quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A Midiática Cruzada contra a Corrupção, tal como efetuada, pode conter corrupção na sua origem



Quem é contra a corrupção?

Armando Boito Jr. Professor da Unicamp
As motivações e os objetivos das campanhas contra a corrupção que nos últimos anos têm sido a bandeira de guerra do PSDB e da grande imprensa são vários e nenhum deles é nobre.

O motivo mais óbvio é obter o desgaste político e eleitoral dos governos do PT. Mas, a coisa não para por aí.

Para entender melhor tais campanhas é preciso fazer uma espécie de sociologia política do discurso e da prática das cruzadas contra a corrupção, tratá-los como um fenômeno ideológico que deforma de maneira interessada a realidade política — o que não significa que o faça de modo consciente.

Temos de seguir algumas pistas e a primeira delas é a seletividade da indignação moral tucana: nem toda corrupção é denunciada e combatida. Essa seletividade opera com dois filtros.

Moral e interesses

O primeiro filtro, e o mais óbvio, consiste em denunciar apenas e tão-somente os casos de corrupção que envolvem os partidos adversários, principalmente o PT.

A corrupção tucana é varrida por esses campeões da moralidade pública para debaixo do tapete. Esse comportamento nos obriga a descartar, de saída, toda e qualquer motivação ética na ação tucana, se entendermos a ética, tal qual eles próprios propalam, como um conjunto de valores morais imperativos desvinculados de interesses materiais “menores”.

Não é verdade, portanto, que os tucanos sejam contra a corrupção.

O segundo filtro, esse raramente notado, consiste em denunciar os casos de corrupção que envolvem empresas, instituições e lideranças que desempenham um papel importante na política neodesenvolmentista dos governos do PT.

Não se trata apenas de desgastar o PT para vencer eleições. Trata-se, na verdade, de eleger como alvo as instituições que têm sido um instrumento importante da política econômica e social dos governos do PT.

De fato, a julgar pelos casos rumorosos de corrupção investigados com sanha que atropela o próprio direito — como ficou patente no julgamento da Ação Penal 470 pelo STF — e divulgados com persistência e detalhes inauditos pela grande imprensa, instituições como o Banco Central, onde imperam os interesses do grande capital financeiro, seriam verdadeiras vestais do Estado brasileiro, a despeito das relações incestuosas das sucessivas diretorias do BC com as diretorias de instituições financeiras privadas, enquanto a Petrobrás, instrumento central da política neodesenvolvimentista, seria um antro de larápios.

A oposição tucana, como todos sabem, manifesta-se, há tempo, na voz de seus mais autorizados dirigentes, contra o regime de partilha na exploração do petróleo e contra a legislação que obriga a presença da estatal em todos os poços em exploração.

Os tucanos querem abrir mais a exploração ao capital estrangeiro.

Outro resultado muito apreciado pelo PSDB de um eventual recuo na posição da Petrobrás na exploração do petróleo seria o fato de que a redução dos investimentos produtivos da petroleira brasileira liberaria mais capital para a distribuição de dividendos aos acionistas privados da Petrobrás.

Em reportagens do jornal Valor Econômico, as vozes das finanças têm deixado clara sua insatisfação com o programa “muito ambicioso” de investimentos (produtivos) da Petrobrás que desviam a receita da empresa da nobre tarefa de encher o bolso dos acionistas privados.

As finanças preferem o modelo tucano de gestão da Sabesp: farto na distribuição de dividendos aos acionistas privados e minimalista no investimento para captação, conservação, tratamento e uso racional da água.

Ademais, os tucanos têm se manifestado, e de modo insistente, contra a política de conteúdo local nas compras da petroleira brasileira.

A Petrobrás tem a obrigação de adquirir e contratar 65% dos produtos e serviços junto a empresas locais. Essa política praticamente ressuscitou a indústria naval brasileira. Fernando Henrique Cardoso jogara a indústria naval na lona.

Após uma sucessão de medidas de abertura comercial, restrição de financiamento e outras, Cardoso entregou o governo com o setor naval empregando diretamente apenas 4.000 trabalhadores.

Hoje, os antigos estaleiros brasileiros foram recuperados, criaram-se estaleiros novos, e o setor oferece 80.000 postos de trabalho.

A política de conteúdo local incomoda muito o PSDB, esse procurador dos interesses do capital estrangeiro e das empresas brasileiras integradas esse capital.

Seus economistas mais credenciados contam-nos a seguinte fábula. O objetivo declarado da política de conteúdo local é estimular a produção brasileira de navios, plataformas, sondas, equipamentos, serviços de engenharia etc.

Contudo, dizem-nos, o efeito obtido será, num futuro próximo, o contrário do desejado.

Com a proteção da produção brasileira no sistema de compras da Petrobrás, as empresas ficam a salvo da concorrência internacional, perdem o estímulo para inovar e, no médio prazo, tornam-se obsoletas, sendo levadas ao declínio econômico.

