quinta-feira, 31 de julho de 2014

Israel e o nazijornalismo ocidental, por Fábio de Oliveira Ribeiro


O texto a seguir é de autoria de Fábio de Oliveira Ribeiro



Durante sua devastadora campanha aérea contra a Sérvia, a OTAN e os EUA bombardearam estações de TV e de rádio que existiam no país. A justificativa dada para atacar alvos civis foi absoltamente singela: as empresas de comunicação ajudavam a sustentar o regime infame de Radovan Karadžić que estava movendo uma guerra de conquista territorial mediante limpeza étnica.

Gaza tem sido diariamente bombardeada por Israel. Mais de mil de civis foram mortos, centenas de crianças inocentes tiveram suas vidas ceifadas em virtude de terem cometido apenas um crime: nascer em Gaza de pais palestinos. A Reuters e outras fábricas de consenso que ajudam a formatar a opinião global sobre o conflito geralmente justificam o "ponto de vista" israelense.

Quando não minimizam as baixas entre civis palestinos dizendo que os mortos e mutilados são "danos colaterais", os jornalistas culpam o Hamas por ter atacado Israel autorizando o país a contra-atacar. Os dois lados são tratados como se fossem iguais, muito embora Israel tenha centenas de aviões e tanques de guerra e Gaza não tenha nem mesmo armamentos para repelir os sofisticados e devastadores ataques mecanizados israelenses.

Apenas para exemplificar o modo de operar dos jornalistas brasileiras em favor de Israel citarei o caso do Jornal da Gazeta. Hoje o telejornal informou que bombas de israelenses caíram numa usina de energia elétrica de Gaza deixando os palestinos sem eletricidade. Disse também que o Hamas disparou mísseis contra alvos em Israel. O foco da matéria em relação aos palestinos foi a intenção do Hamas (chamado de grupo terrorista) de atingir alvos israelenses, mas a intenção de Israel de deixar quase toda população de Gaza sem eletricidade é disfarçada pelo discurso jornalístico. Ao dizer que "bombas israelenses caíram" na usina de energia o Jornal da Gazeta sugeriu ao  respeitável público que isto pode ter ocorrido por acidente (o que evidentemente é um absurdo, pois Israel está usando armamentos precisos e sofisticados made in USA).

O jornalismo sérvio foi considerado culpado por ter ajudado Radovan Karadžić . Quem culpará o jornalismo ocidental por ajudar Israel a produzir um genocídio infantil em Gaza? Esta pergunta nem mesmo é feita. Nada do que os jornalistas ocidentais façam pode ser considerado crime. Eles ajudaram os EUA a invadir o Iraque repercutindo as mentiras contadas pelos habitantes da Casa Branca e do Pentágono sobre as "armas de destruição em massa" de Saddan Hussein. E não foram responsabilizados por terem tocado os tambores de guerra para justificar a injusta agressão militar norte-americana.

Fomos enganados, disseram alguns jornalistas depois que ficou provado que o Iraque havia desmantelado completamente seus programas de "armas de destruição em massa" 4 ou 5 anos antes da invasão comandada por George W. Bush Jr. e sua quadrilha de assessores igualmente mentirosos. Centenas de milhares de iraquianos foram mortos e mutilados desde 2003. A tortura se tornou uma realidade fotográfica compartilhada na internet pelos próprios torturadores. Os jornalistas norte-americanos fizeram um acanhado mea culpa e foram receber seus cheques gordos no final do mês como se não tivessem cometido qualquer crime.

Neste exato momento os jornalistas europeus, norte-americanos e alguns de seus colegas brasileiros estão ajudando Israel a transformar Gaza em um monte de entulhos e corpos despedaçados. Eles estão lavando as mãos, sim. Mas fazem isto em bacias cheias de sangue infantil. E nem sentem vergonha quando, nos telejornais diários, culpam os palestinos por serem vítimas de crimes de guerra. Os jornalistas sérvios fizeram o mesmo e pagaram caro. Antes deles, os jornalistas nazistas fizeram algo parecido e também foram impiedosamente bombardeados. O nazijornalismo ocidental, contudo, parece determinado a seguir em frente, fomentando guerras não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU como se isto fosse algo bom, belo e justo.

Hoje a Reuters anunciou no seu Twitter uma reportagem especial sobre a origem das armas utilizadas pelos rebeldes russos na Ucrânica. Nada dirá sobre a origem das armas que Israel utiliza para despedaçar crianças em Gaza? Esta omissão me parece deliberada, pois os F-16 e as bombas e mísseis que eles despejam sobre civis palestinos são made in USA. Os tanques de guerra israelenses que disparam constantemente contra as casas dos palestinos em Gaza também não são fabricados na Rússia.

Quando não estão ajudando Israel a destruir Gaza, os nazijornalistas europeus, norte-americanos e brasileiros acusam a Rússia de ter derrubado um avião de passageiro na Ucrânia. Eles fazem isto para desviar a atenção do respeitável público do único fato relevante: eles mesmos estão com as mãos ensangüentadas porque ajudam os israelenses a cometer crimes de guerra.

sábado, 26 de julho de 2014

Distoção da realidade, manipulação das informações e fabricação artificial de consenso: como a mídia brasileira, nas mãos de umas poucas poderosas famílias, atua

Segue excelente texto de Emir Sader, retirado do site Carta Maior:



É a mídia, Dilma, é a mídia

Emir Sader

postado em: 25/07/2014

Qualquer comparação minimamente objetiva dos governos tucanos e petistas – dos candidatos que representam a um e a outro - permitiriam prever uma vitória eleitoral ainda mais fácil do governo neste ano. Ninguem duvida dos resultados dessa comparação, ainda mais que o candidato tucano reivindica a mesma equipe econômica de FHC e seu gurú  econômico repete os mesmos dogmas que levaram os tucanos a nunca mais ganharem eleição nacional no Brasil depois que essa equipe governou o pais. Enquanto a candidata do governo representa a continuidade do projeto que transformou positivamente o Brasil desde 2003 e seu aprofundamento.

No entanto, as pesquisas e o clima político e econômico mostram um cenário um pouco diferente. Somente o nível de rejeição que as pesquisas – maquiadas ou não – da Dilma e do governo – o dobro da rejeição de Aecio, segundo as pesquisas – já revela que outros fatores contam para entender as opiniões das pessoas.

Para um tecnocrata, para uma visão economicista ou positivista da realidade, a consciência é produto direto da realidade objetiva. Basta transformar a esta, que as pessoas se darão conta das mudanças e do seu significado. Não levam em conta o papel fundamental da intermediação que exercem os meios de comunicação.  A realidade concreta chega às pessoas através das representações dessa realidade, processo em que a mídia exerce um papel determinante. Essa visão ingênua não entende o que é a ideologia e como a fabricação dos consensos pela mídia monopolista atua.

