terça-feira, 31 de maio de 2016

Temer e a pátria discriminadora, por José Ribamar Bessa Freire

"Nós, participantes do Seminário comparativo Brasil-Quebéc, reunidos na Université du Québec à Trois-Rivières de 24 a 26 de maio de 2016, denunciamos a manobra parlamentar que provocou a destituição da presidente do Brasil, Dilma Rousseff (...). "

Do Taqui para Ti
 
José Ribamar Bessa Freire
A escola está preparada para lidar com alunos portadores de deficiência? Com os que professam diferentes religiões? Com os que falam uma língua de migração, uma língua indígena ou que dizem em português "nós pega o peixe" fora da norma padrão? Professores recebem nos cursos de pedagogia e de licenciatura formação para lidar com a diversidade sociocultural, religiosa e linguística e para incluir na sala de aula alunos tradicionalmente discriminados? Quem são esses professores? Qual o seu perfil? Quais dificuldades encontram para combater o preconceito e a intolerância? Quais as conquistas e os avanços já obtidos nesse campo e o que o presidente interino do Brasil propõe como política educacional?
Essas e outras perguntas foram feitas nesta semana num seminário  realizado na Universidade de Quebec entre professores e pesquisadores brasileiros e canadenses, comparando as práticas educativas nos dois países. Em outra oportunidade, abordaremos questões pontuais discutidas no evento, que demonstrou preocupação com a situação política no Brasil e com a continuidade de políticas de inclusão. Agora, publicamos aqui uma carta aberta à comunidade internacional assinada pelos participantes, que foi publicada em francês em jornais canadenses.

CARTA ABERTA À COMUNIDADE INTERNACIONAL

Trois-Rivières, Canadá, 26 de maio de 2016
Nós, participantes do Seminário comparativo Brasil-Quebéc, reunidos na Université du Québec à Trois-Rivières de 24 a 26 de maio de 2016,  denunciamos a manobra parlamentar que provocou a destituição da presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Juntamente com outros pesquisadores e educadores, nós conclamamos a sociedade internacional a questionar a legalidade e a legitimidade do governo interino, bem como a idoneidade moral e política das suas decisões, que colocam em risco a democracia e a soberania brasileira.

O Seminário intitulado “Por uma sociedade inclusiva: Formação de educadores no contexto da diversidade” é fruto de treze anos de cooperação científica entre pesquisadores de universidades brasileiras e canadenses, que desenvolvem estudos e debates para incorporar na vida social grupos historicamente excluídos, promovendo políticas públicas interculturais e inclusivas.

A diversidade etnocultural, produzida por processos de colonização, coloca desafios de inclusão democrática nas sociedades pluralistas. A educação formal e informal, considerando as suas funções educativas e socializadoras, desempenham um papel central para dar respostas a essa questão. Há um amplo consenso internacional quanto à  importância de se formar atores educacionais para o trabalho em contextos de diversidade. Durante este seminário, discutimos práticas, projetos e políticas que visam incluir grupos "minoritários" na educação e na  formação de professores e de outros atores sociais.

A participação do Brasil nos esforços internacionais para promover uma sociedade justa, solidária e aberta às diferenças socioculturais, encontra-se ameaçada pela agenda política do governo interino instituído no Brasil a partir 12 de maio do corrente ano, como resultado do que foi denominado de "golpe de Estado", conforme termo usado por analistas políticos na imprensa internacional. O processo do impeachment encaminhado sucessivamente na Câmara de Deputados em 17 de abril e, no Senado Federal, em 11 de maio do corrente ano, determinou o afastamento da Presidente Dilma Rousseff por até 180 dias. Durante este período, o Senado Federal julgará o mérito das acusações alegadas para justificar o impedimento do mandato presidencial.

Embora o rito jurídico tenha sido formalmente seguido nestes processos deliberativos do Congresso Nacional, vários fatores questionam a legalidade, a legitimidade e a moralidade deste processo de destituição da presidenta eleita em 2014 por 54 milhões de cidadãos brasileiros. Indicativo da ilegalidade foi, de um lado, a condução do impeachment pelo Deputado Eduardo Cunha,  ex-presidente da Câmara, afastado por ser réu junto ao Supremo Tribunal Federal, formalmente acusado de corrupção e por abuso de poder. Por outro lado, a ilegitimidade depreende-se da baixíssima representatividade da Câmara dos Deputados, refém de poderosos grupos de lobbies.

O governo interino, empossado em 12 de maio passado, nomeou ministros nada representativos das identidades e dos interesses do povo brasileiro. A composição deste governo provisório fere a equidade e a representação de diversos grupos etnoculturais do Brasil, da mesma forma que a paridade de gênero. Foi composto apenas de ministros homens, "brancos" e ricos, sete dos quais estão implicados em processos de corrupção.

Ao promover uma reforma do Estado Brasileiro, que implica mudanças dificilmente reversíveis de políticas públicas, ameaça direitos políticos e sociais democráticos construídos ao longo dos últimos 13 anos pelos governos Lula e Rousseff. Compromete também a soberania nacional, especialmente com a privatização de empresas públicas. Enfim, o processo de impeachment recebeu apoio midiático e financeiro de grupos econômicos nacionais e transnacionais, que vêm dando suporte à operação articulada de destituição da presidente Dilma e de  implantação de políticas antidemocráticas.
Por estes motivos e porque valorizamos o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas inclusivas agora ameaçadas, questionamos a legalidade, a legitimidade e a moralidade do governo interino assumido e exercido no Brasil pelo vice-presidente Michel Temer. Esperamos que a comunidade internacional possa contribuir para amplificar a voz dos milhões de brasileiros que lutam pelo restabelecimento da democracia.

P.S. - Na abertura do Seminário foram lançados três livros: 1) La diversité ethnoculturelle, religieuse et linguistique en éducation. Théorie et pratique. Sous la direction de Maryse Potvin, Marie-Odile Magnan et Julie Larochelle-Audet. Quebec. Éditeur:Fides Éducation. 2) Judaïsme et éducation : enjeux et défis pédagogiques - Quebec. Presses de l'Université Laval.Sous la diréction de Sivane Hirsch, Marie Mc Andrew, Geneviève Audet, Julia Ipgrave.3) Rio Babel - A História das línguas na Amazônia. José R. Bessa Freire.  2ª edição. Rio de Janeiro. EDUERJ. Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
TEMER: LA PATRIE DISCRIMINÉE
 
L'école est-elle prête à accueillir des élèves handicapés? Avec ceux qui professent des religions différentes? Avec ceux qui parlent une autre langue, une langue indigène ou à ceux qui s’expriment dans un portugais non standardisé et disent  "Nous attrape le poisson?" Est-ce que les enseignants reçoivent dans les cours de pédagogie et dans les études de licence une formation  pour faire face à la diversité socioculturelle, religieuse et linguistique ? Est-ce qu’ils sont préparés pour inclure les élèves traditionnellement discriminés dans une salle de classe? Qui sont ces enseignants? Quel est leur profil? Quelles sont les difficultés pour combattre les préjugés et l'intolérance? Quelles sont les conquêtes et les progrès déjà réalisés dans ce domaine ? Quels sont les propositions de politique éducative du président par intérim au Brésil
Ces questions et d'autres ont été posées cette semaine lors d'un séminaire tenu à l'Université du Québec entre les enseignants et les chercheurs brésiliens et canadiens, en comparant les pratiques éducatives des deux pays. À une autre occasion, nous discuterons des questions spécifiques abordées lors de l'événement, qui a exprimé sa préoccupation sur la situation politique au Brésil et sur la continuité des politiques d'inclusion. Maintenant, nous publions ici une lettre ouverte à la communauté internationale signée par les participants, qui a été publié en français dans des journaux canadiens.