Que felicidade descobrir que a corrupção contaminara justamente o sistema de compras da Petrobrás, isto é, a política de conteúdo local!

Os tucanos e a grande imprensa estão, agora, na fase mais importante da operação política que se assenhorou da Operação Lava a Jato.

Reportagens e editoriais dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo já estão propondo como solução para a “crise de Petrobrás” o fim do regime de partilha, o fim da política de conteúdo local e até a completa privatização da estatal.

Com a Petrobrás exangue em decorrência da “campanha contra a corrupção”, as petroleiras estrangeiras poderão voltar a reinar e a indústria naval da Ásia, Europa e Estados Unidos voltará a ter livre acesso ao mercado brasileiro.

No segmento da construção pesada, o capital europeu almeja um objetivo semelhante.

Em reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo, a Comissária de Comércio da União Europeia, Cecilia Malmstrom, após rápidas considerações de ordem moral criticando a corrupção no mercado brasileiro de obras públicas, afirmou que a União Europeia exige, para fechar um acordo de comércio com o Mercosul, maior abertura às empresas europeias no processo de contratação de obras públicas.

A Comissária Cecilia Malomstrom nada disse sobre as empresas europeias Siemens e Alstom que são rés confessas em processo que apura a prática de corrupção no sistema de trens e no metrô de São Paulo sob governos tucanos.

O que importa mesmo é que em 2013 o mercado de obras públicas no Brasil movimentou mais do que movimentaram os mercados da Índia e da Argentina somados.

Se o judiciário declarar inidôneas as grandes empreiteiras brasileiras, impedindo sua participação na contratação de obras públicas, seja qual for o sentimento ou a ideia que anime procuradores e juízes que vierem a concorrer para essa decisão, a Comissária Cecilia Malomstrom lhes será grata.

A Petrobrás é um instrumento chave do neodesenvolvimentismo. Ela é uma empresa estatal gigante que dá ao Estado capacidade para fazer política industrial e de crescimento.

Em torno dela, giram a indústria da construção naval, a construção pesada e outros segmentos importantes da burguesia interna brasileira.

O PSDB, como representante do capital internacional e da burguesia a ele integrada, não escolheu a Petrobrás como alvo por acaso.

Seguindo essa linha de raciocínio, uma hipótese plausível é que, depois da Petrobrás, chegará a vez do BNDES.

Política e ideologia

Se o que desejam o capital internacional, as empresas brasileiras a ele integradas, o PSDB e a grande imprensa é a destruição de um instrumento chave da política neodesenvolvimentista, porque, então, não vão direto ao assunto? Por que o longo desvio da “luta contra a corrupção”?

Porque os tucanos estão às voltas com a dificuldade — típica das forças políticas que representam interesses minoritários — que consiste em ter de obter apoio popular para bandeiras impopulares.

Eles são obrigados a esconder seus verdadeiros objetivos e a agitar o programa retórico da ética na política para poder obter um mínimo de aceitação.

Não é uma tarefa fácil convencer a massa da população de que o melhor a se fazer seria abrir mão do controle nacional sobre a riqueza do pré-sal, reduzir a receita da Petrobrás, desidratar o Fundo Social da Educação e da Saúde proveniente da exploração do pré-sal e cortar emprego na construção naval.

Para chegar a esses objetivos impopulares são obrigados a escondê-los, a dar voltas, animando a cruzada contra a corrupção.

A favor dos tucanos só podemos dizer uma coisa. No geral, eles não fazem isso apenas com o cinismo. É certo que mentem conscientemente em público e urdem intrigas nos bastidores. Porém, fazem isso no varejo.

No atacado, eles “acreditam crer” nos grandes princípios que alardeiam e se deixam iludir pelos personagens aos quais dão vida na cena pública — o político ético, o gestor competente, o condottiere da mudança e outros.

O fato é que os tucanos lograram confiscar a justa indignação popular com os criminosos de colarinho branco para atingir um objetivo que não interessa aos setores populares, mas, sim, ao grande capital financeiro internacional e a seus aliados internos.

Para uma análise segura desse caso da Petrobrás seria preciso estar de posse de muitas informações que não temos.

Dentro de alguns anos, talvez venhamos saber com segurança como é que foi tomada a decisão de se iniciar a operação que a Política Federal e a grande imprensa denominam “Lava Jato” (sic). Na falta de informações, podemos fazer algumas conjecturas.

Algo que não deve ser descartado é a ideia de que tenha ocorrido uma conspiração orientada por um centro — a crítica à teoria da conspiração não deve nos levar a negar a ideia de que há conspirações na história.

Por exemplo, um lobby das petroleiras ou da indústria naval estrangeira obteve apoio de embaixadas estrangeiras no Brasil para, em festas regadas a champanhe na capital federal, soprar nos ouvidos de procuradores do Ministério Público, de juízes ou de delegados da Política Federal a ideia de criar a operação “Lava Jato” (sic).