A mídia conseguiu fabricar consensos como os de que a Dilma seria uma presidente incompetente, o governo seria corrupto, a política econômica fundamentalmente equivocada e a Petrobrás um problema, a inflação descontrolada, a economia estagnada e sem possibilidade de voltar a crescer. Por mais que se possa, racionalmente, desmentir cada uma dessas afirmações, são elas que permeiam os meios de comunicação e formam parte da opinião pública, contaminada pelo terrorismo em que aposta a oposição politica e seu partido – a mídia.

Uma política de comunicações desastrosa por parte do governo é responsável por esse clima, que coloca em risco a continuidade do projeto democrático e popular que o povo escolheu como seu em três eleições presidenciais. O governo ficou inerte diante da criação desse clima e o que poderia dizer ficou neutralizado porque o governo não avançou em nada na democratização dos meios de comunicação. É uma atitude grave, porque alimenta uma oposição derrotada, que se apoia no monopólio privado dos meios de comunicação para desgastar o governo, sem que este reaja.

É equivocada a alternativa entre uma imprensa barulhenta – que diga o que bem entenda – ou uma mídia calada. Esta era a alternativa durante a ditadura. Na democracia a alternativa é entre uma mídia monopolista, que só propaga a voz dos seus donos ou mídia democrática, pluralista. Ao não avançar na democratização dos processos de formação da opinião publica, o governo colocar em risco todos os avanços acumulados desde 2003.

Não por acaso os votos duros de apoio do governo – os mais pobres, os do nordeste – são os menos afetados pela influência da mídia, são aqueles influenciados assim diretamente pelos efeitos das políticas sociais do governo. E os setores de classe média das grandes cidades são os mais afetados.

O Brasil não será um país democrático, por mais que avancemos na diminuição das desigualdades sociais, se somente uma ínfima minoria pode influenciar sobre a opinião dos outros, impor os temas que lhes pareçam do seu interesse como agenda nacional, difundam o tempo todo suas opiniões. Não será democrático enquanto as pessoas possam ter acessos a bens indispensáveis, mas não possam dizer a todos os outros o que pensam.

Senão seria perpetuar a divisão entre os que trabalham, produzem, vivem no limite das suas necessidades, por um lado, enquanto por outro lado estão os que, pelo poder do dinheiro, podem ocupar os espaços de formação de opinião pública, podem influenciar os outros, impunemente.

A razão pela qual um governo que promove os direitos da grande maioria da população, até aqui excluída, tem tantas dificuldades para traduzir esses avanços numa clara maioria politica, é a mídia, é a mídia.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Sobre o Aeroporto Particular dos Neves, em Minas


"NÃO FOI O GOVERNADOR, FOI MINAS" - COMO A IMPRENSA CONSEGUE AMENIZAR UMA SAIA JUSTA


Por Luciano Martins Costa publicado no Observatório da Imprensa


  Os leitores da Folha de S Paulo foram surpreendidos no domingo (ontem) por um ataque indireto ao senador Aécio Neves, candidato do PSDB a presidente da República – “Minas fez aeroporto em fazenda de tio de Aécio”, dizia a manchete do diário paulista. No texto logo abaixo, o jornal conta que, quando governador, em 2010, Aécio mandou construir, com dinheiro público, um aeroporto na fazenda de um tio – que o senador usa regularmente.

  A obra custou R$ 14 milhões e só serve à família do senador ou a aeronaves que ela autoriza, pois o governo de Minas nunca entregou à ANAC, Agência Nacional de Aviação Civil, os papéis necessários à sua homologação. Portanto, objetivamente, a instalação segue sendo uma obra privada feita com dinheiro público.

  Na mesma edição e em texto de tamanho proporcional à reportagem que faz a denúncia, a assessoria do senador responde que a escolha do local levou em conta apenas aspectos técnicos, não considerando que a propriedade do imóvel favorecia diretamente o então governador.

  O Estado de S Paulo reproduziu no mesmo dia a denúncia da Folha, em um texto mais curto, incluindo a defesa de Aécio Neves, acrescentando que no local havia uma pista construída em 1983 por seu avô, Tancredo Neves, quando era governador do Estado. Ou seja, a família se beneficia das instalações há mais de 30 anos, agora modernizadas com recursos do Estado. Ou há outra interpretação para a sequência de notícias?

 Hoje, 21, os 2 jornais paulistas voltam ao assunto, para oferecer um amplo espaço à defesa do candidato tucano, e o Globo entra na história, publicando com destaque a justificativa de Aécio Neves, sem ter publicado antes a denúncia.

 O conjunto do noticiário serve de modelo para o leitor entender o estilo que deverá marcar a imprensa hegemônica até o fim da campanha eleitoral – para amenizar as suspeitas de que tende para um dos lados da disputa, dá-se, como se dizia antigamente, uma no cravo, outra na ferradura.

  Aeroporto particular

 O cuidado em amenizar o efeito da reportagem diz muito sobre a atenção que a imprensa dedica ao seu candidato preferencial. Diante de um fato que induz claramente à conclusão de que a família Neves transformou um antigo campo de pouso em aeroporto particular com dinheiro público, e que a decisão de tocar a obra foi feita pelo então governador Aécio Neves, qual é a alternativa?


 Já que não se pode esconder o fato, cria-se na própria denúncia a condição propícia à defesa. A começar pelos títulos: tanto na Folha como no Estado, não foi o então governador quem autorizou o uso de dinheiro público no interesse da própria família: foi “Minas”. Ora, “Minas” não pratica atos de ofício, “Minas” não assina autorização para obras com ou sem licitação. Quem assina é o governante, e o governante é agora candidato a presidente da República.

 De que, então, tratava a manchete da Folha no domingo? Tratava do cuidado mínimo que o jornal precisa dedicar à cobertura da disputa eleitoral, porque o engajamento permanente e descarado em uma ou outra candidatura pode prejudicar outros interesses da própria empresa que edita o diário.

 Por exemplo, se o público desenvolver a convicção de que a Folha apoia explicitamente uma candidatura em detrimento das outras, quanta confiança será depositada em futuras pesquisas do Datafolha?

 Então, se determinado fato não pode deixar de ser publicado, porque a omissão colocaria em risco a credibilidade do jornal, dá-se um jeito de preservar no que for possível a reputação do candidato acusado.

 Em nenhuma outra ocasião, nos muitos escândalos que a imprensa reportou nos últimos anos, a autoria foi desviada do personagem central para a figura diáfana do Estado. Apenas como referência, no caso que tinha como acusado o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, não se leu nos jornais que “Brasília é condenada por improbidade administrativa”.

  Mas no caso do aeroporto privado feito com dinheiro público, não foi o então governador quem cometeu o malfeito: foi “Minas”.