LETTRE OUVERTE À LA COMMUNAUTÉ INTERNATIONALE

Nous, participants au Séminaire comparatif Brésil-Québec réunis à l'Université du Québec à Trois-Rivières les 24, 25 et 26 mai, 2016, dénonçons la maneuvre parlementaire qui a provoqué la destitution de la présidente Dilma Roussef au Brésil. Nous, avec d’autres chercheurs et éducateurs, appelons la communauté internationale à questionner la légalité et la légitimité du gouvernement intérimaire, ainsi que le caractère moral et politique de ses décisions, qui mettent en danger la démocratie et la souveraineté brésiliennes.

Ce séminaire intitulé "Pour une société inclusive : Formation des éducateurs dans le contexte de la diversité" est le fruit de treize années de collaboration scientifique entre des chercheurs d’universités brésiliennes et québécoises qui  oeuvrent au développement et à la mise en oeuvre de politiques publiques interculturelles et inclusives.

La diversité ethnoculturelle, produite historiquement par des processus de colonisation, pose d’importants défis pour l'inclusion démocratique dans les sociétés pluralistes. L'éducation formelle et informelle, ainsi que leurs fonctions de scolarisation et de socialisation constituent un levier majeur  pour y répondre. Il existe en outre un large consensus international sur l'importance de former les acteurs éducatifs pour travailler en contexte de diversité. Au cours de ce séminaire, nous avons justement eu l'occasion d’échanger sur des pratiques, des projets et des politiques pour favoriser l’inclusion et l'intégration des groupes minoritaires en éducation et dans la formation des enseignants et autres acteurs scolaires.

La participation du Brésil aux efforts internationaux visant à promouvoir une société juste, solidaire et ouverte aux différences socio-culturelles est toutefois, menacée par l'agenda politique du gouvernement intérimaire s'étant imposé au pays le 12 mai dernier, à la suite d'un "coup d'Etat", comme l’ont nommé des analystes politiques dans la presse internationale. Le processus d'”impeachment”, successivement adopté par la Chambre des représentants le 17 avril et le Sénat le 11 mai, a conduit à suspendre la présidente Dilma Rousseff de ses fonctions pour 180 jours. Pendant cette période, le Sénat Féderal jugera du fondement des accusations portées pour justifier l'”impeachment”.
Bien que le processus juridique ait été formellement suivi par le Congrès National, plusieurs considérations questionnent la légalité, la légitimité et le caractère éthique de la destitution de la présidente élue en 2014 par 54 millions de citoyens brésiliens. Cela transparaît notamment d'une part, par la conduite de l'ancien président de la Chambre et député Eduardo Cunha, actuellement suspendu de ses fonctions après avoir été accusé par la Cour suprême de corruption et d'abus de pouvoir et d'autre part, par la surreprésentation et le pouvoir conféré aux groupes de lobbies à la Chambre élue.


Le gouvernement intérimaire, assermenté le 12 mai, a nommé des ministres non représentatifs du peuple brésilien et de ses intérêts. La composition de ce gouvernement intérimaire met à mal la représentation des divers groupes ethnoculturels du Brésil ainsi que la parité des sexes. Il est seulement constitué de ministres masculins, “blancs” et riches, parmi lesquels sept sont impliqués dans des affaires de corruption.
En mettant en branle une réforme de l'État brésilien qui implique des changements difficilement réversibles dans les politiques publiques, il menace les droits politiques et sociaux démocratiques construits au cours des 13 dernières années par les gouvernements Lula et Rousseff,. Il compromet aussi la souveraineté nationale, notamment par la vente de sociétés d’État. Enfin, le processus de mise en accusation de la présidente a reçu l'appui des principaux médias du pays et le soutien financier d’importants groupes économiques brésiliens et transnationeaux qui soutiennent à la fois le processus de destitution et le déploiement de politiques anti-démocratiques.

Pour ces raisons, et parce que nous valorisons le développement et la mise en oeuvre de politiques publiques inclusives actuellement menacées, nous nous interrogeons sur la légalité, la légitimité et la moralité du gouvernement intérimaire assumé et exercé au Brésil par le vice-président Michel Temer. Nous espérons que la communauté internationale pourra contribuer à amplifier la voix de millions de Brésiliens qui luttent pour le retour de la démocratie.

Signataires

Françoise Armand - Université de Montréal (Canada)
Chantal Asselin - Université du Québec à Rimouski (Canada)
Geneviève Bergeron - Université du Québec à Trois-Rivières (Canada)
José Ribamar Bessa - UERJ et UNIRIO  (Brasil)
Marilyne Boisvert - Université du Québec à Trois-Rivières (Canada)
Martha Kaschny Borges - Universidade do Estado de Santa Catarina (Brasil)
Corina Borri-Anadon - Université du Québec à Trois-Rivières (Canada)
Elcio Cecchetti - Fundação Universidade Regional de Blumenau (Brasil)
Pierre-David Desjardins - Université de Montréal (Canada)
Reinaldo Matias Fleuri - Instituto Federal Catarinense (Brasil)
Gustavo Gonçalves - Universidade Federal do Sul da Bahia (Brasil)
Sivane Hirsch - Université du Québec à Trois-Rivières (Canada)
Julie Larochelle-Audet - Université de Montréal (Canada)
Monique Lebrun - Université du Québec à Montréal (Canada)
Claude Lessard - Université de Montréal (Canada)
Sandra Cordeiro de Melo - Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil)
Geovana Lunardi Mendes - Universidade do Estado de Santa Catarina (Brasil)
Juliane di Paula Queiroz Odinino - Faculdade Municipal de Palhoça (Brasil)
Claudio Luis Orço - Universidade do Oeste Catarinense (Brasil)
Katryne Ouellet - Université du Québec à Trois-Rivières (Canada)
Sylvie Ouellet - Université du Québec à Trois-Rivières (Canada)
Álamo Pimentel - Universidade Federal do Sul da Bahia (Brasil)
Liliane Portelance - Université du Québec à Trois-Rivières (Canada)
Maryse Potvin - Université du Québec à Montréal (Canada)
Daniel Puig - Universidade Federal do Sul da Bahia (Brasil)
Mylene Santiago - Universidade Federal Fluminense (Brasil)
Mônica Pereira dos Santos - Univesidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil)
Joëlle Tremblay - Université Laval (Canadá)

O tal Pastor Everaldo, de extrema Direita, fundamentalista e que bate na mulher, quer a presidência da Funai



Da Mídia Ninja:

Atenção! Quando pensa que já está tudo ruim, pode ficar pior!