Podem ter oferecido também algum estímulo material para convencer esses ilibados senhores da importância da empreitada. A cruzada contra a corrupção pode conter na sua origem a própria corrupção

Outra possibilidade é que a operação tenha uma história mais complexa e tortuosa.

Altos funcionários do Estado, movidos pelo ódio de classe que os indivíduos pertencentes à classe média abastada nutrem pelos governos do PT, decidem desencadear a operação.

O trabalho entusiasma juízes, procuradores do Ministério Público e delegados da Política Federal, todos emulando Joaquim Barbosa.

A animação é tanto maior quando percebem o apoio amplo e firme que a operação recebe da grande imprensa — que age como representante do grande capital internacional e das empresas brasileiras e ele ligadas.

Ato contínuo, os tucanos vêm na operação a oportunidade de ganhar votos e ferir de morte um dos principais instrumentos da política neodesenvolvimentista do PT.

Terceira possibilidade, os dois caminhos anteriormente descritos misturam-se de forma complexa.

Conjecturas à parte, algumas coisas são certas. Primeiro, o PSDB não está preocupado, ao contrário do que afirmam seus dirigentes, com uma suposta “ética republicana”.

Tanto é assim, que condenam apenas seletivamente a corrupção.

Segundo, o objetivo oculto desse discurso opaco é, ao menos para as forças mais poderosas envolvidas na cruzada contra a corrupção, desregulamentar, abrir e privatizar ainda mais a economia brasileira.

Luta popular e corrupção

Dirigentes, parlamentares, ocupantes de cargos executivos do Partido dos Trabalhadores estão ou estiveram envolvidos com corrupção — aliás, isso não representa novidade na história dos partidos de tipo socialdemocrata.

O movimento democrático e popular não deve se calar diante desse fato; deve assumir, sem hesitação, a luta contra a corrupção. Mas, deve fazê-lo a seu modo.

Em primeiro lugar, ao contrário do que dizem os moralistas, a corrupção não é o único elemento a ser considerado na avaliação de um governo ou de um partido político.

O movimento popular não pode descartar a possibilidade de ter de garantir apoio a um partido que abriga corruptos — os moralistas da cruzada contra a corrupção também fazem esse tipo de cálculo, embora não o digam abertamente.

Em segundo lugar, o movimento popular deve saber que a corrupção é uma prática endêmica na sociedade capitalista em decorrência de elementos definidores do próprio capitalismo: a disputa econômica entre as empresas, a concentração da propriedade e da renda — concentração que pode ser convertida em influência política —, da concentração do poder político — que, por sua vez, pode ser convertida em vantagens econômicas — e em decorrência, também, do segredo que protege a burocracia de Estado.

Deve saber, portanto, que ao combater a corrupção combate por leis e instituições que a inibam, mas que não vão erradicá-la. A corrupção não decorre da mera desonestidade dos ocupantes de cargos públicos e dos diretores de empresas privadas.

Por último, deve ter claro que o discurso contra a corrupção e a política que ele estimula estão ligados a interesses de classe que, no caso dos interesses do capital internacional e do PSDB, permanecem ocultos.

O movimento popular tem interesse em que sejam investigados e punidos os crimes de colarinho branco praticados por funcionários da Petrobrás e por diretores de empresas.

Mas, não pode ignorar que o PSDB e a grande imprensa estão usando a cruzada contra a corrupção para suprimir leis e instituições que protegem a economia nacional e para inviabilizar o apoio crítico que o movimento popular tem dispensado ao Governo Dilma.

O declínio do voto popular em Dilma Rousseff na eleição de 2014 em São Paulo indica que o PSDB alcançou em parte esse objetivo.

É preciso tirar outras lições desse caso. Ele evoca a luta por uma Constituinte exclusiva e soberana para reformar o sistema político.

A reforma política, oriunda dessa Constituinte, poderia, além de proibir a contribuição financeira de empresas a candidaturas, prever a organização de Conselhos Populares para supervisionar os processos de licitações e de compras públicas.

Armando Boito Jr., professor de Ciência Política da Unicamp
Fonte: Viomoundo

Armandinho e uma reflexão sobre a Passagem de Ano


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Os dizeres e desejos nada cristãos dos coxinhas na noite de Natal

Extraído do Blog do Sakamoto:



Leitores relatam terror e pânico na noite de Natal com a família


Leonardo Sakamoto


Recebi de leitores relatos de como foi a experiência da noite da véspera de Natal com parentes e amigos que aproveitaram a ceia para defender a volta da ditadura, a esterilização forçada dos mais pobres, o machismo institucionalizado, o racismo desvairado, o assassinato de usuários de drogas.
Ou seja, entre uma garfada no peru, uma colherada de farofa e um gole de espumante, enterrar o significado solidário da data.
Reuni algumas dessas mensagens, completando com informes que recebi de amigos, em tempo real, via WhatsApp (muitas listas de discussão se tornaram verdadeiros grupos de ajuda mútua para que fosse possível terminar a noite) e relatos na manhã de hoje. Como não pedi autorização para nenhum dos leitores, reproduzo sem citar os autores. Também peço desculpas porque tive que resumir algumas.
“Me ajuda. Parentes disseram que não existiu ditadura militar no Brasil. Que a ditadura matou apenas maconheiros vagabundos esquerdistas. Quero chorar.''
“Meu tio disse que jogou o carro em cima de um ciclista que andava pela ciclovia só para ele 'ficar esperto' na vida. Todos na mesa, tirando eu, riram.''
“Meu primo acaba de dizer que só volta pro Brasil de vez se passar a valer pena de morte para corrupto e para bandido. Eu disse que concordava se também valesse para sonegador de impostos. Tive que ouvir meia hora de reclamação da família inteira.''
“Tem um primo aqui em casa, da família do meu avô, que disse que vai passar a dizer que é gay só para ter mais direitos que os outros e ser defendido pelos direitos humanos. Muita gente da minha família riu mesmo sabendo que eu sou gay e que minha vida, por conta disso, é super difícil.''
“A besta do cunhado da minha irmã, que no Natal passado ficou em silêncio, não parou de contar piadas racistas a noite inteira. Mesmo com todo mundo constrangido, ele continuou.''
“Minha tia disse que o Bolsa Família deveria ser dado só para mulheres que aceitassem ligar as trompas. Pedi licença e saí da mesa.''
“Meu primo defendeu que pegasse todos os usuários de drogas e passasse fogo. Retruquei que ele também gosta de um bom uísque. Foi aquele silêncio. Meu pai disse que era diferente, que álcool não mata ninguém e ainda tive que ouvir que era assim porque faço psicologia.''
“Saka, falaram mal de você por cinco minutos no jantar. Você tá mais presente na minha família que Deus kkkkkkk.''
“A frase da noite foi 'eu não sou preconceituoso, mas…' “.
“O cara passou o Natal reclamando de corrupção e, no final, chegou pra mim e perguntou se eu não conhecia alguém na Secretaria de Habitação porque ele está precisando resolver uns problemas.''
“O Brasil está quebrado, o filho dele tá se mudando para Miami…''
“Cara, eu não sabia mais o que fazer. Um bando de machistas em torno da mesa ficou falando de “feminazis'' pra cá, “feminazis'' para lá, minha tia, que é uma dondoca e acha que trabalhar é coisa de pobre, teve a coragem de dizer que mulher na política só faz besteira, que se for assim, melhor ficar em casa cuidando dos filhos!!! E ela fala isso com tanta naturalidade que até assusta!!! E minhas primas pequenas ouvindo isso!''
Alguns informaram que tentaram as sugestões do meu texto “Como sobreviver à família ultraconservadora na festa de Natal“. Uns obtiveram êxito, outros não. Desculpem, mas como 2014 foi o ano em que muitos desses espécimes saíram do armário (o que acho ótimo), ainda é cedo para que tenhamos um mínimo de acúmulo a fim de montar uma Teoria Comportamental do Trato Natalino com Dodóis que seja aplicável universalmente.
Em suma, durante muito tempo vai ser na base da tentativa e erro. Gastando litros de paciência, quilos de diálogo. E amando o semelhante mais do que a nós mesmos.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Depos da reaproximação Cuba-Estados Unidos, falta agora a Guerra Fria acabar no jormalismo do Brasil

Extraído do Observatório da Imprensa:


Falta a Guerra Fria acabar no jornalismo

Por Mário Magalhães em 19/12/2014 na edição 829
Reproduzido do blog do autor, 18/12/2014; título original “Agora, falta a Guerra Fria acabar no jornalismo”,