Comentários de Paulo Henrique Amorim:

Outra razão para a Fel-lha se permitir detonar o Arrocho Neves: porque ele é mineiro.
Se fosse paulista, metido até o talo na Privataria Tucana, ou com o Príncipe da Privataria, na Operação Banqueiro, aquela que demonstra que, sem o Gilmar, não haveria Dantas, se fosse paulista o Arrocho estava salvo. Seria até um benemérito da aviação civil…
Por falar nisso, Otavinho, de que vive o Cerra ?


Paulo Henrique Amorim

domingo, 20 de julho de 2014

Sobre a manipulação da informação nacional e internacional

Segue artigo de Mário Augusto Jakobskind. compartilhado do Correio do Brasil


Manipulação da informação nacional e internacional

20/7/2014 15:00
Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro


 Colunista chama a atenção para a manipulação dos noticiários pela grande imprensa

 Curiosamente, menos de 24 horas depois da derrota acachapante do Brasil de 7 a 1 contra a Alemanha, o jornal O Globo dava o ar de sua graça de manipulação da informação nas páginas de economia. E por incrível que pareça, o mais vendido jornal do Rio de Janeiro editava a seguinte matéria com título revelador: “Derrota do Brasil faz Bolsa de SP ter alta de 1,79%%”. Em seguida o complemento “para investidores estrangeiros, resultado vai dificultar reeleição de Dilma”. A Copa do Mundo chegou ao fim, mas as discussões futebolísticas continuam. Como estamos entrando agora na etapa da campanha eleitoral, não custa nada lembrar um fato jornalístico que dá bem a ideia de como serão as próximas semanas e meses até 5 de outubro próximo.
 
E a manipulação veio ainda acrescida da “informação” sobre aumento de ações da Petrobras e que “a continuidade dessa elevação vai depender dos efeitos nas ruas, em protestos, por exemplo, segundo opinião de uma analista do grupo mexicano GBM”.

Realmente, é o tipo da informação (melhor seria mesmo entre aspas) com o visível intuito de investir contra uma das candidaturas, A elevação da cotação das ações na Bolsa de SP geralmente acontece quando sobe a Bolsa de Nova York. Quando baixa ocorre o mesmo por estas bandas. Mas para as Organizações Globo, a cotação para mais ou para menos depende agora de outros fatores, inclusive eventuais manifestações de rua, que em algum momento a mídia conservadora tentou pautar.

Como O Globo e demais veículos das Organizações com o mesmo nome distorce a informação porque, mesmo sem colocar em seus editoriais, apoia visivelmente uma das candidaturas, exatamente a que mais promessas faz de agrado ao mercado. Não é difícil saber de quem se trata.

Por estas e muitas outras, jornais, rádios e telejornais, na medida em que se aproxima a eleição, o Brasil vem sendo apresentado com um país à beira de uma crise sem precedentes. É óbvio que a mídia conservadora cria um clima nesta antevéspera de eleição para levar o eleitor a se posicionar de acordo com os interesses do mercado.

Como se não bastasse essa investida na área econômica do jornal, a Rede Globo tem noticiado o agravamento da situação no Oriente Médio, visivelmente a partir e a favor de um dos lados, no caso de Israel. Diretamente de uma cidade israelense, a TV Globo mostrava o aparecimento de alguns foguetes lançados sobre território israelense e junto a isso apresentava a movimentação de gente se dirigindo para os abrigos antiaéreos. Flagrantemente dava entender que a agressão partia do Hamas e minimizava os bombardeios que atingiam a população civil com a morte de mais de 200 palestinos, nele incluídos mulheres e crianças.

Um conflito desproporcional, bastando para tanto contabilizar o número de vítimas dos dois lados. Em poucos dias, mais de 200 palestinos morreram e 500 deles ficaram feridos. Já do lado de Israel morreram até agora duas pessoas e uns 15 ficaram feridos. É o resultado concreto de armamentos de última geração por parte de Israel com foguetes quase artesanais do Hamas.

O governo de Israel simplesmente repete o que já tinha feito em outras ocasiões na mesma Faixa de Gaza. Chefiado pelo troglodita político, o Primeiro-Ministro Benyamin Netanyahu, tendo como integrante do governo o não menos troglodita Ministro do Exterior, Avigdor Lieberman, o mesmo que há tempos fez pronunciamentos racistas contra os árabes, a situação na área se agrava e na última quinta-feira se anunciava o início de uma operação terrestre.

Mas a Rede Globo acionou seu correspondente em Israel para colher a versão dos militares do país que ocupa territórios palestinos. Um visível esquema para culpar apenas um dos lados, no caso o Hamas.


No mais, a mesma direita que receia as transformações que acontecem na América Latina, não se conforma com o fortalecimento da unidade dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) com o Banco de Desenvolvimento.

A raiva aumenta quando os Brics se reúnem no Brasil com os países integrantes da Unasul (União das Nações Sul Americanas) e a Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe_) se faz presente em Brasília.

Não é à toa que, sem bandeiras, parlamentares do PSDB e Dem investem contra o governo brasileiro por hospedar o Presidente cubano Raul Castro na Granja do Torto.

Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil); preside a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI – seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla (no prelo).
Direto da Redação é editado pelo jornalista Rui Martins com o apoio do Correio do Brasil.



sábado, 19 de julho de 2014

Os BRICS, sua importância e a viralatice sem limites da imprensa golpista nacional



Segue texto de Luciano Martins, retirado do Observatório da Imprensa:

A mesma vira-latice

Por Luciano Martins, no Observatório da Imprensa.

Observe-se, por exemplo, a cobertura dos jornais genéricos de circulação nacional sobre a reunião dos líderes de países emergentes e o movimento de aproximação com a América Latina, patrocinado pelo governo brasileiro. Usando a Copa do Mundo como oportunidade para reunir dirigentes dos países que formam o bloco conhecido como Brics, a presidente da República protagoniza um evento importante na busca do equilíbrio entre as forças econômicas e políticas do planeta.

Em qualquer outro país, esse seria o tom predominante no noticiário sobre a 6ª Cúpula dos Brics, encerrada nesta quinta-feira. Aliás, esse é o tom geral da mídia internacional, desde a agência americana Bloomberg até chinesa Xinhua, ou Nova China.

Entre as principais decisões anunciadas, certamente a criação de um banco a ser compartilhado entre os países do bloco é a mais relevante, porque representa mais autonomia econômica para o conjunto de nações emergentes, que passará a contar com uma fonte de financiamento independente das instituições dominadas pelos Estados Unidos e a Europa.

O evento marca outros acontecimentos importantes, como a aproximação entre Rússia, Índia, China e África do Sul e os latino-americanos liderados pelo Brasil, bem como contribui para aliviar as tensões geopolíticas ao proporcionar uma janela de oportunidade para os russos, cercados de sanções por parte de americanos e europeus em função da crise na Ucrânia.