Pastor Everaldo, do PSC, é um dos candidatos mais cotados para assumir a presidência da Funai-Fundação Nacional do Índio durante a gestão interina golpista. 

O show de horrores pode ser pior do que se imagina. Se não bastassem toda a discriminação, a dizimação dos povos originários do Brasil e a constante luta pelos direitos indígenas no Congresso Federal (só hoje há 182 medidas anti-indígenas em tramitação na casa), agora um dos representantes da bancada evangélica pode ser o próximo a presidir o órgão responsável por proteger os povos indígenas do Brasil. Algumas comunidades evangélicas já pregam a evangelização dos indígenas, método utilizado desde o período colonial. Agora, certamente, a primeira medida do deputado pastor será a negação das tradições e conhecimentos das mais de 300 etnias do país e a promoção, à força, a neo-colonização a partir da religião.

"Enquanto não houver o reconhecimento dos indígenas como povos originários não haverá democracia", concluiu Sônia Guajajara, liderança indígena da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - Apib em recente audiência pública na Câmara Federal.

Apesar de nenhuma confirmação, as organizações indígenas já estão observando a movimentação política em Brasília e prontas para agir caso seja necessário.

#ForaTemer #DireitosIndígenas#RespeitemNossaCultura

O escândalo do "Ministro da Transparência" do ilegítimo Temer expõe o Golpe ao ridiculo no Mundo

"Amplie a escala e veja o que é, no mundo, um Ministro da Transparência ser flagrado numa “operação-abafa”.
E com direito, como disse ontem, às ilustrações impactantes dos servidores lavando com água e sabão escadas, calçadas e gabinetes do ministério."

Novo escândalo expõe golpe ao ridículo no mundo

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Nos anos 70, quando vivíamos – aqui e na Bolívia – ditaduras, havia uma piada sobre uma festa numa embaixada onde um diplomata brasileiro era apresentado ao Ministro da Marinha boliviano e estranhava que houvesse um ministro da Marinha sem que houvesse mar na Bolívia. E seu interlocutor apenas respondeu: mas vocês, no Brasil, não têm ministério da Justiça?
Amplie a escala e veja o que é, no mundo, um Ministro da Transparência ser flagrado numa “operação-abafa”.
E com direito, como disse ontem, às ilustrações impactantes dos servidores lavando com água e sabão escadas, calçadas e gabinetes do ministério.
Acho que o ministro Jos[e Serra vai passar trabalho fazendo circulares às nossas embaixadas para pedir que convençam o mundo de que aqui não há um golpe que usou a corrupção como pretexto e que, desde o primeiro dia, mostra ter a fina flor da corrupção dentro de si.

Como avaliar o comportamento da mídia na crise do impeachment (ou Golpeachment)

"Pode-se observar, por exemplo, que há uma orientação sistemática por parte dos grandes grupos de comunicação na ênfase e na publicação dos eventos – com preferência a uma tendência político em detrimento à outra – independente da qualidade e da importância dos fatos envolvidos."





Texto de Elstor Hanzen, jornalista com especialização em Jornalismo e Convergência das Mídias, publicado no Observatório da Imprensa

O desenvolvimento moral e ético se dá nesta ordem crescente: agimos para evitar a punição e obedecer a figuras de poder; somos movidos em função do desejo de sermos recompensados, percebemos as ações como “certas” à medida que elas atendam aos nossos interesses; na terceira etapa, somos orientados pela necessidade de aceitação social; depois reconhecemos os deveres como membros da sociedade, preservando a lei e mantendo a ordem social; e nas duas fases finais, também chamadas de “pós-convencionais”, quando somos guiados pelo senso deutilidade social, além de reconhecermos a universidade dos princípios morais – o fato de que temos obrigações morais para com a comunidade humana independente de uma lei ou cultura particular.
Essas etapas são estabelecidas pelo pesquisador e professor de jornalismo Patrick Lee Plaisance, na obra Ética na comunicação: princípios para uma prática responsável. O americano se baseia em diversos teóricos e filósofos – inclusive Aristóteles e Kant – para definir os conceitos. Para ser mais didático, o autor compara essa evolução ao crescimento físico da pessoa. “Começamos como crianças autocentradas apenas em nossa própria satisfação, e, à medida que crescemos, a nossa esfera de preocupação – e a aplicação de determinados princípios – se expandem gradativamente para englobar mais pessoas”.
Contudo, Plaisence reconhece ser muito raro uma sociedade ou profissão atingir os dois últimos níveis. Ele afirma ser mais comum evoluir até a etapa quatro. Esta reflete as expectativas da sociedade, e é a que a maior parte dos adultos atinge e permanece. Um exemplo disto seria quando um jornalista inseguro em relação a abordar uma determinada questão, procura corresponder às convenções da redação e agir conforme seus colegas agiriam na mesma situação. Já no estágio mais avançado, o comportamento seria outro: o jornalista poderia refletir e decidir se determinada informação deva ser deixada de fora de uma reportagem em resposta às preocupações válidas do personagem daquela reportagem.
Antes de avançarmos, porém, é importante aprendermos a diferença entre moral e ética. De acordo com Plaisance, a dimensão moral consiste num conjunto de crenças e de costumes adotados que ajudam a entender o que é bom e o que é mau na sociedade, isto é, a moral possui um ordenamento das práticas cotidianas que nos interpelam e pelas quais damos valor a certas ideias. A ética desenvolve-se quando a moral já não mais dá conta da complexidade dos questionamentos postos. A ética tenta chegar ao âmago dos nossos sistemas de crenças que entram em conflito. Segundo Plaisance, a ética fornece uma base sólida para o desenvolvimento das questões morais.
A crise e o jornalismo
A fase conturbada da política no Brasil e a cobertura que a mídia faz dos acontecimentos são casos concretos nos quais a moral e a ética se evidenciam. Pode-se observar, por exemplo, que há uma orientação sistemática por parte dos grandes grupos de comunicação na ênfase e na publicação dos eventos – com preferência a uma tendência político em detrimento à outra – independente da qualidade e da importância dos fatos envolvidos.
A votação do processo de impeachment da presidente da República pelos Deputados ilustra bem tal realidade – em que a disputa se deu puramente por motivações pessoais e pelo desejo de poder, alheio a qualquer projeto de interesse da população. Então, antes de tudo, caberiam questões básicas: a quem interessa toda esta guerra? Não será um dilema falso? Porém, a mídia não questiona isso e ainda se presta a instrumento para viabilizar este modelo de debate, e nem sequer dá importância aos meios e a moralidade dos personagens envolvidos no enredo, a fim de oferecer informações equilibradas à população – o que é a função precípua da imprensa – para que cada um pudesse formar seu juízo.
O processo em pauta que apura a ilegalidade do Governo contra a Lei Orçamentária foi julgado e liderado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB), que é investigado por dezenas de crimes contra o erário, sendo ele mesmo afastado do seu mandato pela Justiça. Além do mais, a maioria dos deputados que votaram pelo impeachment, eles próprios são investigados por corrupção ou têm relação estreita com a imoralidade, como a deputada Raquel Muniz (PSD), que elogiou o marido prefeito como exemplo de moralidade na administração pública, porém, no dia após a votação, o prefeito de Montes Claros (MG) foi preso pela Polícia Federal.
Transparência
Segundo Plaisance, a ética se preocupa com as qualidades dos questionamentos morais. É a transparência que nos permite a avaliação do comportamento dos sujeitos. Acima de tudo, porque assim se respeita o outro como ser humano, e, portanto, com capacidade de razão. E não respeitar o princípio de transparência é não respeitarmos o ser humano como um ser capaz de raciocinar e tomar suas decisões, isto é, o princípio de liberdade. O próprio Código de Ética estabelece um elo direto entre os princípios de transparência e de liberdade, sendo que não há possibilidade de existência de um sem o outro.
A transparência vai além da possibilidade de pôr em visibilidade certos atos. Para Plaisance, a transparência é deixar em evidência nossas motivações, aspirações e intenções para os demais, para que assim eles possam como seres racionais avaliarem nossas ações. Todo o agir ético deve assumir o homem não como um meio, mas como um fim em si mesmo. E ao negar informações estamos negando a possibilidade de racionalização do outro, portanto, estamos tornando o outro como um mero meio ou objeto. É a transparência que nos permite a avaliação do comportamento dos sujeitos.
Os fins justificam os meios
A partir do princípio mais básico e categórico da ética, é preciso considerar os meios e a qualidade dos valores envolvidos para se obter uma resposta justa ao fim de um processo, ao contrário do princípio maquiavélico, portanto. E o jornalismo e a política, mais que qualquer outra profissão, deviam-se valer do mais elevado nível moral e ético, uma vez que a credibilidade e a sobrevivência deles depende disso.
O que se depreende do exposto é que a mídia não tem feito as perguntas certas nem considerado a moralidade dos personagens envolvidos na produção dos fatos. Apenas vem fazendo a cobertura e publicando massivamente notícias sob o mesmo enfoque, a fim de endossar a tese do impeachment como solução para a saída da crise, sem levar em conta os interesses e a transparência dos meios usados para alcançar tal objetivo. Portanto, conforme Plaisance, este tipo de comportamento está no nível dois, quando somos movidos em função do desejo de sermos recompensados, percebemos as ações como “certas” à medida que elas atendam aos nossos interesses.
Logo, para se fazer um bom julgamento ético, é necessário primeiro ter informações de qualidade que respeitam a universidade dos princípios morais, ou seja, o fato de que temos obrigações morais para com a comunidade humana independente de uma lei ou cultura particular. Entretanto, se quisermos ser uma sociedade com nível quatro de ética, denominada de estágio “convencional” por Plaisence, o qual reflete as expectativas básicas da sociedade, precisamos evoluir mais.
*** Elstor Hanzen é jornalista com especialização em Jornalismo e Convergência das Mídias

