sexta-feira, 28 de setembro de 2018

E se Bolsonaro ganha, Mourão governa?, por Fábio de Oliveira Ribeiro




  "Em 2018, o Brasil está sendo sacudido por uma disputa entre civilização e barbárie. Mas no polo da barbárie a disputa interna é crescente e evidente. A relação entre Mourão e Bolsonaro não é e nunca será tranquila, harmoniosa e produtiva como foi aquela que existiu entre Lula e José Alencar. Caso ambos sejam eleitos, se o capitão não se curvar ao general as coisas irão se complicar. Mourão já está deixando bem claro que pretende ser o verdadeiro “chefe de governo”, algo que inevitavelmente rebaixaria o novo presidente ao papel decorativo de “chefe de Estado”."



Bolsonaro ganha, Mourão governa?, por Fábio de Oliveira Ribeiro
A incontinência verbal do general vice já se tornou um problema para Bolsonaro. Cada vez que Mourão abre a boca ele enfia uma facada na própria candidatura e um prego no caixão eleitoral que está fabricando para o colega de chapa.
Acostumado a lidar com subalternos num ambiente hierarquizado, Mourão fala o que quer onde bem entende. Ele age como se estivesse num Quartel e presume que deve ser obedecido. Os descontentes têm, no máximo, o direito de ficar quietos e acatar suas determinações como ordens válidas e irrevogáveis.
Bolsonaro pediu para ele moderar, mas ele obviamente não obedeceu ao comando do líder da chapa. Onde já se viu um general abaixar a crista para capitão? 
Entre os militares as reclamações sobem e as ordens descem. O inverso não pode ocorrer, pois um comandante que se sujeita aos comandados, ou não disciplina a tropa, perde o comando dela. A inversão da hierarquia não se coaduna com a mentalidade militar. Mourão não é José Alencar.
O vice de Lula era um grande empresário e tinha, portanto, uma condição social melhor do que o líder petista. Mas ele não tinha uma mentalidade rígida. Ao contrário de Mourão, Alencar não viveu décadas confinado num ambiente social fechado em que a hierarquia e a disciplina são mais importantes do que as qualidades inatas ou adquiridas que distinguem e devem estabelecer precedências entre os lideres políticas.
José Alencar aceitava voluntariamente a liderança de Lula. Ao fazer isso, ele foi um vice-presidente brilhante e pode colocar toda sua experiência de empresário a serviço de um projeto de Brasil que deu certo. O vice de Lula pode ser considerado um dos responsáveis pelo crescimento acelerado do Brasil durante o Milagrinho.
Homem reservado e autoconfiante, José Alencar nunca exigiu homenagens públicas exageradas. Mesmo assim, Lula nunca deixou de retribuir e premiar a modéstia e a eficiência do vice diante das câmeras de TV. Mourão é diferente. Desde o momento que trocou a farda pela passarela da política, o general vice demonstrou que gosta de salamaleques e que se considera o verdadeiro comandante da tropa que levará Bolsonaro à presidência. Tanto que ele chegou a requerer na Justiça o direito de substituir o candidato a presidente nos debates televisivos.
Em 2018, o Brasil está sendo sacudido por uma disputa entre civilização e barbárie. Mas no polo da barbárie a disputa interna é crescente e evidente. A relação entre Mourão e Bolsonaro não é e nunca será tranquila, harmoniosa e produtiva como foi aquela que existiu entre Lula e José Alencar. Caso ambos sejam eleitos, se o capitão não se curvar ao general as coisas irão se complicar. Mourão já está deixando bem claro que pretende ser o verdadeiro “chefe de governo”, algo que inevitavelmente rebaixaria o novo presidente ao papel decorativo de “chefe de Estado”.
Bolsonaro aceitará ser subalterno do general vice? Até o presente momento o candidato tem dado a entender que não. Mas em algum momento ele pode se resignar, bater continência e dizer: “Sim senhor, general; o senhor manda”. Quando isso ocorrer o regime presidencial brasileiro deixará de existir, mas nós não estaremos vivendo num parlamentarismo.
O perigo da eleição da chapa Bolsonaro/Mourão, portanto, não é apenas econômico. As disputas entre ambos podem acelerar o processo de degradação do sistema constitucional erigido em 1988. O povo será definitivamente colocado para fora do cenário político. A predominância do ego do vice sobre o ego do presidente irá dar origem a uma nova forma de (de)governo muito diferente daquela que foi aprovada pelo povo no plebiscito de 1993. Não só isso.
Caso venha ocorrer uma ruptura entre Mourão e Bolsonaro após a vitória eleitoral, o general vice sempre terá precedência ao presidente. Afinal, quando os generais se reunirem para decidir o que fazer Mourão poderá falará com eles de igual para igual enquanto o Bolsonaro será sempre considerado um oficial subalterno descartável.

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