Em qualquer outro país, a imprensa estaria propondo um debate interno sobre esse evento, que pode afetar o desenrolar das relações internacionais.

Mas o que fazem os jornais brasileiros?

Os editores dos diários de circulação nacional parecem ter trocado figurinhas e, nas edições da quinta-feira (17/7), as manchetes eram exatamente iguais:

** “Brasil cede e Índia vai presidir banco dos Brics”, dizia o Estado de S. Paulo.

** “Brasil cede presidência, e banco dos Brics é criado”, anunciava a Folha.

** “Brasil cede, e Índia presidirá banco dos Brics”, afirmava o Globo.
Ora, o Brasil não cedeu coisa alguma, não abaixou a cabeça, como insinuam os jornais – a criação do Banco dos Brics havia sido proposta pela Índia desde a 4ª Cúpula, realizada em Nova Delhi em 2012, quando se convencionou que o país proponente teria a presidência executiva pelos primeiros cinco anos.

O cargo mais relevante na fase de implantação da instituição é a presidência do conselho, e essa função caberá ao Brasil.

O resto é a velha vira-latice da imprensa nacional.

domingo, 13 de julho de 2014

A Terra dos Gênios e o time da simpatia vencem a Copa de 2014




 



O humor como expressão de saúde psíquica e espiritual

Leonardo Boff


Todos os seres vivos superiores possuem acentuado sentido lúdico. Basta observa os gatinhos e cachorros de nossas casas. Mas o humor é próprio só dos seres humanos. O humor nunca foi considerado tema “sério” pela reflexão teológica, sabendo-se que ele se encontra presente em todas as pessoas santas e místicas que são os únicos cristãos verdadeiramente sérios. Na filosofia e na pscanálise teve melhor sorte.
Humor não é sinônimo de chiste, pois pode haver chiste sem humor e e humor sem chiste. O chiste é irrepetível. Repetido, perde a graça. A historieta cheia de humor conserva sua permanente graça; e gostamos de ouvi-la repetidas vezes.

O humor só pode ser entendido a partir da profundidade do ser humano. Sua característica é ser um projeto infinito, portador de inesgotáveis desejos, utopias, sonhos e fantasias. Tal dado existencial faz com que haja sempre um descompasso entre o desejo e a realidade, entre o sonhado e sua concretização. Nenhuma instituição, religião, Estado e lei conseguem enquadrar totalmente o ser humano, embora existam exatamente para enquadrá-lo a um certo tipo de ordem. Mas ele desborda estas determinações. Dai a importância da violação do inerdito para a vivência da liberdade e para que surjam coisas novas. Isso na arte, na literatuar e também na religião.

Quando se dá conta desta diferença entre a lei e a realidade – veja-se por exemplo, a exdrúxula moral católica sobre a proibição do uso da camisinha em tempos em que grassa a AIDs – surge o sentido do humor. Dá vontade de rir, pois é tudo tão fora do bom senso, é tanto discurso proferido em pleno deserto que ninguém escuta nem observa que só podemos ter humor. Essas pessoas vivem na lua não na Terra.

No humor se vive o sentimento de alívio do peso das limitações e do prazer de ve-las relativas e sem a importância que elas mesms se dão. Por um momento, a pessoa se sente livre dos super-egos castradores, das injunções impostas pela situação e faz uma experiência de liberdade, como forma de plasmar seu tempo, dar sentido ao que está fazendo e construir algo novo. Por detrás do humor vigora a creatividade, própria do ser humano. Por mais que haja constrangimentos naturais e sociais, sempre há espaço para se criar algo novo. Se não fosse assim não haveria gênios na ciência, na arte e no pensamento. Inicialmente são tidos por “loucos”, excêntricos e anormais. Quando tudo passou, um novo olhar descobre a genialidade de um van Gogh, a criatividade fantástica de Bach, quase desapercebido no seu tempo. De Jesus se diz que “os seus sairam para agarrá-lo, pois diziam “ele está louco”(Mc 3,21). De São Francisco se disse a mesma coisa: ele é um “pazzus” um louco, coisa que ele aceitava como expressão da vontade de Deus. E era uma santo cheio de de humor e alegria a ponto de o chamaram”frade-sempre-alegre”.

Em palavras mais pedestres: o humor é sinal de que nos é impossível definir o ser humano dentro de um quadro estabelecido. Em seu ser mais profundo e verdadeiro é um criador e um livre.

Por isso, pode sorrir e ter humor sobre os sistemas que o querem aprisionar em categorias estabelecidas. E o ridículo que constatamos em senhores sérios (por exemplo, professores, juízes, diretores de escola e até monsenhores) que querem, solenemente e com ares de uma autoride superior, quase divina, fazer dos outros cegos e submissos ou quais ovelhas terem que  obedeçer às suas ordens. Isso também causa humor.

Acertado estava aquele filósofo (Th. Lersch Philosophie des Humors, Munique 1953, 26) que escreveu: “A essência secreta do humor reside na força da atitude religiosa. Pois o humor vê as coisas humanas e divinas na sua insuficiência diante de Deus”. A partir da seriedade de Deus, o ser humano sorri das seriedades humanas com a pretensão de serem absolutamente verdadeiras e sérias. Elas são um nada diante de Deus. E existe ainda toda uma tradição teológica que nos vem dos Padres da Igreja Ortodoxa que falam do Deus ludens, (do Deus lúdico) pois criou o mundo como um jogo para o seu próprio entretenimnento. E o fazia, sabiamente, unindo humor com seriedade.

Quem vive centrado em Deus tem motivos de cultivar o humor. Relativiza as seriedades terrenas, até os própros defeitos e é um livre de preocupações. São Thomas Morus, condenado à guilhotina, cultivou o humor até o fim: pedia aos algozes que lhe cortassem o pescoço mas lhe poupassem a longa barba branca. São Lourenço sorria com humor dos algozes que o assavam na grelha e os incitava a virá-lo do outro lado porque de um lado estava vem cozido ou do Santo Inácio de Antioquia, bispo, ancião e referência de toda a Igreja dos primórdios, que suplicava aos leões que viessem devorá-lo para passar mais rapidamente à felicidade eterna.

Conservar esta serenidade, viver em estado de humor e compreende-lo a partir das insuficiências humanas é uma graça que todos devemos buscar e pedir a Deus.

Quando o esgoto da CBF se une e apoia seu similar partido, o PSDB



Para quem ainda tinha dúvida do que há dentro da CBF e aos ingênuos ou ignorantes que confundem Organização da Copa com o resultado da Seleção (cuja equipe técnica medíocre é formada e orientada pela CBF e pela Globo), a imagem acima deveria dizer tudo... Mas para ficar ainda mais clar, segue o artigo de Jca Kfouri (extraído do UOL Esporte):

Aécio ama a CBF


Juca Kfouri 


Aécio Neves é amigo de José Maria Marin e o homenageou, escondido, no Mineirão.