As angústias de quem apoiou o impeachment



"As portas do inferno das explicações estapafúrdias sempre estiveram abertas quando o assunto é política. Depois que alguém lembrou (corretamente) que impeachment não é só um julgamento jurídico, mas político também, as portas abriram um bocado a mais. O predicado deixou de existir, o sujeito virou a ação em si e o motivo central deixou de importar. Aliás, parece que nunca importou.
"Portanto, nada mais natural ouvirmos quase quatrocentas vezes, daqueles que nos representam na Câmara dos Deputados, “pelo meu pai”, “pela minha mãe”, “pelos meus filhos”, “por deus”. Só o diabo não precisou ser lembrado, dizem as más línguas, pois presidia a sessão."
texto do sociólogo Alexandre Marini, publicado no Observatório da Imprensa em 17 de maio de 2016
AgoraAs portas do inferno das explicações estapafúrdias sempre estiveram abertas quando o assunto é política. Depois que alguém lembrou (corretamente) que impeachment não é só um julgamento jurídico, mas político também, as portas abriram um bocado a mais. O predicado deixou de existir, o sujeito virou a ação em si e o motivo central deixou de importar. Aliás, parece que nunca importou.
Portanto, nada mais natural ouvirmos quase quatrocentas vezes, daqueles que nos representam na Câmara dos Deputados, “pelo meu pai”, “pela minha mãe”, “pelos meus filhos”, “por deus”. Só o diabo não precisou ser lembrado, dizem as más línguas, pois presidia a sessão. no Senado, mais explicações. Num outro nível, claro, mas de pouca efetividade diante do caráter exclusivamente político em que se transformou esse processo, com pouco espaço para a prevalência da razão, ambiente propício para que razões pessoais se sobreponham, espúrias ou não.
Em recente artigo publicado em seu próprio portal e no Correio Braziliense , o senador Cristovam Buarque, do PPS, com o peso que a autoridade lhe dá para participar e decidir sobre o processo de afastamento da presidenta da República, e que já há muito se declarou a favor da abertura do processo de impeachment no Senado, diz estar agoniado e elenca diversos motivos para tal.
Os motivos da agonia
Um olhar mais atento aos seus motivos possibilita ver, com preocupação, que mesmo políticos mais progressistas tem dificuldades em vislumbrarem que o que se desenha à sua frente é um cenário de articulação para uma volta ao passado, devido ao caráter retrógrado dos setores e agentes políticos que se colocam como ponta-de-lança para corrigir as falhas da política atual.
Cristovam Buarque se diz agoniado. Pelo desemprego atual, não pela terceirização e um futuro provável de perda de direitos trabalhistas. Pela economia parada, não pelo projeto neoliberal a ser adotado com restrições econômicas ainda mais violentas, afetando sobretudo os mais pobres. Pelos hospitais, não pelo projeto de privatização do SUS desenhado pelo PMDB. Pela falta de assistência aos mais pobres, não pela intenção de um futuro governo em acabar com os parcos projetos sociais de hoje. Pelos bolsistas universitários sem o apoio prometido, não pelo projeto que quer restringir ainda mais os repasses de apoio ao ensino superior, acelerando o desmantelamento da universidade pública e sua gratuidade. Por Cunha ser presidente da Câmara dos Deputados, não pelo fortalecimento político que o processo de impeachment, como vem sendo desenhado, deu a ele mesmo diante de seu afastamento pelo STF. Com os desvios na Petrobrás, não pela evidente intenção política de entregar o controle do seu patrimônio ao capital estrangeiro. Com a ciência e tecnologia, mas ignora o sinal de gravidade quando um pastor passa a ser seriamente sondado para assumir esse ministério. Por fim, agoniado por romper com 53 milhões de votos num processo democrático, parecendo ignorar outro 1 milhão e meio, já que o pleito vencedor teve com 54.501.118 votos.
Com uma miopia dessas, é para ficar agoniado mesmo.
***
Alexandre Marini é sociólogo e professor

Temer, o conspirador, errou com a EBC

 "Num país em que, a cada semana, pelo menos uma autoridade altíssima despenca, abatida por denúncias calamitosas, em que as cifras da corrupção reduzem o orçamento anual da EBC à insignificância de uma esmola, um presidente da República tem mais o que fazer além de se preocupar com o funcionário que edita A Voz do Brasil. Não obstante, o presidente interino, Michel Temer, foi se ocupar justamente disso. Mas ao não dedicar a devida atenção ao tema, errou feio."