O restabelecimento de relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba, a despeito da permanência do bloqueio econômico, ainda que com o parafuso mais frouxo, merece mesmo os festejos dos povos separados geograficamente por escassas milhas náuticas e, por mais de meio século, por um oceano de desinteligências entre os seus governantes.
Os presidentes Barack Obama e Raúl Castro, ao menos nesse mês iluminado de dezembro de 2014, valem um copo de rum cubano ou de pinot noir californiano.
Se o camisa 10 da Casa Branca e o antigo guerrilheiro da Sierra Maestra conseguiram se entender, a distensão também poderia prosperar noutros fronts, o jornalismo incluído.
Conforme anotaram observadores, como o jornalista e escritor Fernando Morais, de algum modo a Guerra Fria enfim encontrou uma cova para ser sepultada – o confronto surreal das Coreias não conta, pois não parece coisa deste mundo.
No Brasil, o espírito permanente de gladiador ideológico e a paranoia da era das quizumbas entre Moscou e Washington resistem à passagem do tempo.
Como explicar o surto denuncista contra o suporte ao porto de Mariel, construído em Cuba e financiado com recursos brasileiros? Era uma evidente aposta na reincorporação plena da ilha ao mercado mundial, sobretudo nos negócios, ali do lado, com empresas de capital norte-americano. Em suma, uma típica iniciativa capitalista, que ontem [quarta, 17/12] se provou certeira.
“Nós” e “eles”
Mas por que tantas vozes do jornalismo foram tão estridentes contra a ação do Planalto?
Na grita geral, ecoava a intolerância da Guerra Fria – e o muro de Berlim foi derrubado há 25 anos.
No noticiário deflagrado a partir da tarde da quarta-feira sem futebol, o jornalismo brasileiro foi ostensivamente discreto ou silenciou sobre um episódio decisivo na relação conflituosa entre Cuba e EUA: a covarde e desastrada invasão organizada e comandada pela CIA em 1961, na Baía dos Porcos (ou Playa Girón, como a chamam os caribenhos).
Imagine se o serviço secreto cubano, dirigido por um ex-aluno da Columbia University, tivesse tramado e executado uma invasão maluca ao gigante ao norte. Alguém deixaria de mencionar na cobertura das novas de ontem?
Ou se agentes cubanos tivessem montado dezenas de planos para assassinar um presidente americano...
De novo, o espírito da Guerra Fria dominou, “eles'' e “nós'', seja lá quem sejam eles e quem sejamos nós.
Jornalismo tem de ser crítico, mas jornalismo, e não propaganda.
Já chega, né?
Leia também
Transparência, mas nem tanto – Luciano Martins Costa

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Jornalista Paulo Moreira Leite sobre a reaproximação EUA-CUBA: "Vê-se agora quem tinha razão"

O texto a seguir, de Paulo Moreira Leite, foi extraído do Plantão Brasil:





Enquanto "a postura do PSDB refletiu o conservadorismo de matriz norte-americana", pregando "um tratamento agressivo do governo de Raúl Castro", propondo "o isolamento forçado do regime", o governo Lula-Dilma adotou uma "postura em linha de continuidade com a escola diplomática civilizada, que prega o respeito à soberania dos povos como o princípio básico para a convivência pacífica entre países"; a análise é do jornalista Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; segundo ele, o reatamento anunciado ontem entre Estados Unidos e Cuba "tem uma utilidade suplementar no Brasil: coloca em seu devido lugar o anti-comunismo primitivo que fez uma grande aparição na última campanha presidencial"

Após o anúncio do reatamento de relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba, na tarde desta quarta-feira 17, o jornalista Paulo Moreira Leite escreve uma coluna em seu blog na qual analisa as posturas dos governos do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso – e também da campanha de Aécio Neves – e da gestão Lula-Dilma em relação ao assunto. "Vê-se agora quem estava com a razão", constata.

Apesar de seu caráter essencialmente risível, que a colocou de braço dado com os exilados de Miami, a postura do PSDB refletiu o conservadorismo de matriz norte-americana que tornou-se fonte recente de inspiração de largas fatias do partido. (...) Prega um tratamento agressivo do governo de Raúl Castro, fecha portas a toda negociação produtiva e propõe o isolamento forçado do regime, inclusive pela manutenção de um embargo odioso, na perspectiva de uma restauração da economia de mercado capaz de eliminar vestígios e conquistas da revolução.

Numa postura em linha de continuidade com a escola diplomática civilizada, que prega o respeito à soberania dos povos como o princípio básico para a convivência pacífica entre países, o governo Lula-Dilma fez a aposta inversa. Cansou de tomar porrada de sábios que dão plantão na TV. Vê-se agora quem estava com a razão — num debate que tem raízes em nosso passado político, também.

O colunista diz ainda que o reatamento entre os países governados pelos presidentes Barack Obama e Raúl Castro "tem uma utilidade suplementar no Brasil: coloca em seu devido lugar o anti-comunismo primitivo que fez uma grande aparição na última campanha presidencial".

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Comissão Nacional da Verdade - Relatório coloca imprensa Golpista diante do espelho

"Os três jornais de circulação nacional, que conduzem a agenda pública e ancoram os principais temas que circulam nas redes de comunicação, destacam o assunto em manchete e, em graus variados de sutileza, tratam de desencorajar o passo seguinte, que seria o processo de punição dos autores dos crimes de tortura, assassinato e desaparecimento de pessoas colocadas sob sua guarda.A leitura criteriosa de cada um deles revela que tanto o Globo quanto a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo prefeririam não ter que lidar com esse legado macabro."

Luciano Martins Costa

Segue importantes artigos de Luciano Martins Consta e Alberto Dines, retirados do Observatório da Imprensa:



COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE

Relatório coloca imprensa diante do espelho


Por Luciano Martins Costa em 11/12/2014 na edição 828

Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 11/12/14


A apresentação do relatório final da Comissão da Verdade, em solenidade oficial, marca o momento histórico em que as instituições brasileiras são colocadas diante da escolha entre consolidar a democracia ou manter ao relento os fantasmas da ditadura.O destino do documento não é tão importante quanto as responsabilidades que ele coloca diante da sociedade, num contexto em que uma parcela da população, ainda que mínima, se sente encorajada a pedir a volta do regime de exceção.