Deu-se mal porque o que escondeu em sua página na internet, Marin mandou publicar na da CBF.

Aécio também é velho amigo de baladas de Ricardo Teixeira e acaba de dizer que o país não precisa de uma “Futebras”, coisa que ninguém propôs e que passa ao largo, por exemplo, das propostas do Bom Senso FC.

Uma agência reguladora do Esporte seria bem-vinda e é uma das questões que devem surgir neste momento em que se impõe um amplo debate sobre o futuro de nosso humilhado, depauperado e corrompido futebol.

Mas Aécio é amigo de quem o mantém do jeito que está.

Não está nem aí para os que reduziram nosso futebol a pó.

sábado, 12 de julho de 2014

Presidente do Comitê Olímpico Internaciona, Thomas Bach, elogia o sucesso da Copa do Mundo feita pelo Brasil


Brasileiros devem se orgulhar do sucesso da Copa, diz COI

Thomas Bach teve hoje uma audiência com a presidente Dilma Rousseff, e disse que está satisfeito com o andamento do cronograma das Olimpíadas

Ivan Richard, da  
  Brasília - Após uma série de críticas feitas nos últimos meses aos atrasos nas obras para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, disse hoje (11), depois de audiência com a presidente Dilma Rousseff, que está satisfeito com o andamento do cronograma. Bach elogiou também o sucesso da Copa do Mundo no Brasil.

“Pudemos constatar que os preparativos já avançaram bastante, após minha visita à presidente [Dilma] Rousseff, poucos meses atrás, e agradecemos o nítido compromisso da presidente com o sucesso dos Jogos, ao dizer que o sucesso deles será uma grande prioridade para seu governo a partir de segunda-feira [14]”, disse o presidente do COI.

A dois dias da final da Copa do Mundo, Bach disse que os brasileiros devem se orgulhar do sucesso do Mundial. “Quero parabenizar o Brasil pela formidável organização da Copa do Mundo. O Brasil e os brasileiros podem se orgulhar da organização que fizeram, que está sendo reconhecida em todo o mundo. Temos a absoluta certeza de que, daqui a dois anos, teremos um excelente evento olímpico no Brasil e no Rio de Janeiro”, disse.

Depois de visitar ontem (10) as obras no Rio de Janeiro, Thomas Bach classificou a Vila Olímpica de “fantástica”. “Ali será o coração das Olimpíadas, o coração do Brasil, nesses dias de Jogos Olímpicos. O que posso dizer é que a Vila Olímpica está mesmo fantástica, ficamos muito empolgados com essa vila, o espaço que ela oferece, a vista que proporciona, a proximidade com o Parque Olímpico. Lá, como em vários outros [lugares], pudemos constatar grandes avanços”, afirmou.


Alemão, o presidente do COI foi político ao falar sobre a final da Copa do Mundo domingo (13), entre as seleções da Alemanha e da Argentina. “Vai ser uma grande final. Todo jogo começa 0 a 0. Se eu soubesse isso [o placar], ficaria rico. A expectativa é que presenciemos uma ótima partida, e o melhor time [vença] bem", disse Bach. Para ele, a seleção alemã terá uma boa torcida no estádio domingo.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Uma mídia comprometida que há muito perdeu o senso de razão e da sensibilidade




Do diário de Centro do Mundo


A derrota do Brasil para a Alemanha levou os suspeitos de sempre a pintar um cenário tenebroso no país. Ok, foi um massacre, mas houve um certo regozijo sádico, um acerto de contas pelo apocalipse estrutural que não veio.

A capa do Globo com um David Luiz de quatro no gramado e a manchete “Vergonha, Vexame, Humilhação” é um exemplo rematado de histeria sensacionalista.

Por incrível que pareça, a vida seguiu adiante no dia seguinte. O jornalista Matthew Futterman, do Wall Street Journal, escreveu um bom artigo contando o que viu nas ruas sob uma perspectiva estranhíssima: o mundo não acabou.

Eis a matéria:

Adivinhe o que aconteceu no Brasil na quarta-feira?

O sol apareceu. As pessoas foram para o trabalho. Elas dirigiram táxis, abriram supermercados, clicaram em seus computadores para tratar de assuntos jurídicos e financeiros. Médicos curaram os doentes. Assistentes sociais enfrentaram os problemas da grande pobreza neste país de cerca de 200 milhões. A vida continuou.

Adivinha o que não aconteceu? Cidades não queimaram. Rebeliões em massa não aconteceram. Tanto quanto sabemos, torcedores não se jogaram de edifícios porque sua amada Seleção foi destruída pela Alemanha, por 7-1, na semifinal da Copa.

À luz cruel do dia, ainda é estranho escrever “Alemanha 7, Brasil 1.” Esse tipo de resultado não acontece neste nível de futebol. O último jogo oficial que o Brasil perdeu em casa foi em 1975. Se eu fosse um nativo, estaria abalado, tentando descrever a debacle que aconteceu em Belo Horizonte.

Não se engane: a derrota para a Alemanha, para usar a frase favorita do técnico dos EUA, Jurgen Klinsmann, foi uma lástima. As pessoas aqui amam o futebol. O governo declara feriados nos dias de partidas da equipe nacional. Ruas vazias, e eu quero dizer vazias – como se você pudesse montar uma barraca no meio de uma delas e não acontecer nada.

Ainda assim, não compre a história de que esta perda vai deixar alguma cicatriz indelével em um país tentando desesperadamente prosperar em uma série de áreas que não têm nada a ver com futebol. Essa idéia é um pouco humilhante para os brasileiros, que são a coleção de almas mais acolhedoras com que eu me deparei.

Houve a mulher na loja de óculos aqui em São Paulo que se recusou a aceitar dinheiro pelo estojo de óculos que ela me deu depois que eu perdi o meu. Houve os estudantes universitários em Natal que me ofereceram um tour pela cidade e uma carona de volta para meu hotel no meio da noite, quando não havia transporte à vista após a vitóriq dos EUA sobre Gana.


Embrulhando o peixe
 Lá estava o rabino que, 30 segundos depois de me conhecer, insistiu para que eu fosse jantar no sábado em sua casa (eu fui, e a sopa de matzo ball estava incrível). Houve as inúmeras almas pacientes comigo na rua, esperando enquanto eu tateava meu dicionário de bolso de português, procurando a palavra certa para completar uma pergunta idiota, quando certamente eles tinham algo melhor para fazer.

Estive aqui por um mês. Isso dificilmente me qualifica como um especialista na cultura brasileira. Minha amostragem é pequena e limitada a hotéis, restaurantes, estádios de futebol e pistas de corrida ao lado de praias do Rio, Natal, Recife e algumas outras cidades-sedes. Eu sei do crime e da pobreza.

