento, nascia também o Change Brazil, ou #changebrazil. Nas redes sociais, pipocou um vídeo, em inglês, com legendas em inglês, que se intitulava “Please Help Us” (Por favor, nos ajude). Em um estúdio bem iluminado, em gravação de qualidade profissional, Maia começa falando sobre o aumento da tarifa de ônibus e imediatamente cita os levantes populares na Turquia e na Síria – “espontâneos”.


De fato, o caso turco foi rapidamente comparado ao brasileiro pela mídia brasileira e internacional, que apontou como o denominador comum o caos das grandes metrópoles. Manifestantes aqui e lá trocaram afagos, com brasileiros levando aos protestos bandeiras da Turquia e vice-versa. O premiê turco, Tayyip Erdogan, porém, avalia que não se trata de uma coincidência e que os dois países são alvo, na verdade, de conspiração internacional. Não está claro que haja uma articulação externa, mas a correia da desinformação gira velozmente na Web.
changebrazil facebook mentiras anonymous
(Imagem: Reprodução/Facebook)
O Anonymous Brasil, um perfil que, como o próprio nome indica, preserva a identidade de quem o dirige, precisou desmentir que tinha publicado um vídeo que também teve mais de um milhão de visitas, que elencaria cinco bandeiras do movimento que segue nas ruas. Entre os perfis que espalharam este vídeo, um deles, talvez o mais acessado, é assinado por “Dilma Bolada” — ao que tudo indica, um perfil no Youtube falso que se aproveita da popularidade da personagem, essencialmente pró-governo, do Facebook.
Falando rápido, Maia critica a mídia, pedindo que o espectador tenha em mente que a “verdade” sobre os protestos não será reportada nem no Brasil nem no exterior. Por isso a “boa ação” do vídeo. Ainda antes de completar um minuto de fala – o vídeo tem mais de cinco minutos –, Maia já condena a classe política brasileira e aponta que a motivação dos manifestantes é justamente um rechaço contra a roubalheira e má fé, generalizadas. Ele não menciona nomes de partidos ou políticos.
Nos protestos seguintes, coincidentemente, muitos gritos eram direcionados exatamente contra os políticos, vários pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em 17 de junho, a matriz foi repetida pelos apresentadores de telejornais, enquanto as imagens da multidão espalhada pelas ruas das principais cidades brasileiras eram transmitidas ao vivo. Alguns jornalistas, enquanto narravam “o despertar do Brasil”, se emocionaram. Poucos dias antes, os mesmos reclamavam do trânsito provocado pelos protestos do Passe Livre e chegavam a chamar alguns manifestantes de “vândalos”.
No dia seguinte, os principais jornais, como Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, seguiram disseminando o “basta” escutado nas ruas brasileiras. Não demorou para o espírito do Change Brazil se espalhar. Mais tarde, na quinta-feira passada, membros de partidos de esquerda foram agredidos na Avenida Paulista. Organizada pelo Passe Livre para comemorar a redução da tarifa, a manifestação logo perdeu o intuito inicial. “Sem partido” e “Aqui é Brasil” eram as consignas tanto dos agressores como do resto dos manifestantes, muitos enrolados na bandeira nacional, com pinturas em verde e amarelo no rosto.
change brazil facebook mundo
Foto simula Maia levando um tiro na cabeça de uma arma – desenhada na parede com as cores da bandeira dos Estados Unidos. (Facebook)
Também se ouviu “Quem não pula quer a Dilma”, adaptado do protesto pelo aumento da passagem do transporte público, “Quem não pula quer tarifa”. Com o aumento da violência nos protestos, cada dia mais numerosos, a presidente se dirigiu à nação em cadeia de rádio e TV, onde deixou claro seu respeito aos manifestantes pacíficos. Ela também se disse disposta a analisar todas as demandas apresentadas nas ruas. “Eu estou escutando vocês”, sublinhou Dilma.
Maia comemora o êxito. “Essa tática sempre funcionou bem historicamente. Como também diz no vídeo, a Dilma não pode deixar o Brasil ficar feio no mundo agora. Eu só queria trazer a atenção mundial para o Brasil, e junto com a companheira que não conheço, do vídeo ”No, I’m not going to the world cup”, tenho orgulho de dizer que conseguimos. Agora, com pressão internacional, a Dilma e companhia são mais obrigados a nos ouvir”, comemora o brasileiro, em entrevista dada ao Aldeia.
Ainda segundo ele, “historicamente, pressão mundial tem se provado extremamente eficaz em relação a mudar governos opressores. Recentemente pedi para pessoas mandarem outro vídeo nosso para organizações humanitárias, e agora fiquei sabendo que a Greenpeace tem se pronunciado sobre o que está acontecendo aqui também”. Após celebrar a grande adesão ao movimento, Maia lança a chantagem: “se a Dilma quer que sua administração seja vista favoravelmente, ela terá que nos ouvir”.
Uma visita à página no Facebook do porta-voz do Change Brazil nos revela ainda mais sobre esse curioso personagem, que sublinhou na entrevista ser contra governos repressores. A foto acima simula Maia levando um tiro na cabeça de uma arma – desenhada na parede com as cores da bandeira dos Estados Unidos. Os “miolos” também estão pintados nas cores azul e vermelha. No resto da página, mais fotos de armas, com mensagens apoiando o porte civil. “Quando eu falei ‘o Brasil terá que se dobrar’, é óbvio que eu me referia ao governo brasileiro, né. Pelo amor de deus, gente”, justifica o porta-voz do Change Brazil.
Ps de Pragmatismo Politico.: Jeferson Monteiro, autor do perfil original da personagem Dilma Bolada, entrou em contato para confirmar as informações da matéria. O jovem afirma que a o nome ‘Dilma Bolada’ foi utilizado por outro grupo para plagiar sua página original. A página falsa pertence a uma pessoa ligada à direção da juventude do PSDB e foi criada estrategicamente para pegar carona no sucesso da personagem original.
Marina Terra, Opera Mundi

#changebrazil: Leitores estranham conexões do “movimento”


publicado em 25 de junho de 2013 às 12:58
por Luiz Carlos Azenha 
Reproduzo, abaixo, informações que me foram repassadas pelos leitores, nos comentários ou no Facebook.
A marca #changebrazil apareceu na tela de um jogo entre Fluminense e Orlando City Soccer Club, de Orlando, na Flórida, na SporTV, segundo um leitor (partida disputada em 22.06.2013):
O dono do clube da Flórida é um milionário brasileiro apresentado no site do Orlando City Soccer Club como terceiro maior acionista da Abril Educação e dono da rede de escolas de inglês Wise Up:
O anúncio do contrato com a FIFA foi feito no mesmo dia do contrato da Globo Marcas.
A colocação das placas no estádio foi assumida pelo dono da Wise Up, em um perfil no Facebook:

O que nos leva a perguntar: como o #changebrazil pode falar mal do Brasil no Exterior, como no vídeo de um professor de inglês, postado no You Tube em 14.06.2013 e que teve centenas de milhares de acessos?
Como não há qualquer prova — pelo menos ainda — de conexão entre o milionário brasileiro e o professor de inglês autor do vídeo, fica o registro de pelo menos uma incoerência: detonar o Brasil no mundo não é a melhor forma de promover a Copa do Mundo de 2014, certo?

Irônico é notar que a Caixa Econômica Federal é uma das patrocinadoras das transmissões da SporTV onde o #changebrazil foi promovido.