FEITOS & DESFEITAS > GOVERNISMO NA COMUNICAÇÃO ESTATAL

Temer errou com a EBC

Por Eugênio Bucci em 31/05/2016 na edição 905 do Observatório da Imprensa
Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo, 26/5/2016
O leitor talvez não se lembre dessa sigla, EBC. Trata-se da Empresa Brasil de Comunicação, a estatal que controla a TV Brasil e a Rádio Nacional, entre outras emissoras de rádio e televisão, além da Agência Brasil. A EBC também é a responsável por preparar os 20 minutos diários que cabem ao Poder Executivo federal no mais antigo (e esdrúxulo) programa de rádio deste país continente, A Voz do Brasil. Dito assim, parece um ente irrelevante, mas não é.
A EBC custa à União cerca de R$ 750 milhões, um orçamento cinco vezes maior que o da Fundação Padre Anchieta, responsável pela TV Cultura de São Paulo, que em 2015 gastou R$ 140 milhões (desses, apenas R$ 93,4 milhões vieram dos cofres públicos, o restante veio de publicidade e de outras operações comerciais). Não sai barato. Deveria merecer muito mais atenção do governo.
É bem verdade que o Palácio do Planalto tem outras urgências na agenda. Num país em que, a cada semana, pelo menos uma autoridade altíssima despenca, abatida por denúncias calamitosas, em que as cifras da corrupção reduzem o orçamento anual da EBC à insignificância de uma esmola, um presidente da República tem mais o que fazer além de se preocupar com o funcionário que edita A Voz do Brasil. Não obstante, o presidente interino, Michel Temer, foi se ocupar justamente disso. Mas ao não dedicar a devida atenção ao tema, errou feio.
No dia 17 de maio ele exonerou o diretor-presidente da EBC, o jornalista Ricardo Melo. Profissional competente, íntegro e respeitado pelos pares, Melo sofreu um agravo ao ser demitido como foi. Ele tinha tomado posse de seu cargo em 10 de maio e, de acordo com a Lei 11.652, de 7 de abril de 2008, estava investido de um mandato de quatro anos. Mesmo assim, foi alijado de suas funções legais, sendo exposto a um constrangimento indevido e imerecido. Na defesa de seus direitos, entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para reaver o posto e a estatal passou a viver dias de tensão. O limbo de interinidade alcançou-a.
Entre a posse de Ricardo Melo (no dia 10 de maio) e sua demissão (dia 17 de maio), o Senado Federal afastou a presidente Dilma Rousseff, o que já era mais do que esperado. Ao decapitar a EBC, a intenção do substituto temporário de Dilma teria sido – como se especula em artigos e notas na imprensa – cortar pela raiz o aparelhamento ideológico que a titular teria plantado ali. A justificativa não passa de pretexto. A insensível exoneração não vai curar a doença do aparelhamento ideológico – apenas o mudará de lado, como sói enunciar a coisa.
Sem dúvida, a EBC fazia propaganda pró-Dilma, uma propaganda alucinada. A Voz do Brasil, por exemplo, na semana que antecedeu a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, virou um vozerio contra o “golpismo”, num claríssimo (e ridículo) desvio de função. Sob Dilma, a estatal era partidarizada, é verdade, mas o ponto não é esse – o ponto é que ela sempre, ou quase sempre, foi assim. O falatório governista não é exceção na história da EBC (e de sua antecessora, a Radiobrás), mas a regra. Até hoje. Até agora. Ouça A Voz do Brasil hoje à noite e você vai comprovar: o governo interino é saudado a toda hora como a própria “salvação nacional”. Sai de cena o populismo esquerdotário, entra em cena o temerismo temerário. O sinal é invertido. O governismo é o mesmo.
O presidente da República teria outros instrumentos, mais legítimos e menos deselegantes, para mudar tudo na EBC. Poderia ter proposto ao Congresso Nacional um projeto de lei (ou medida provisória) alterando as regras internas da estatal. Depois de aprová-la, poderia seguir com a troca do comando. Havia mais alternativas, igualmente legais, mas elas não vêm ao caso agora. Seriam menos canhestras, mas igualmente erradas.
Atropelos planaltinos
O problema real é menos de forma e muito mais de substância. Esses atropelos planaltinos vão ferir de morte a causa da comunicação pública no Brasil. Fui presidente da extinta Radiobrás entre 2 de janeiro de 2003 e 20 de abril de 2007. A partir da carcaça da antiga estatal procurei construir uma prática jornalística minimamente apartidária. Meu trabalho talvez tenha contribuído um pouco para uma discreta mudança de cultura, não mais que isso. Depois da minha saída vieram alterações estatutárias positivas, mas insuficientes. Com a criação da EBC o diretor-presidente ganhou um mandato de quatro anos – o que não existia na Radiobrás –, mas o poder dentro da empresa foi mantido nas mãos do Conselho de Administração, diretamente controlado pela Presidência da República e por uns poucos ministérios centrais.
Resultado: a EBC, como a velha Radiobrás, não tem autonomia editorial, política e administrativa (nisso, é mais atrasada que a Fundação Padre Anchieta). Para piorar as coisas, é vinculada à Presidência da República, que manda e desmanda lá dentro. O certo teria sido vinculá-la ao Ministério da Cultura e dotá-la de um conselho independente (com representantes da sociedade civil), encarregado de eleger o diretor-presidente (hoje nomeado pelo presidente da República, claro).
Foi assim que a EBC ficou aquém do que a democracia espera dela. É um monstrengo estatal-governista, embora tenha uma lei capenga a protegê-la. Em vista dessa lei, a exoneração de seu diretor-presidente foi um erro formal, um sinal (involuntário, espera-se) de descaso com a liturgia estabelecida em ato jurídico perfeito.
Há notícias de que o Planalto se deu conta do deslize e estaria preparando uma medida provisória para dar legalidade (provisória) à exoneração. Se for mesmo nesse rumo, vai agravar o retrocesso. A República certamente não precisa de uma estatal desse tamanho para edulcorar a imagem de quem governa, mas a sociedade brasileira precisa de uma boa instituição de comunicação pública, independente, plural, arrojada e altiva. O PT não teve a grandeza para criá-la. O poder que aí está parece não ter a consciência.
***
Eugênio Bucci é jornalista e professor da ECA-USP




O golpe das elites derrotará o Sertão nordestino?