Mas eu também sei que este é um país incrível, diverso. Encare quatro horas de voo rumo à Amazônia a partir de São Paulo e as pessoas parecem completamente diferentes daquelas em qualquer shopping do país. Em Salvador, você pode muito bem achar que está na África Ocidental. Em cada cidade, pessoas de todos os tons de pele — preto, marrom e branco — preenchem áreas de ricos e pobres. É um país de beleza física impressionante e vastos recursos naturais. O tráfego da hora do rush faz as avenidas de Los Angeles parecerem estradas do interior, um sinal claro de que o lugar precisa de alguns melhoramentos de infra-estrutura, mas também que há um grande número pessoas trabalhadoras que querem tornar o amanhã melhor do que hoje.

Em outras palavras, o Brasil é muito mais do que uma camisa canarinho e uma obsessão com o futebol.

O colapso contra a Alemanha certamente vai despertar algum exame de consciência nacional sobre como o Brasil cultiva e desenvolve a sua próxima geração de estrelas do futebol. O país tem um enorme banco de talentos, mas acidentes não podem mais acontecer no esporte. Vencer nesse nível hoje significa não apenas talento, mas dinheiro, treinamento e uma estratégia coerente.

“Quando você pensa sobre isso”, disse uma brasileira de 20 e poucos em um bar na noite passada,  “é meio engraçado. Quer dizer, sete gols. É engraçado, né?”

Eu vou apostar que o Brasil como um todo vai se sair muito bem depois disso. Chateado um pouco, claro, mas em última análise, tudo vai dar certo. De muitas maneiras, já deu.


Sobre o Autor

Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Apesar de tudo, podemos ainda defender a Seleção

Segue texto de Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania:





A overdose de opiniões sobre “A” derrota parece ter praticamente esgotado o assunto, até por ação de uma patética uniformidade opinativa oriunda do medo de divergir e da “necessidade” psicótica de grande parte dos brasileiros de se autoflagelar com requintes de crueldade.

Desde o ano passado muitos descobriram que a censura oficial dos anos de chumbo foi substituída por um ímpeto censor diferente, do qual o pior efeito é a autocensura dos que temem danos à própria imagem se divergirem do consenso momentâneo que se estabelece sobre várias questões.

Foi assim durante as manifestações de junho de 2013. Posso garantir ao leitor que muitos dos que sabiam que aquele movimento só serviria para desgastar Dilma Rousseff – e para mais nada –, de forma ignóbil fizeram mais do que se calar: aderiram ao que achavam ser errado.

Como sei disso? Muitos amigos me recomendaram que não contestasse o que, então, desfrutava de apoio quase unânime no país – cerca de 80% dos brasileiros chegaram a apoiar aquilo. Fizeram-me inúmeras ponderações sobre “suicídio imagético”.

Hoje, para os que se calaram sobre aquele movimento de massas ficou tão fácil criticá-lo quanto, para os que o defenderam de forma irreversível, ficou difícil voltar atrás e reconhecer o erro de avaliação.

Isso, porém, não muda o fato de que a grande maioria percebeu que aquele movimento resultou em nada, se se desconsiderar o prejuízo a um único partido político.

Cumpre-me, pois, nadar de novo contra a corrente dizendo o que penso do “vexame” da Seleção e – para os que substituíram o complexo de vira-lata pelo de ameba – “do Brasil”. Vou, aqui, defender a Seleção.

Mas, antes, faço algumas outras considerações.

A quantidade de cretinices que se leu e ouviu nos últimos dias deve superar a de estrelas em uma noite de firmamento límpido. A pior dessas cretinices foi compararem Brasil e Alemanha como sociedades. A segunda pior foi atribuírem a derrota “vexaminosa” ao governo Dilma.

Comecemos pela segunda: se o desempenho de uma seleção de jogadores de futebol for mérito ou demérito de governos, então o melhor de todos os governos brasileiros deve ter sido o do ditador Emílio Garrastazu Médici, durante o qual o Brasil sagrou-se tricampeão com um magnífico futebol.

Mas a comparação entre o bem-estar social do povo germânico e do tupiniquim é muito pior. A história germânica remonta a uns 4 mil anos. Precisa dizer mais?

Chegaram a comparar a saúde, a educação e até a quantidade de prêmios Nobel que o povo alemão conquistou. Por que? Por causa do futebol…

Se futebol fosse medida de desenvolvimento social os pentacampeões deveriam ser os alemães, não os brasileiros. A nossa hegemonia nesse esporte ao longo do século XX e na primeira década do século XXI – com a conquista do penta, em 2002 – decorre, inclusive, de nosso subdesenvolvimento.

A valorização do futebol, no Brasil, é um dos passivos do país. Este que escreve não torce por nenhum time de futebol e sempre se desesperou com o verdadeiro transe deste povo que esse esporte desencadeia.

Porém, minha opinião sempre foi a de que realizar uma Copa por aqui nada tem que ver com o tempo, a atenção e os recursos exagerados que o brasileiro despende com um simples esporte.

A Copa de 2014 está sendo a nossa grande oportunidade de mostrar ao mundo que o Brasil é um excelente roteiro turístico e, além disso, de que somos capazes de realizar, com brilho, um grande evento internacional.

Isso sem falar na montanha de dinheiro que o país está ganhando com a Copa, em um nível de lucratividade que supera em muito os custos.

Então, vamos à defesa da Seleção. Não são necessários muitos neurônios para entender por que ocorreu o “desastre” desportivo. E este não se deveu, apenas, a nenhum dos jogadores brasileiros em campo, com exceção do goleiro, ter disputado uma Copa.

É claro que foi uma aposta extremamente ousada de Felipão convocar uma equipe virgem em Copas do Mundo, mas a Copa das Confederações insinuava que aquela equipe poderia brilhar, de novo, em outra competição internacional.

Mas é claro que não foi só isso – aliás, a inexperiência em Copas poderia ter sido superada.

A juventude e a inexperiência dos jogadores, porém, foram fatores que se exacerbaram devido a outros fatores, ou melhor, devido à literal sabotagem que a Seleção sofreu por parte da mídia brasileira e de grupos políticos.

Alguns profetas dos fatos ocorridos agora se gabam de terem “acertado” ao criticarem a Seleção e, como “prova” disso, esfregam a derrota fragorosa nos rostos de quem não quis se juntar à uma verdadeira matilha de lobos que tratava de desmotivar aqueles jovens.

Seria normal haver críticas contra a Seleção, mas o espalhafato dos protestos violentos, a apatia da torcida, a frieza inicial da população com a Copa, tudo isso pressionou emocionalmente uma equipe imatura.

Imagine, leitor, quantas foram as noites em que aqueles garotos sonharam… Ou melhor, imagine quantos pesadelos eles tiveram com o desastre que se materializou. Sabiam muito bem que teriam que conquistar o povo brasileiro, ineditamente indisposto com o esporte que ama.

