quarta-feira, 8 de abril de 2020

Os prós e contras do Ministro Luiz Mandetta, por Luis Nassif



No tiroteio de segunda-feira, no demite-não-demite de Bolsonaro, muitos jornalistas tiveram a impressão de recuo de Mandetta em relação a dois pontos fundamentais: o isolamento social e a cloroquina, duas bandeiras de Bolsonaro.  Chegaram a acusa-lo de promover um futuro genocídio para acalmar o chefe.
Do GGN:
Vamos aos fatos.
Luiz Henrique Mandetta, Ministro da Saúde, tem um histórico dos deputados de baixo clero, surfando nas ondas do momento. Nunca teve papel destacado na Câmara. E, sob sua gestão ,no Ministério da Saúde, desde o primeiro dia do governo Bolsonaro, foi responsável direto pelo fim do + Médicos e de mais um conjunto de medidas que fragilizaram ainda mais o SUS (Sistema Único de Saúde), os programas de fabricação interna de equipamentos, o programa de fabricação de medicamentos.
Como salientei em outros momentos – evocando até o general Della Rovere, do clássico ˆDe crápula a herói”, de Rosselini, com Vitório de Sica -, um homem é ele e suas circunstância. E as circunstâncias transformaram Mandetta em um condutor impecável da guerra contra o coronavirus.
No tiroteio de segunda-feira, no demite-não-demite de Bolsonaro, muitos jornalistas tiveram a impressão de recuo de Mandetta em relação a dois pontos fundamentais: o isolamento social e a cloroquina, duas bandeiras de Bolsonaro.  Chegaram a acusa-lo de promover um futuro genocídio para acalmar o chefe.
Não é nada disso.
É evidente que tem que se definir regras futuras para um relaxamento gradativo do isolamento. Mas as regras definidas pela Saúde não se aplicam a nenhum município brasileiro. O ponto central é que só deverão sair do isolamento (o Ministério recomenda, mas não tem poder de obrigar) municípios que tenham 50% de folga nas UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo). 90% dos municípios não possuem sequer um leito de UTI. E, nos municípios restantes, não vai se encontrar um município sequer com folga de UTIs, ainda mais depois que o coronavirus chegar por lá. Além disso porque, o governo poderá requisitar UTIs disponíveis para atender cidades necessitadas. O que torna a pré-condição impossível de ser atendida por qualquer município.
A recomendação é absolutamente inócua e visou apenas livrar a cara de Bolsonaro.
No outro ponto, o uso da cloroquina, o Ministério limitou-se a enfatizar o que tem dito desde o começo: só deve-se utilizar a cloroquina em tratamento sob supervisão e responsabilidade de um médico.
Ou seja, nenhuma das duas posições significou qualquer recuo em relação às recomendações anteriores.
Motivos de preocupação existem no relaxamento do confinamento. O tiroteio de informações, as sucessivas declarações irresponsáveis de pessoas como Bolsonaro, Osmar Trevas e outros influenciaram a parte menos informada da população. Ontem à noite, telejornais mostravam aumento do número de passageiros em ônibus, concentração de pessoas em locais públicos, como mercados.
A responsabilidade final é do Ministério da Cidadania, de Onyx Lorenzoni, e da área econômica que, quase um mês após o início do alarme, não foram capazes de entregar dinheiro nas mãos dos mais necessitados, obrigando-os a escolher entre morrer de coronavirus ou de fome.
Do mesmo modo, as ações do Banco Central são extraordinariamente inócuas. Em sua apresentação, na coletiva de ontem, o presidente Roberto Campos Neto, celebrou valores recordes de liberação de recursos, prazos recordes, em medidas que não terão a mínima eficácia.
A linha para financiar folha de salários de pequenas e microempresas não terá nem 1% de interessados. O compulsório liberado, para supostamente estimular operações de crédito dos bancos, não resultará em uma operação nova, devido ao risco de crédito, em uma situação em que não se sabe o futuro sequer de grandes corporações.
O aumento da circulação de pessoas terá consequências graves no número de infectados e mortos. É o preço alto de um país que cometeu a rematada loucura de eleger um governante do nível de Bolsonaro.

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