160530-Cisterna

Fome, sede, migração e mortalidade infantil foram superadas com mobilização social, Bolsa Família, cisternas e infra-estrutura. Mas retrocessos ameaçam reconduzir ao ponto de miséria
Por Roberto Malvezzi (Gogó) no Outras Palavras
Vários retrocessos vieram junto com o governo interino desde o primeiro dia. Um ministério do tempo do Brasil Império – só homens de bens e brancos, sem negros, mulheres e indígenas –, o anúncio do corte na saúde, na educação, encolhimento do SUS, desvinculação do salário dos aposentados em relação ao salário mínimo, eliminação do MinC, daí prá frente.
Dentre esses retrocessos os que mais impactam o Semiárido estão o da educação, saúde e a desvinculação do salário mínimo, do qual dependem aproximadamente 100 milhões de brasileiros.
Porém, há retrocessos que o Brasil em geral não vê, a não ser nós que moramos por aqui, na busca de vida melhor para a população nordestina que sempre esteve à margem dos avanços brasileiros.
O paradigma da “convivência com o Semiárido” ganhou carne com o programa “Um Milhão de Cisternas” (P1MC) e o “Programa Uma Terra e Duas Águas” (P1+2), da ASA (Articulação do Semiárido). O primeiro visando a captação da água de chuva para beber e o segundo, para produzir.
Em aproximadamente 15 anos, um milhão de famílias receberam a cisterna para beber e cerca de 160 mil famílias, uma segunda tecnologia para produzir. É lindo, até emocionante, quando em plena seca vemos espaços tomados de verde com hortaliças ao redor de uma cisterna de produção. Essas tecnologias ainda teriam que ser replicadas ao milhões para garantir a água para beber e produzir, ofertada gratuitamente pelo ciclo das chuvas.
Junto com esses programas, veio a expansão da infraestrutura social da energia, adutoras simples, telefonia, internet, melhoria nas habitações rurais, estradas etc.
A valorização do salário mínimo e o Bolsa Família injetaram dinheiro vivo nos pequenos municípios, movimentando o comércio local, o maior beneficiário desses programas.
Houve também contradições profundas, como a opção pela mega obra da Transposição de Águas do São Francisco, ao contrário de adutoras simples, e a implantação das cisternas de plástico por Dilma no seu último governo. Além do mais, ela estava encerrando o programa de cisternas para beber, alegando que já tinha atingido o número de famílias necessitadas.
Detalhe: o ministro para o qual ela liberou as cisternas de plástico orientou o filho a votar pelo impeachment na Câmara dos Deputados e é agora o ministro das Minas e Energia.
Mas esse avanço pressupôs a organização da sociedade civil articulada na ASA e a chegada ao poder de governos estaduais menos coronelísticos e corruptos. Sobretudo, supôs o apoio do governo federal a esses programas da sociedade civil.
Acabou. Se perguntarem ao atual presidente onde fica o Semiárido Brasileiro, é provável que ele diga que fica no Marrocos. Como não tem base na região, vai entrar pelas mãos dos velhos coronéis ou de seus descendentes.
Não é possível destruir a infraestrutura construída. Ela tornou o Semiárido melhor, sem fome, sem sede, sem migrações, sem mortalidade infantil. Mas, há muito ainda a ser construído para não haver mais retorno ao ponto da miséria. Uma das ações é a geração de energia solar de forma descentralizada, a partir das casas. Dilma não quis dar esse passo.
Os velhos problemas poderão voltar? No que depender das políticas públicas federais, sem dúvida nenhuma. Quem está no poder não enxerga o Semiárido.
Tempos estranhos, quando setores da sociedade brasileira preferem retroceder aos tempos da miséria total e parte da população se alegra com esses retrocessos.

Às pressas e na tentativa de ser às escondidas, dois golpistas se encontram sábado à noite.... E depois de descoberto, a mídia amestrada e igualmente golpista tenta justificar...

Imagina... Tudo normal.... Um Juiz conhecido por sua "imparcialidade" e "falta de militância direitista" e um réu (citado na Lava Jato e no TSE) se encontrarem sem avisar o mundo na noite de um sábado.... Tudo legal, sem suspeita alguma...


Segue vídeo para reflexões....


Para a oposição, Gilmar tratou com Temer de temas ligados à Lava Jato, uma vez que preside a turma que irá avaliar os processos contra políticos envolvidos no caso. Até porque o orçamento do TSE poderia ser discutido num dia útil, dentro da agenda oficial de Temer ou de Gilmar.

Links
http://www.valor.com.br/politica/4579...

http://www.tse.jus.br/imprensa/notici...

http://politica.estadao.com.br/notici...

http://g1.globo.com/politica/noticia/...

http://ultimosegundo.ig.com.br/politi...

http://g1.globo.com/politica/operacao...

http://www.parana-online.com.br/edito...

http://www.riograndedonorte.net/a-sub...

http://politica.estadao.com.br/notici...

http://www.brasil247.com/pt/247/brasi...

http://www.ocafezinho.com/2016/05/29/...

http://www1.folha.uol.com.br/poder/20...

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Xadrez do PMDB jogado ao mar, por Luis Nassif seguido do comentário-artigo Narrativa quebrada de um Golpe em andamento, de Onkoto

"Mesmo com a perda de dimensão eleitoral, por falta de alternativas o PSDB se manteve o partido com melhores ligações com as estruturas máximas de poder: o poder econômico paulista, os grupos de mídia, o Judiciário e o Ministério Público (que, a partir da liberdade concedida pelos governos do PT, tornou-se poder de fato), além das relações internacionais.
O PMDB representa apenas poderes regionais e uma malta que emergiu do Brasil profundo no bojo das distorções criadas pelo sistema de coligações partidárias." - Luis Nassif
" (...) a estratégia aparente era pegar primeiramente o PT e alavancar a opinião pública, incluir o PP (muito corrompido e dentro da base do PT), remover/afastar a Presidente Dilma. Em segundo momento, minar o PMDB, este ainda mais sujo que o PP, e facilmente derrubado. (acho que eles todos não contavam com tanta incompetência dos caciques pmdbistas). Depois... aqui acho que eles se dividem, com parte querendo avançar sobre o PSDB e limpar tudo, e outra parte blindando estes. Mas como a história ainda está em andamento, nao dá pra escrever o que não aconteceu." Onkoto