Os três jornais de circulação nacional, que conduzem a agenda pública e ancoram os principais temas que circulam nas redes de comunicação, destacam o assunto em manchete e, em graus variados de sutileza, tratam de desencorajar o passo seguinte, que seria o processo de punição dos autores dos crimes de tortura, assassinato e desaparecimento de pessoas colocadas sob sua guarda.A leitura criteriosa de cada um deles revela que tanto o Globo quanto a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo prefeririam não ter que lidar com esse legado macabro.

Mas a História, como se sabe, se desenrola em conjuntos de espirais e de cada uma delas se pode confrontar, periodicamente, tudo aquilo que não foi resolvido em seu devido tempo.Assim como a corrupção de hoje reflete a impunidade de antigas falcatruas, a vergonha que agora atinge algumas entidades do Estado, principalmente as Forças Armadas, é um reflexo da tentativa inútil de abafar sob o pó do tempo aquilo que não pode ficar oculto.

Os 377 criminosos apontados pela Comissão da Verdade representam não apenas o lado mais obscuro do regime deletério, mas também fazem lembrar aqueles que colaboraram ativamente, passivamente, ou na sombra da omissão, para que os crimes fossem cometidos com tanta naturalidade ao ponto de se transformarem em processos quase burocráticos na rotina do aparato de repressão.Ativa, passiva ou na sombra da omissão, a imprensa tem sua parcela de responsabilidade, e nas edições de quinta-feira (11/12) pode-se observar como cada uma das grandes empresas de mídia reage diante do espelho.

Encarando o passado

Dos três principais diários do País, o único que evita abordar o assunto em editorial é a Folha de S. Paulo – que preferiu citar em nota curta o trecho do documento que se refere ao apoio que parte da imprensa deu ao golpe militar em 1964.

Também há referência ao trecho em que o relatório acusa a empresa Folha da Manhã de haver financiado a Oban (Operação Bandeirantes, nome que se deu a um dos grupos do sistema repressivo) e de ter cedido veículos para suas ações.O texto reconhece que "em 1964, a Folha apoiou o golpe, como quase toda a grande imprensa", mas nega que o jornal tenha dado suporte financeiro ao sistema repressivo ou emprestado carros de sua frota para as ações ilegais.

Não era necessário haver um esquema oficial: pelo menos dois dos jornais do grupo eram dirigidos por policiais e empregavam agentes ligados ao sistema, que faziam jornada dupla, servindo ao jornalismo e ao aparato do Estado e circulavam à vontade a bordo das peruas pintadas de amarelo.

O Estado de S. Paulo e o Globo encaram em editoriais o passado que, confessadamente, prefeririam ver esquecido. O jornal paulista propõe uma forma estranha de resolver pendências históricas, ao dizer que a Lei da Anistia cobre todos os atos daqueles tempos: "Não se tratava de perdoar crimes, mas de deixá-los no passado, no âmbito da história", diz o texto.O Globo alinha as virtudes do relatório, principalmente o fato de iluminar os porões da repressão e ajudar a "manter viva a memória dos horrores da ditadura", mas também se manifesta contra o julgamento dos acusados.

De modo geral, o conjunto das reportagens e trechos do documento citado e comentado pelos três diários contribui para dar ao leitor uma ideia do que foram aqueles tempos de horror.

Destaque-se o texto em que o Globo reproduz depoimentos de vítimas que sobreviveram às sevícias, cuja leitura ajuda a entender a extensão daqueles crimes.Observe-se também que o título escolhido pela Folha para a reportagem principal distorce o sentido de justiça, propósito original da Comissão da Verdade: "Acerto de contas", diz o jornal.

A linguagem jornalística tem dessas sutilezas.

PANTEÃO DOS JORNALISTAS

Os caídos lutaram por liberdades que jamais desfrutaram


Por Alberto Dines em 09/12/2014 na edição 828


Não agravar tensões, desativar impasses, proteger a República, consolidar o Estado de Direito – estas devem ter sido as razões que levaram a imprensa a se comportar de forma tão comedida nas vésperas do Dia Internacional dos Direitos Humanos, quando a Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregar o relatório sobre as violências cometidas pela ditadura militar contra aqueles que a ela resistiram.

Sabiamente, o coordenador da CNV, Pedro Dallari, foi liberando informações de forma gradual de modo a evitar grandes comoções no dia da entrega do relatório à presidente Dilma Rousseff. A mídia não aproveitou – ou aproveitou pouco – o acervo de revelações e a mina de brutalidades. O sinal verde só foi aceso no fim de semana anterior. E como sempre acontece pode ser logo apagado. Para economizar energia e aliviar culpas.