Mesmo vendo os problemas – sobretudo o da inexperiência e o do emocional da Seleção –, quem não queria o desfecho que sobreveio tinha OBRIGAÇÃO de combater o derrotismo e a pressão psicológica disparados sem piedade contra aqueles garotos assustados.

Ao longo da competição, a equipe mais criticada pela mídia foi, de longe, a nossa. Chega a ser ridículo que alguém se jacte de ter “avisado”. Ora, quem não “avisou”? A mídia em peso “avisou”. O tempo todo. Sem parar. Dia e noite.

As arbitragens questionáveis e o desfalque de dois jogadores importantíssimos acabaram com o pouco de equilíbrio emocional que havia.

É óbvio que uma equipe com jogadores tão valorizados no mercado mundial de futebol não deveria ter sofrido aquela derrota, naquele nível de contundência. O que aconteceu nada tem que ver com o futebol brasileiro, que um ano antes brilhara na Copa das Confederações.

Aliás, a mídia previa sucesso dentro de campo e vexame fora, por conta da organização do evento. Ocorreu o contrário.

Após o primeiro jogo da Seleção na Copa deste ano, reclamaram providências da Comissão Técnica para contornar o problema emocional que já naquele jogo foi visto, com o gol contra de Marcelo. Ok, mas não disseram como fazer isso.

Alguém saberia dizer como se faz para acalmar garotos que nunca disputaram uma competição como essa e que passaram os últimos 12 meses vendo o clima de guerra no país contra a Copa, sem falar na avalanche de desqualificações?

Se alguém tem alguma culpa, é Felipão. Infelizmente, essa é a verdade.

Escalar uma equipe cem por cento inexperiente – o goleiro Júlio Cezar não atenua esse déficit –, foi uma temeridade. Ainda mais sabendo de quantos interesses políticos havia em que o fracasso sucedesse dentro e fora de campo.

E, por fim, como a burrice entrou em campo de forma tão acintosa, logo aparece aquele argumento estúpido sobre quanto ganham os jogadores – como se só craques brasileiros fossem bem pagos, como se no mundo inteiro os craques não ganhassem fortunas.

Ora, nossos jogadores bem pagos não roubam ninguém. Ganham muito porque dão muito lucro. Simples assim. E merecem ganhar, pois a disputa para chegar aonde chegaram é imensa, incomensurável.

Tudo isso me leva a uma única conclusão: não conseguiram sabotar a organização da Copa, mas conseguiram sabotar a Seleção. Quem sabotou? Os partidos políticos e os grupos de mídia que contavam com essa derrota em campo para lograrem uma vitória nas urnas.

Será que se darão bem?

sábado, 5 de julho de 2014

O indiscreto ódio da Burguesia e sua mídia



A burguesia rejeita Dilma?
Sim, o ambiente econômico é grande eleitor, mas é a mídia que se empenha para alimentar o ódio

por Mauricio Dias 

Tomaz Silva/ Agência Brasil



Segundo a mídia, Dilma "deslulou a governança"

Um possível clima de ódio, nascido de decisões da presidenta, rejeitadas por parte do empresariado, é refletido na mídia.

Em longo e consistente artigo para a revista trimestral Inteligência, em circulação na próxima semana, o historiador João Bettencourt e o jornalista Luiz Cesar Faro tentam decifrar o que identificaram como “indiscreto ódio da burguesia” à presidenta Dilma Rousseff.

O esforço inédito joga luz forte sobre esse “desamor” entre as partes. Os articulistas mergulham fundo nas relações conflitadas entre um lado e o outro e emergem com uma pergunta: “Tem culpa ela?” A resposta é não, dizem os autores do estudo.

Dilma, segundo eles, “deslulou a governança”, embora tenha mantido e aprofundado os ganhos sociais promovidos pelo antecessor. Esta seria a origem, ou uma delas, dessa desavença. Consideram que a burguesia, preconceituosamente, odiaria Dilma “devido ao seu intervencionismo, sua inaptidão ao diálogo e, quiçá, seu simples jeito de ser”.

“A redução na marra das tarifas cobradas pelo suprimento de energia elétrica é emblemática”, apontam Bettencourt e Faro, entre tantos outros exemplos recolhidos ao longo da pesquisa sobe o confronto.

Há, no entanto, fatores que deveriam contrabalançar eventuais desgostos provocados por decisões monocráticas da presidenta. Eis um deles que também figura em rol imenso. Dados recentíssimos da Fipecafi, fundação ligada à Universidade de São Paulo, por exemplo, mostram que, entre 2012 e 2013, os lucros das 500 maiores empresas do País cresceram 39,3 bilhões de dólares. Isso traduz alta de 24% em relação ao ano anterior.

Mas a história desse conflito estaria agora se preparando para desembarcar nas urnas. Dúvida? O ex-ministro Delfim Netto, em variadas ocasiões, tem reafirmado a certeza “de que o ambiente econômico é um grande eleitor”.  “Delfim não chega a concordar com a hipótese de um ‘golpe branco pela economia’, mas afirma que o humor da burguesia conta, sim, nas eleições”, dizem os autores.

Como isso se dá? De acordo com Delfim, forma-se “um clima de hostilidade, um ambiente de negócios que o governo se esforça em negar, mas que existe e que influiu de forma importante para a redução nos investimentos e agora impacta também o consumo”.

Bettencourt e Faro se remetem a uma frase de Lula: “O mau humor do empresariado não está deixando a economia andar”.

Impulsionaria esse mau humor um projetado confronto eleitoral: “Se o PT tem a sua militância e o voto da inclusão social, a burguesia tem o controle absoluto da mídia”, deduzem os analistas. E apontam:

“A cólera burguesa é mais visível estampada nas bancas de jornal e vocalizada nos programas de tevê. Em jornais e revistas analisados nos últimos 573 dias, somente 9% do noticiário econômico foi favorável, mesmo assim ligeiramente, ao governo Dilma – nessa contabilidade não foram levados em consideração os artigos do corpo editorial ou de articulistas convidados”.

Para João Bettencourt e Luiz Cesar Faro não há dúvidas: “A mídia comprou um lado e está sitiando, sim, a presidenta, o PT e o seu entorno. E é no cerne da imprensa que o ódio viceja; porque, se por um lado não são reconhecidos avanços, por outro são exacerbadas as críticas. O oligopólio da mídia não gosta de Dilma, e ponto final”.