Luis Nassif.- Primeiro, alguns flashes da estrutura de poder no país e de suas derivações para o jogo político-partidário.
Desde a redemocratização, apenas dois partidos se tornaram alternativas efetivas de poder, o PSDB e o PT. Os demais – PFL/DEM e PMDB – sempre se comportaram como partidos secundários que ajudavam a construir a base parlamentar de apoio ao governo.
Mesmo com a perda de dimensão eleitoral, por falta de alternativas o PSDB se manteve o partido com melhores ligações com as estruturas máximas de poder: o poder econômico paulista, os grupos de mídia, o Judiciário e o Ministério Público (que, a partir da liberdade concedida pelos governos do PT, tornou-se poder de fato), além das relações internacionais.
O PMDB representa apenas poderes regionais e uma malta que emergiu do Brasil profundo no bojo das distorções criadas pelo sistema de coligações partidárias.
Quando se menciona um Alto Comando do processo do impeachment, pensa-se necessariamente em setores do PSDB ligados a FHC-Serra, na Procuradoria Geral da República, na Globo e em parte do Supremo Tribunal Federal (STF) influenciado por Gilmar Mendes.
Este é o eixo central.
Entendido esse ponto, ganham lógica informações aparentemente contraditórias – como a continuação dos vazamentos e as ameaças da Lava Jato sobre personagens que tiveram papel ativo na derrubada de Dilma, além da defenestração de Aécio Neves.
A Lava Jato não vai parar. Ou melhor, só irá parar quando bater no centro de poder do PSDB.
Entra-se agora na segunda fase do jogo, que consiste em impedir a volta de Dilma e, ao mesmo tempo, jogar ao mar as lideranças do PMDB que participaram do golpe.

Os fatores condicionantes do jogo político

Primeiro, vamos a um balanço dos fatores que condicionarão os cenários políticos:
Fator 1 - Derretimento da legitimidade do governo interino.
A cada dia que passa mais se amplia a perda de legitimidade. Longe de refletir a inexperiência inicial de um governo novo, a sucessão de desastres políticos mostra a prepotência de uma horda de bárbaros que ainda não entendeu o tamanho do país.
Fator 2 - O derretimento da banda peemedebista do grupo de poder.
Parte relevante do desgaste se deve aos Ministros suspeitos do governo interino. Sem fatos novos, não haverá como o governo interino conviver com a narrativa cada vez mais sólida de que o golpe visou blindar o grupo de poder. O fato das investigações estarem centradas nessa banda apenas é elemento central do nosso cenário final.
Fator 3 - Dificuldades no Legislativo com a base política heterogênea.
Como resultado da não conquista da credibilidade, haverá dificuldades de monta em aprovar o pacote de maldades planejado pelo Ministro da Fazenda Henrique Meirelles. No início, parecia que as resistências seriam contra a mudança de regras na Previdência. Mais rapidamente do que o previsto, está caindo a ficha do Congresso sobre os impactos da desvinculação orçamentária sobre saúde e educação.
A retirada dos subsídios para as faixas de baixíssima renda do MCMV (Minha Casa Minha Vida) foi uma sinalização eloquente da falta de mínimo verniz político e social da área econômica do governo interino. Por dez mil réis escancaram a bocarra anti-social em cima do setor mais vulnerável da sociedade.
Fator 4 - A ofensiva seletiva da Lava Jato e da mídia, com o uso de gravações.
Está nítido que o pacto para conter a Lava Jato passa pelo Ministro Gilmar Mendes. Mas o leão não se contentou com a carne fresca dos petistas. O próximo prato será das lideranças peemedebistas e de parlamentares da base.
(Nos comentários, o leitor que assina Onkoto traz uma ótima análise para completar o entendimento sobre o momento)
Fator 5 - a inviabilização de Aécio Neves.
Aécio Neves nunca teve papel relevante junto ao Alto Comando. Faltavam-lhe fôlego, envergadura política, capacidade de análise e de formulação. Seu trunfo era o recall das eleições de 2014. As sucessivas menções em delações e a inacreditável blindagem penal garantida por Gilmar Mendes, na prática inviabilizaram sua candidatura pela exposição de seu passado político – mesmo que seja penalmente blindado. Tornou-se dispensável. Esse fato tem desdobramentos nas estratégias do Alto Comando, na medida em que deixa o PSDB sem candidato competitivo para novas eleições.
Fator 6 - a possibilidade de reversão do impeachment.
A imagem de Dilma Rousseff está passando pelo estágio do terceiro perdão. Trata-se de um fenômeno característico do mercado de opinião, a reavaliação dos ídolos caídos. No poder, o estilo seco de Dilma era lido como arrogância; apeada do poder por um golpe, passa a ser visto como altivez. Dilma ainda é beneficiada pela comparação com o esquema de poder que ascendeu. Mas não lhe garante a governabilidade, caso caia o impeachment.
As alternativas políticas
Os cenários abaixo não se baseiam em informações objetivas, mas em indícios e deduções. Logo, precisam ser relativizados.
No momento, vê-se duas estratégias políticas sendo esboçadas, ainda de forma embrionária.
Alternativa 1 - adiamento das eleições de 2018 e ampliação do golpe com o judiciário
Junte e consolide as seguintes informações que apareceram esparsamente na mídia.=

1. Reunião de Temer com o general Sérgio Etchegoyen, Gabinete de Relações Institucionais (GSI) e os três comandantes militares.

Até agora não foi dada uma explicação lógica para esse encontro. 

2. Entrevista do novo Ministro da Defesa desqualificando o Congresso e defendendo a Lava Jato até "as últimas consequências".

É a retórica que se enquadra nessa noção de golpe parlamentar com aval do judiciário (http://goo.gl/CZJd6w).
Na entrevista, Raul Jungman (PPS, partido auxiliar do PSDB) diz que “o Congresso chegou no fundo do poço”. O que explica um Ministro de um governo que diz depender desesperadamente do Congresso desancar dessa forma o parlamento?
No decorrer da entrevista, aparece uma lógica clara. Jungman enfatiza a posição legalista das Forças Armadas e diz que nada pode ser fora da Constituição.
Na sequência, define a Constituição de 1988 como "a Constituição do Ministério Público, das prerrogativas do Poder Judiciário e de um aumento inédito da autonomia da Polícia Federal em relação à política".
Diz que qualquer crise tem que passar pelo Congresso. Mas espera que a Lava Jato faça uma limpeza na casa para que a "parcela regeneradora" do Congresso ajude o presidente interino a tirar o país da crise.
Alguma dúvida? Sendo tudo feito dentro da lei, inclusive a inabilitação ou até prisão de Lula, caberá às Forças Armadas garantir a ordem e a Constituição.

3. Encontro noturno entre Gilmar Mendes e Michel Temer


Não há tema administrativo que justifique encontros noturnos, em fins de semana e fora do ambiente de trabalho e do regiustro na agenda, entre um presidente interino, provável réu de processos no STF, e um Ministro do Supremo que, nos últimos dias, empenhou-se em bloquear investigações da Lava Jato, justamente contra Aécio Neves.
Até agora, Gilmar tem sido o goleiro para impedir qualquer gol da Lava Jato que fuja do script por ele defendido.
Esse conjunto de evidências amplia a possibilidade de uma estratégia visando permitir ao PSDB assumir o governo Temer – pelo afastamento da banda do PMDB – e trabalhar pelo adiamento das eleições de 2018.
Ou - o que é mais provável - pela implantação do chamado semiparlamentarismo, como lembrou o comentarista PauloBr.