O zelo da mídia em não provocar o ressentimento castrense tem algo de hipócrita: para preservar a governabilidade e evitar sacolejos institucionais, mais prudente seria encerrar definitivamente a disputa eleitoral e tirar de circulação as provocações sobre impeachments.

Para proteger a República nada mais eficaz do que manter os seus ritos, e para evitar a repetição das barbaridades nada melhor do que conhecê-las integralmente. A Anistia não foi pactuada como uma Lei do Silêncio; a busca da verdade – mesmo sem a complementação processual – foi a alternativa encontrada nos anos 1970 para apressar a redemocratização e evitar o revanchismo.

Histórias e memórias

Torturadores, estupradores, assassinos e seus mandantes certamente escaparão de castigos e penas por força do pacto que os perdoou antes mesmo de conhecida plenamente a extensão de seus crimes. Em compensação, deveriam carregar para sempre o relato dos horrores que praticaram. Esta parte do pacto é de responsabilidade da sociedade e daqueles que falam em seu nome. A imprensa calou durante 17 dos 21 anos de ditadura, agora precisa soltar a voz para nunca mais perdê-la.

Porém, se o for relato for brando, resignado, cerimonioso, e se a busca da verdade não encontrar uma reverberação equivalente às monstruosidades perpetradas, estaremos sendo duplamente furtados – perdemos o direito de julgar carrascos e de honrar suas vítimas.

A imprensa brasileira não aparece muito bem no filme sobre o golpe e a ditadura. Mas tem condições de reabilitar-se de alguma forma se a busca for perseverada e as verdades perenizadas com devoção.

Os 25 jornalistas caídos na luta contra a ditadura militar merecem a solidariedade dos companheiros. Merecem também a gratidão das entidades, empresas e corporações pelo supremo sacrifício de trocar suas vidas por liberdades que nunca haviam desfrutado.

O panteão aos jornalistas caídos não carece de bronze nem de mármores. Basta recuperar suas palavras, histórias e lembrar suas dignidades.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O homem merece a natureza que o sustenta?




Cantam ao longe. Anoitece.
Faz frio pensar na vida;
E a Natureza parece
Dizer, em voz comovida,
Que o Homem não a merece.


Carlos Queirós (1907–1949)

Aos coxinhas que querem ir para a Suécia após o "esclarecimento" do Globo Repórter

Os artigos seguintes foram extraídos do Globo.com/Época e do JornalGGN:


“Lula é uma das minhas maiores inspirações”

Ex-sindicalista, primeiro-ministro sueco aceita apelido de “Lula do Norte” e justifica gasto brasileiro de US$ 5,4 bilhões na compra de novos aviões de combate

do Época Negócios-Globo.com

 

 

O funcionário de uma metalúrgica que se torna sindicalista, vira líder de uma das principais centrais trabalhistas, ingressa na política e chega ao poder máximo do Executivo. O episódio aconteceu no Brasil, certo? Errado. Na gelada Suécia, Stefan Löfven, um soldador de 57 anos, passou por todas essas etapas para se tornar no final de setembro o primeiro-ministro do país pelo partido Social-Democrata – a esquerda local -, pondo fim a um período de preponderância de governos conservadores. Tanta história em comum faz com que Löfven seja normalmente apelidado de “Lula do Norte” na imprensa europeia. Alcunha, aliás, endossada por ele próprio: após várias visitas a São Bernardo do Campo (SP), berço do movimento sindical brasileiro, ele se transformou em admirador do ex-presidente brasileiro.

Os laços entre o Brasil e o país nórdico se estreitaram ainda mais em outubro, com a assinatura de um contrato da Força Aérea Brasileira (FAB) para a compra de 36 jatos de combate Gripen NG, fabricados pela sueca Saab. Com previsão de entrega a partir de 2019, pela bagatela de US$ 5,4 bilhões – sem contar a possibilidade de novos lotes serem encomendados –, é um dos maiores contratos fechado na área de defesa este ano em todo o mundo.  Löfven recebeu um grupo de jornalistas brasileiros de passagem pela capital Estocolmo para conhecer a fábrica da Saab na cidade de Linköping, de onde sairão os novos caças da FAB. Em seu escritório, para onde vai a pé todo dia – sua casa fica a poucas quadras de distância do prédio de onde despacha – o político falou sobre a proximidade com Lula, as negociações envolvendo o Gripen, as relações econÇomicas entre o Brasil e a Suécia e o reconhecimento histórico feito pelo governo local de que a Palestina é um país.

O senhor ligou para a presidente Dilma logo após a confirmação de que ela havia sido reeleita. Como foi a conversa?

Em primeiro lugar a cumprimentei pela vitória, claro. Como eu também fui eleito recentemente, acabei recebendo também os parabéns dela (risos). Eu nunca conheci Dilma Rousseff, mas me encontrei com o ex-presidente Lula várias vezes. Eu sugeri a ela que tivéssemos um encontro diplomático assim que fosse possível, como uma forma de trabalharmos para manter a boa relação que temos hoje.