Mídia Golpista exige que a seleção brasileira perca



O Datafolha e o vexame da imprensa

Pesquisa expõe o vexame da imprensa vira-latas
Por Ricardo Amaral
Não vejo base estatística em análises do tipo E a Copa ajuda Dilma... ou Com Copa do Mundo humor do pais melhora e Dilma cresce (Folha).  Os candidatos permanecem na mesma faixa de intenções de voto desde abril, como aponta o Zé Roberto Toledo no  Estadão. Diante desse Datafolha, a imprensa hegemônica deveria olhar para o espelho, não para as eleições.
A ampla aprovação da Copa e o orgulho de sediá-la no Brasil melhoram  o humor geral do país, o que pode, sim, favorecer a campanha da presidenta Dilma, mas ainda não se trata de ativo realizado. Pela primeira vez em muito tempo melhoram as expectativas sobre inflação, emprego e desempenho da economia, mas é uma melhora tímida, se comparada aos novos indicadores sobre Copa.
O que o Datafolha traz de novo é a derrota espetacular da imprensa vira-lata diante dos fatos.

C:\Users\Ricardo\Desktop\POLITICOS\laerte cavaleiros.jpgLaerte (FSP)
É isso que os jornais e a TV tentam esconder desesperadamente. Primeiro, tentaram atribuir as previsões catastróficas à imprensa estrangeira. Falso: a mídia estrangeira comeu na mão imprensa hegemônica local, como acontece em qualquer cobertura global, seja de esportes, guerras ou eleições.
O passo seguinte é tentar botar a culpa no povo. Ontem, no Jornal Nacional, havia uma matéria sobre “o aumento do otimismo” durante a Copa. Dizia que o verde-amarelo quase não se via no início da Copa e foi tomando conta do visual ao longo da competição. “A gente não estava acreditando”, confessa uma ingênua entrevistada.
Quem jamais acreditou e torceu contra a Copa foi a imprensa vira-latas. E a sociedade brasileira foi conduzida à descrença, ao mau-humor e à crítica sem fundamento, reproduzindo os bordões e os dados falsos que via na TV e lia nos jornais (aqui vai um pequeno pacote de catástrofes que não se realizaram).
Bastaram três dias de Copa, com os estádios, os aeroportos, o transporte, a segurança e o turismo funcionando, para desmanchar a realidade virtual do “imagina na Copa”. Os fatos falaram mais alto.
Raramente se vê um choque de realidade como esse. Raramente a imprensa hegemônica de um país se vê confrontada tão cruamente com um erro monumental, de sua exclusiva responsabilidade.  É desse erro gigantesco, impossível de esconder, que ela tem de prestar contas ao seu público: o Brasil não passou vergonha.
A mídia internacional percebeu o engano e rapidamente se corrigiu. Transmite ao mundo umaimagem realista do país (com exceção dos espanhóis e de uma parte dos ingleses – que passaram a amaldiçoar o Brasil pelo fiasco de suas seleções. Mas essa dor passa com o tempo).
Nossa pobre imprensa vira-latas não tem estatura para fazer autocrítica, porque nunca teve vergonha manipular a notícia. Vai continuar torturando os fatos, como fez no julgamento do mensalão e faz cotidianamente na cobertura política e econômica – a ponto de perder a razão (e muitas vezes ela a tem) por absoluta carência de credibilidade.
É cedo para afirmar qual será o efeito da Copa do Mundo sobre as eleições. Está claro, porém, que a imprensa vira-latas sofreu sua mais fragorosa derrota, desde que minha saudosa avó me ensinou a ler jornais, na altura Copa do Chile, 1962.
O tempo dirá qual foi o tamanho do estrago da operação- não-vai-ter-copa sobre o poder da mídia hegemônica no Brasil. Será proporcional à incapacidade de autocrítica dos seus proprietários e “formuladores”. Seguramente, a democracia vai sair ganhando.


Segue, agora, artigo de Miguel do Rosário sobre o mesmo tema:

Comentarista do R7 tripudia do sofrimento de Neymar

5 de julho de 2014 | 16:08 Autor: Miguel do Rosário




O Paulo Moreira Leite argumentou, em sua última postagem, que o principal escândalo referente à agressão sofrida por Neymar é a falta de indignação da imprensa brasileira.

Quando o uruguaio mordeu um jogador, o mundo caiu. A pressão inaudita fez com que a Fifa se sentisse obrigada a dar uma punição extremamente severa contra o agressor.

E agora, que o colombiano quase quebra a coluna dorsal do maior ídolo do futebol brasileiro, não há nenhuma indignação! Nenhum protesto!

Segundo Paulo, o espírito antibrasil continua vivo, apesar de um pouco intimidado pela alegria esfuziante das ruas.

Apesar de concordar, não achei que Paulo apresentou provas suficientes para embasar sua opinião.

Até que me deparei, há pouco, com um tweet de um dos principais colunistas políticos da Folha, Fernando Rodrigues, elogiando um artigo de um tal de Andre Forastieri, do R7, que tripudia do sofrimento de Neymar (e de todo o povo brasileiro) e profere uma quantidade inacreditável de viralatices de mau gosto.

Acho ótimo que Forastieri dê a sua opinião, porque isso nos permite avaliar o grau de devastação que o viralatismo midiático causou em nosso país.

Mas estou chocado. Agora sim eu fiquei assustado.  E lembrei do que disse Paulo, em seu post: com essa falta de indignação, qual o recado que pretendemos passar para a Fifa e para a arbitragem dos próximos jogos?
Que o Brasil é um país tão vagabundo que não tem importância que nossos jogadores sejam trucidados em campo?
Reproduzo alguns trechos para vocês terem uma ideia do que eu estou falando.
*
Vamos chorar o machucado de Neymar, mais um santinho à brasileira? Nada feito. (…)
Esta comoção com o machucado de Neymar é patética. (…)

Dá um certo prazer sádico que o Brasil vá encarar o restante dessa Copa sem Neymar. Ele foi ungido a cara do nosso futebol, o garoto propaganda da brasilidade. É um símbolo da nossa dependência de jeitinho, ginga e emoção. Pensar para quê? 

Perder a Copa já na próxima partida talvez fosse um bom basta nesta cultura de planejar e gerir mal, de corrupção e ignorância, de vitória a qualquer custo, na porrada e no “jeitinho”. Será um Brasil melhor quando não dependermos de jogadas milagrosas, padrinhos, geninhos. Quando o país não pensar em termos de goleada, eu só ganho muito se você perder bastante. Menos charmoso, menos “mágico”, talvez, mas melhor.

Merecemos ganhar da Colômbia? Ganhamos, a qualquer preço. Merecemos ficar sem Neymar, e aliás Neymar merece estar fora da Copa? Claro.
*
Tenho que concordar com Paulo. Setores importantes da grande imprensa comemoraram, embora em silêncio, a brutalização de Neymar. Sentiram um prazer mórbido com a dor inflingida a todo o povo brasileiro.

Sei que é meio clichê e enfadonho usar o termo Casa Grande, mas é nele que eu penso ao me deparar com um sadismo tão descarado, um desejo tão vil, de ver o povo sofrer, de pagar pelo atrevimento imperdoável de ser feliz.