Alternativa 2 – eleições gerais

Em função do desastre inicial do governo Temer, das ousadias antissociais, do atrevimento em promover mudanças constitucionais sendo apenas interino, e da recuperação da popularidade de Dilma, há a possibilidade do impeachment ser derrubado na votação final do Senado.
O maior empecilho é a constatação de que Dilma poderá recobrar o cargo, mas é quase impossível que recobre as condições de governabilidade. Ela não tem interlocução mínima com nenhum dos centros de poder, nem com o STF, com o MPF, com setores empresariais e com o Congresso.
Dificilmente ela conseguiria produzir um cenário minimamente factível sobre o que seria seu governo, em caso de queda do impeachment.
A única maneira de derrotar o golpe seria levantar a bandeira das eleições gerais. Não se trata de desejo, proselitismo, mas de avaliação do cenário político e das possibilidades de Dilma.
Seria a maneira mais objetiva de desarmar o golpe e permitir uma retomada do jogo político, com a decisão voltando novamente para os eleitores, já que até o Supremo parece ter se esquecido do princípio básico da Constituição de que "todo poder emana do povo e em seu nome será exercido". 

Narrativa quebrada de um Golpe em andamento, por Onkoto

Comentário ao post "Xadrez do PMDB jogado ao mar"
Nassif,
repetindo alguem deste blog, voce precisa compilar estes textos do Xadrez e disponibilizar ao público, que nem no dossiê da Veja. Colocando os textos numa 'timeline' dará um excelente estudo.
Posso estar sendo pollyana, mas ainda acho que o objetivo subjacente a todo este movimento seja o de "limpar" a política partidária do Brasil. Explico.
Acredito que o movimento dos jovens turcos do MPF em Curitiba seja movido por um messianismo/sebastianismo de querer limpar do quadro poíitico nacional os maus politicos. E eles encontraram no PGR o mentor ideal. Me parece que os procuradores e o PGR, embora alinhados, tenham agendas distintas.
Veja o caso do garoto propaganda dos procuradores. Seu discurso, atitudes e ações demostram um claro objetivo de limpeza ética, e mais, ele acredita estar fazendo a coisa certa. Sende ele protestante, separo aqui dos (neo)evangélicos, de uma denominação caracterizada como protestantes-históricos, suas crenças e sua ética pessoais estão em sintonia com suas ações como agente público.
Já o PGR deve ter encontrado nesta turma os agentes perfeitos para a sua agenda pessoal, mas não concorda plenamente com a extensão da limpeza. Os procuradores pensam em limpar tudo, o PGR, não, ele tem já estabelecida claramente uma fronteira de atuação.
Pepe Escobar fala da cooperação da inteligência americana neste processo, e afirma que apenas pelo doleiro Youssef não se teria chegado a Petrobras. A cooperação americana tem dois vetores, um o PGR e outro o juiz Moro. É muita informação qualificada que possa ter sido obtida pela PF do Paraná, ou mesmo do Brasil inteiro. 
A PF entra porque não temos outra agência para coletar informações, investigar e prender. Ela veio a reboque de tudo isso, e é tão incompetente que não consegue sequer espionar seus próprios colegas num processo de eleição interna. Seus dispositivos de escuta, ou bugs, são tão precários que uns encontram as pegadas dos outros DPFs. Com a aparente melhora na obtenção de informação, eles certamente receberam dispositivos melhores e/ou informações coletadas lá fora.
Por que a PFPR? Eles sempre foram anti-PT, talvez devido ao caso Banestado acobertado por todos atores políticos comeco dos anos 2000, e que frustou este pessoal em particular, e o resto da PF de maneira mais geral e difusa.
Para fechar este quadro, a Lava Jato, temos a tríade MPF-PF-Moro. Aí entra o braco da Justiça para legalizar e reforcar as ações dos outros dois grupos. Nao fosse o arbítrio do juiz Moro, passando por cima da lei sempre que necessário, e não sendo repreendido pelas instâncias de controle, CNJ/MJ/STJ/STF, estas ações não teriam chegando ao ponto em que se encontram hoje. Basta lembrar que as investigações dos grampos internos na PRPF nunca deram em nada, foram contidas dentro da PF, nos órgãos de controle e na Justiç.
Por que a justica do PR e o Juiz Moro? Porque ele parece deslumbrado com o modelo americano de justica, tem admiração pelos EUA e tem participado de diversos cursos/seminários nos EUA. Ainda segundo Pepe Escobar, ele seria considerado um 'asset' pelos  EUA. Além do que, ele tem uma particular veneração pela operação Mani Puliti, que ele parece conhecer apenas pelos livros editados nos EUA e não tem um visão mais ampla dos aspectos sociais e políticos que esta operação provocou na Itália. Em terceiro lugar, por que ele foi o magistrado do inquérito Banestado. Todo seu trabalho na época não rendeu quase nada (se tinha alguma coisa, se perdeu no acobertamento), levou a condenação quase simbólica do delator Youssef (olha ele de novo) e deve ter produzido uma baita frustação. Pode ter sido o vetor inicial da operação, recebendo informações privilegiadas dos EUA e re-encontrado o mesmo procurador do passado. Só que agora existe um procurador mais atuante, independente do passado e com um fervor quase messiânico. Não podemos esquecer que o procurador original, e que agora ficou em segundo plano, agiu em interesse próprio no caso Banestado, provocou rusgas com a PF, e protagonizou um mini-escândalo em Nova Iorque.
Por isso tudo, acredito em três vetores distintos, com agendas próprias, que se somam (vetorialmente) na operação LJ. Até quando estarão juntos? Boa pergunta. Veja que já aconteceu algumas rusgas entre eles três. O pessoal do PR, juiz e MP, sabem muito bem das falcatruas passadas dos outros partidos além do PT, e eu pollyanamente acredito que eles querem acabar com todos eles. E também acredito que o PGR assim deseja, mas até um certo limite que preserve parte do PSDB. Os outros? que sejam lançados ao mar.
O que se pode esperar? 1) qual o limite a ser imposto pelo PGR? Curitiba vai se contentar com esta limitação? até quando o grupo MPPR (eles não se destacam muito individualmente) vai suportar o ego do juiz? E a PFPR, com seus DPFs e mini-egos corporativos?
Fechando (caramba, ficou longo o post), a estratégia aparente era pegar primeiramente o PT e alavancar a opinião pública, incluir o PP (muito corrompido e dentro da base do PT), remover/afastar a Presidente Dilma. Em segundo momento, minar o PMDB, este ainda mais sujo que o PP, e facilmente derrubado. (acho que eles todos não contavam com tanta incompetência dos caciques pmdbistas). Depois... aqui acho que eles se dividem, com parte querendo avançar sobre o PSDB e limpar tudo, e outra parte blindando estes. Mas como a história ainda está em andamento, nao dá pra escrever o que não aconteceu.