Como o senhor viu o acordo entre o Brasil e a Saab para a compra dos caças?

Acho que foi um bom negócio para ambos os países. O Brasil tomou sua decisão soberana de nos procurar e dizer que precisava desse avião, que é muito bom, por sinal. Mas o acordo vai muito além das aeronaves. Ele inicia uma cooperação maior entre nossos países em ciência, em tecnologia, em educação e em comércio. Nós estamos nos aproximando desde 2009, quando o presidente Lula esteve aqui na Suécia e assinou uma série de acordos de cooperação conosco, inclusive na área de biocombustíveis. Então nós já temos muito em comum, e a parceria dos caças vai nos aproximar ainda mais. 

De que forma o senhor vê um país como o Brasil, com muitos problemas sociais, investindo na compra de armamentos?

Em primeiro lugar cabe dizer que o Brasil é um país democrático e que cabe a ele tomar suas próprias decisões sobre em que área ele deve investir. No entanto, de forma geral posso dizer que o ideal seria que não tivéssemos que ter nenhum tipo de forças armadas. Infelizmente a realidade não funciona assim. Nós mesmos estamos aumentando nossos gastos militares nos últimos anos por causa dos desdobramentos políticos que ocorrem Rússia, que é um país próximo ao nosso. Cabe ao Brasil decidir se ele também precisa fazer isso. No nosso acordo específico, vale a pena lembrar que há muito mais envolvido do que apenas a compra dos caças. Temos tecnologia, inovação e comércio que vão gerar novos empregos e novos produtos que irão parar no mercado civil em diferentes áreas.
Mas a União Europeia está contestando na Organização Mundial do Comércio alguns tipos de subsídios que o Brasil usa em suas transações. Isso pode interferir no negócio?
Não muda nada em nosso acordo. O espírito é diferente nessas duas situações e o que temos aqui é um acordo direto entre os países. As relações entre Brasil e Suécia não serão afetadas em nada por isso.


Modelo sueco é bom desde que fique bem longe do Brasil

 
 O GLOBO REPÓRTER E O BOM SUJEITO - O bom sujeito assiste o Globo Repórter sobre a Suécia e deita falação sobre o Brasil.

Sabe o sujeito que a Suécia é um dos países menos desiguais do mundo? Sabe que a diferença salarial entre um médico, um professor, um gari ou um engenheiro é mínima?

Sabe que lá os impostos sobre a renda, a herança e sobre o patrimônio são altíssimos? Sabe que lá a carga tributária é de 50 por cento do PIB enquanto aqui é de 35 por cento do PIB?

O sujeito (ou os sujeitos) ama a Suécia, a Noruega, a Finlândia e a Dinamarca, idolatra o modo de vida da Escandinávia mas, quando o papo é sobre o Brasil, aí tudo muda de figura.

Experimentem sugerir aos amantes da Suécia que se implante no Brasil um sistema tributário direto e progressivo sobre a renda, a herança e o patrimônio...
Experimentem sugerir aos amantes dos descendentes dos vikings que se aumente a carga tributária no Brasil para garantir a gratuidade da educação pública, da pré-escola até a graduação, como é na Suécia...

Experimentem dizer que a brutal desigualdade social ainda existente no Brasil deveria ser eliminada e em seu lugar deveríamos perseguir a quase igualdade social da Noruega...

Experimentem dizer para eles que os salários do gari e do doutor deveriam ter diferenças pequenas entre si...

Experimentem, experimentem!

A verdade é que estas pessoas, quando falam sobre o Brasil, são as primeiras a reclamar da 'alta carga tributária', da infernal legislação trabalhista, da pouca vergonha que foi incluir as domésticas na legislação trabalhista porque isto aumenta o 'custo Brasil', etc.

O que dizer do encantamento do sujeito quando viu que lá na Suécia a licença maternidade e paternidade é de 01 ano e 04 meses? O sujeito ficou maravilhado!

Agora, se alguém defender isto aqui na terra das palmeiras, o mesmo sujeito enlouquece dizendo que isto vai quebrar o país!

Defendem eles, na verdade, que o Brasil permaneça eternamente atrasado e desigual. Defendem a civilização desde que essa civilização aconteça lá fora, de preferência na Europa.

Se alguém propõe políticas públicas de aumento do salário mínimo, de combate às desigualdades sociais e regionais ou de aumento na tributação dos ricos, lá vai o nosso bom sujeito vociferar nas avenidas e nas redes sociais contra um tal de ''comuno-bolivarianismo'' que se quer instalar em Pindorama.

É que tudo isso na Suécia é muito chique e elegante, mas no Brasil, ao contrário, é 'comunismo'!
Arrematando, se dependêssemos dos bons sujeitos do Brasil, jamais chegaríamos a ser uma Suécia.